29 de maio de 2012

“Side Show”


Side Show
Ousado e apaixonante, com empatia, paixão e franqueza’. Ben Brantley - NY Times’.
C&N
Baseado nas vidas de Daisy e Violet Hilton, gêmeas que nasceram unidas pelo quadril e tiveram uma carreira secundária no show business, que explorava sua singularidade, “Side Show” é um dos musicais mais inusitados e exagerados dos últimos tempos. Na Broadway, a excitante encenação dirigida por Robert Longbottom é dispersa por uma atuação excessivamente emocional e pesada. Aqui você tem que lutar de frente com o exaustivo score de Bill Russell e Henry Krieger (compositor de “Dreamgirls”). O libreto de Russell, que foi um dos autores do engraçadíssimo show off-BroadwayPageant”, acompanha as irmãs desde quando elas se apaixonam por um par de promotores, alcançam a celebridade junto ao mainstream como cantoras e dançarinas durante a ‘Depressão’, até se darem conta de que elas nunca encontrarão casamento, nem felicidade. É uma história tocante, minada por baladas dramaticamente histéricas e lacrimejantes, que insistem na solidão destas aberrações de parque.
O show, que estreou em outubro de 1997, teve uma temporada de cem apresentações e acabou recebendo quatro indicações ao Prêmio Tony de 1998: Melhor Musical, Melhor Libreto, Melhores Música e Letras, e Alice Ripley e Emily Skinner receberam uma indicação juntas de Melhor Atriz. Elas realizavam o show lado a lado, fazendo intrincados movimentos de dança. Embora parecesse que elas estivessem grudadas por alguma fita colante ou tivessem figurinos especialmente feitos, elas simplesmente ficavam juntas, quadril a quadril, deste jeito conectadas o tempo todo.
Como podemos conferir na gravação do ‘Original Broadway Cast’ (Sony - 1997), Alice Ripley e Emily Skinner estão excelentes como Daisy e Violet, soltando seus trinados de acordo com a demanda do score. Jeff McCarty (“Urinetown”) e Hugh Panaro (“O Fantasma da Ópera”) estão bem como seus homens, Norm Lewis (“Les Mis”) oferece vocais poderosos como um factótum que nutre um amor secreto por Violet, e Ken Jennings (“Sweeney Todd”) atinge notas bem sinistras como o assustador dono do parque.
O score de Krieger é melódico, mas cada número parece que nos leva a um finale, e as letras de Russel constantemente beiram o ridículo. Mas a prova de fogo é o número Tunnel of Love”, no qual Daisy e Violet dão uma volta nesta diversão do parque junto com seus namorados, esperançosas em fazerem sexo no escurinho do túnel.
Por outro lado há dois destaques que valem o CD. Who Will Love Me As I Am?’, no final do primeiro ato, quando as garotas amadurecem e se questionam se ninguém nunca irá amá-las, é um deles. Elas sabem que são diferentes e temem que as pessoas não as enxerguem além de seu lado freak, para amá-las como elas são. Esta canção acabou ganhando também outra conotação junto aos gays, que cresceram temerosos de acabarem sós.
O outro destaque é ‘I Will Never Leave You’. No final do segundo ato as gêmeas foram traídas e ficam sozinhas no palco. Elas se confortam uma a outra com o entendimento de que não importa o quanto a vida se torne difícil, elas estarão sempre lá uma pela outra. O arranjo vocal de David Chase é ótimo, porque ao invés de se cantar em harmonia pura (três notas distantes uma da outra), elas cantam em quartas. Foi esta canção que elas exibiram na cerimônia de entrega dos Tonys, em 1998. Assista a este vídeo da apresentação e repare que elas cometem um grande erro no comecinho. Na época em que o Tony foi apresentado, o show já havia sido fechado há meses, e deve ter sido muito emocionante para elas vestir os figurinos novamente e cantar esta canção. Ao invés de cantarem propriamente a letra original do show, Alice Ripley cantou uma letra que surgiu muito mais tarde, mas acabou falando de seu estado de espírito, ‘I’m scared!’ (‘Estou assustada!’). Emily cobriu, e Alice logo voltou à letra certa. Mas se você reparar bem no início, você verá o pânico nas faces delas e é isso o que faz o teatro ao vivo excitante!
Com todos seus erros e acertosSide Show” teve várias produções regionais bem sucedidas em todos os EUA, conquistando uma legião de seguidores, que o tornou um musical cult.
Cláudio Erlichman é publicitário e produtor cultural.

Nenhum comentário:

Postar um comentário