“Side Show”
‘Ousado e apaixonante, com empatia, paixão e
franqueza’. Ben Brantley - ‘NY
Times’.
C&N
Baseado nas vidas de Daisy e Violet Hilton, gêmeas que nasceram
unidas pelo quadril e tiveram uma carreira secundária no show
business, que explorava sua singularidade, “Side
Show” é
um
dos musicais mais inusitados e exagerados dos últimos tempos. Na
Broadway, a excitante encenação dirigida por Robert Longbottom é dispersa por
uma
atuação excessivamente emocional e pesada. Aqui você tem que lutar de frente
com
o exaustivo score de Bill Russell e Henry Krieger (compositor de “Dreamgirls”). O
libreto de Russell,
que foi um dos autores do engraçadíssimo show
off-Broadway “Pageant”, acompanha as irmãs
desde
quando elas se apaixonam por um par de promotores, alcançam a celebridade
junto
ao mainstream como
cantoras e dançarinas durante a
‘Depressão’, até se darem conta de que elas nunca encontrarão
casamento, nem felicidade. É uma história tocante, minada por baladas
dramaticamente histéricas e lacrimejantes, que insistem na solidão destas
aberrações de parque.
O
show, que estreou em outubro de
1997,
teve uma temporada de cem apresentações e acabou recebendo quatro
indicações ao Prêmio
Tony de 1998: Melhor
Musical, Melhor
Libreto, Melhores
Música
e Letras, e Alice
Ripley
e Emily Skinner receberam uma
indicação juntas de Melhor Atriz. Elas
realizavam o
show lado a lado, fazendo intrincados movimentos de dança. Embora parecesse
que
elas estivessem grudadas por alguma fita colante ou tivessem figurinos
especialmente feitos, elas simplesmente ficavam juntas, quadril a quadril,
deste
jeito conectadas o tempo todo.
Como podemos
conferir na gravação do ‘Original
Broadway Cast’ (Sony - 1997), Alice Ripley e Emily Skinner estão excelentes como
Daisy e Violet, soltando seus
trinados
de acordo com a demanda do score.
Jeff McCarty (“Urinetown”) e
Hugh Panaro (“O
Fantasma da Ópera”)
estão
bem como seus homens, Norm Lewis
(“Les Mis”) oferece vocais
poderosos
como um factótum que nutre um amor secreto por Violet, e Ken Jennings (“Sweeney Todd”) atinge notas
bem
sinistras como o assustador dono do parque.
O
score de Krieger é
melódico, mas cada número parece que nos leva a um finale, e as letras de Russel constantemente beiram o
ridículo. Mas a prova de fogo é o número
“Tunnel of Love”, no qual Daisy e Violet dão uma volta nesta diversão
do
parque junto com seus namorados, esperançosas em fazerem sexo no escurinho
do
túnel.
Por
outro lado há dois destaques que valem o CD.
‘Who Will
Love Me
As I Am?’, no final do primeiro ato, quando as garotas amadurecem
e
se questionam se ninguém nunca irá amá-las, é um deles. Elas sabem que são
diferentes e temem que as pessoas não as enxerguem além de seu lado freak, para amá-las como elas são.
Esta
canção acabou ganhando também outra conotação junto aos gays,
que
cresceram temerosos de acabarem sós.
O
outro destaque é ‘I Will Never Leave You’. No final do segundo ato as
gêmeas
foram traídas e ficam sozinhas no palco. Elas se confortam uma a outra com o
entendimento de que não importa o quanto a vida se torne difícil, elas
estarão
sempre lá uma pela outra. O arranjo vocal de David Chase é ótimo, porque ao
invés de
se cantar em harmonia pura (três notas distantes uma da outra), elas cantam
em
quartas. Foi esta canção que elas exibiram na cerimônia de entrega dos Tonys, em 1998.
Assista a
este vídeo da
apresentação e repare que elas cometem um
grande erro no comecinho. Na época em que o Tony foi apresentado, o show já
havia
sido fechado há meses, e deve ter sido muito emocionante para elas vestir os
figurinos novamente e cantar esta canção. Ao invés de cantarem propriamente
a
letra original do show, Alice
Ripley
cantou uma letra que surgiu muito mais tarde, mas acabou falando de seu
estado
de espírito, ‘I’m scared!’ (‘Estou assustada!’). Emily cobriu, e Alice logo voltou à letra certa.
Mas se
você reparar bem no início, você verá o pânico nas faces delas e é isso o
que
faz o teatro ao vivo excitante!
Com todos seus erros e acertos “Side Show” teve várias
produções regionais bem sucedidas em todos os
EUA, conquistando uma legião de seguidores, que o tornou um musical
cult.
Cláudio Erlichman
é
publicitário
e produtor
cultural.
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