Bel Ami
Robert
Pattinson é o principal ator desta bela versão de um romance de Guy de
Maupassant
C&N
Acho já ter dito aqui mesmo que
a
celebridade pode ser um estigma. Para o bem e para o
mal. E se essa fama tem apoio na beleza física, a admiração de
um grande público acaba provocando certa ira e desprezo de
outros meios. Como a imprensa especializada. Caso dos galãs de
cinema, por exemplo. Tanto agora como em outros tempos,
dificilmente
eles obtinham respeitabilidade da crítica e prêmios por suas
atuações. Um
exemplo do passado é Rock Hudson. Revendo hoje as suas
atuações em maravilhosos melodramas de Douglas Sirk ou nas
deliciosas comédias com Doris Day, percebe-se como ele era
bom,
espontâneo.
Essa ausência de
percepção
está ocorrendo também com Robert Pattinson. Esse inglês de 27 anos
que,
no momento, usufruiu de imensa popularidade junto ao público jovem
or conta de sua presença
na Saga Crepúsculo, quando sai
dessa série e desse universo de vampiros, acaba experimentando
pouca
aceitação popular, não obstante estar na mídia por conta de seus
eventuais
relacionamentos na vida particular. A esse respeito é difícil notar a
sua
ausência nos sites e noticiários. Mas, quando oferece desempenhos
empenhados em filmes como Água
para
Elefantes e Poucas
Cinzas -
Salvador Dali, onde interpretou o famoso pintor espanhol, ele
se
vê em fracassos de bilheteria e sob comentários jocosos dos
que
exercem a crítica cinematográfica.
O mesmo se verificou em 2012
diante
de Bel Ami - O Sedutor
(Bel Ami), que agora chega ao DVD. Pattinson vive
George Duroy, um ex-soldado na Paris do século XIX.
Pobre e sem rumo, reencontra Charles Forestier (Philip
Glenister), um antigo colega de batalhas que, agora, é editor de
importante jornal que faz conchavos políticos. Com a sua
ajuda,
George é introduzido na alta sociedade e em pouco tempo, passa
a
ser cobiçado por algumas esposas de gente importante.
Amante de
três, os riscos do adultério tornam-se compatíveis com as possibilidades
de
ascensão. É nesse clima que uma menina, filha de uma das amantes,
Clotilde de Marelle (Christina Ricci), lhe coloca o apelido de
Bel Ami (tradução: belo amigo).
Esta é mais uma das inúmeras
adaptações para a tela do romance que Guy de Maupassant
(1850-1893) publicou em 1885. Até no Brasil, essa história
possibilitou duas versões para a televisão. A primeira, em
1954 com Henrique Martins no papel-título de uma encenação do
programa TV de Vanguarda, na TV Tupi. A segunda em
1972, na mesma emissora, sob a direção de Martins, tendo como
protagonista Adriano Reys, o ator de Paixão na Praia, o meu
primeiro
longa. Escritor que sabia oferecer realismo com certa psicologia e
fatalismo, o
francês Maupassant, nesta história, consegue realçar a atração
sexual como elemento de poder, de alpinismo individualista ao
extremo. E o primeiro longa da dupla Declan Donnelland e Nick
Ormerod, produzido com esmero e bem servido pela música de Rachel
Portman (de Emma,
que
lhe valeu um Oscar), reforça esse aspecto em uma narrativa
extremamente
sensual. É todo um clima em que os anseios da carne na mulher então
oprimida têm que se manifestar com dissimulação em um modo de vida
cínico, como cínico é o epílogo, estupendo.
O roteiro de Rachel Bennette
também deixa a mostra como já era importante naquela época ter
QI (quem indica) para conseguir cargos e
vantagens. Mesmo sem nenhuma experiência redacional,
George
vira editor do jornal. Hoje, esse comportamento protecionista ainda
existe. Pelo menos em nossos meios de comunicação (lembrem-se do caso
Pimenta,
em São Paulo). É verdade que o próprio Maupassant também
contou
com essa facilidade, usufruindo o afeto de dois grandes escritores da época:
Emile Zola e Gustave Flaubert.
Talvez, por esse registro do
poder
da influência na mídia, o filme não obteve boa acolhida entre alguns
críticos. E menos ainda a atuação de Robert Pattinson. Porém,
o
moço se sai bem, não perde uma reação nesse difícil equilíbrio
de
verdade e mentira que existe em George. E ele, quase sempre,
contracena com três ótimas atrizes que apõem diferentes
características às personagens. Uma Thurman (Madeleine Forestier)
transmite mais esperteza e é a mais charmosa do elenco.
Kristin
Scott-Thomas (Virginie Rousset) é a adúltera que tem nervos mais
frágeis. Ela responde por um dos melhores momentos de Bel Ami – O Sedutor, um
drama
erótico e romântico que empolga pela beleza e flui de
forma
bonita e envolvente, retratando com precisão o sufocante jogo de
interesses
e aparências que predominava em certa época. Predominava? Sim, porque hoje,
apesar de ainda existir tal comportamento, há vez para a verdade, a
espontaneidade. Ainda bem.
Alfredo Sternheim é
cineasta,
jornalista, professor
e
escritor.
Bel Ami – O
Sedutor (Bel Ami – Inglaterra/Itália
- 2011 - 102’) Direção: Declan Donnellan, Nick
Ormerod Com: Robert Pattinson,
Uma
Thurman, Kristin Scott Thomas, Christina Ricci, Philip Glenister, Colm
Meaney,
Holiday Grainger, Natalie Tena, entre outros.
DVD:
Menu interativo - Seleção de cenas Tela:
Widescreen 16:9 Áudio:
(5.1) Idioma:
inglês
Legenda: português e inglês
Distribuição: Califórnia Filmes
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