4 de junho de 2012

“À Espera de Turistas”


À Espera de Turistas

Da falta de perspectivas gerada pela globalização.
C&N
Cumprindo seu período de serviços comunitários - na Alemanha, os jovens podem optar entre serviço militar ou serviços comunitários, em diversas instalações, dentro e fora do país - Sven (Alexander Fehling) chega a Auschwitz, na Polônia, para trabalhar no Museu do Holocausto. Entre suas funções (manutenção e apoio a guias), acaba tendo que também tomar conta de Stanislaw (Ryszard Ronczewski), um velho e arrogante senhor polonês, sobrevivente do campo de extermínio, que vive ali nos alojamentos, incumbido de reparar velhas malas que ficam em exposição e vão se deteriorando com o tempo. Obviamente mal recebido pelos poloneses - um jovem alemão ‘de volta’ a Auschwitz -, Sven acaba conhecendo uma jovem guia local, Ania (Barbara Wysocka), e estes acabam se envolvendo na rotina cotidiana, à espera de turistas, como diz o título do filme.
Mais do que uma tentativa de expiação, ou um rito de passagem para o personagem principal, o filme trata da falta de perspectiva dos habitantes do local, relegados a trabalhar em uma única e obsoleta fábrica que, por obra da globalização mundial, acaba de ser adquirida por uma empresa alemã que passa a reestruturá-la, modernizando suas instalações e, com isso, gerando uma onda de desemprego e insatisfação nos funcionários. A fim de aplacar a opinião pública, resolvem prestar homenagens a Stanislaw que, neste caso sim, acaba funcionando como uma espécie de mea-culpa dos alemães que, apesar das boas intenções, não resulta em uma situação agradável para ninguém.
O mais interessante é que nem a própria população do local parece dar muita atenção ao horrendo passado do velho polonês, sendo que os mais jovens parecem nem se dão conta do que realmente ali aconteceu. Parece tudo saído de um muito longínquo e pouco confiável capítulo da história. A palestra de Stanislaw aos estagiários da fábrica ilustra bem esta situação.
Bom estudo do atual posicionamento sócio-econômico europeu - apesar da demora em chegar aqui, já que o filme é de 2007 - “À Espera de Turistas” ilustra os rumos da economia no continente sem se desligar do fator humano, num belo mosaico de personagens, de suas motivações, e de como sua interação vai sutilmente cicatrizando algumas velhas feridas, e construindo algumas belas perspectivas.
Não perca!
À Espera de Turistas (“Am Ende kommen Touristen - Alemanha - 2007 - 85’) Direção: Robert Thalheim
Com: Alexander Fehling, Ryszard Ronczewski, Barbara Wysocka, Piotr Rogucki e Rainer Sellien, entre outros.
Distribuição: Pandora Filmes

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