Mary
Martin, a mãe de J.R. Erwing
“Às vezes eu acho que eu trai
minha família e meus amigos mais próximos, dando ao
público
tanto do amor que eu poderia ter dado a eles. Mas essa é
a
forma como fui feita, eu
realmente
não acho que eu conseguiria
evitar”. - Mary
Martin
C&N
Na
última sexta-feira, 23 de novembro,
faleceu Larry Hagman, famoso por
seus papeis icônicos do simpático amo e Major Tony Nelson em Jeannie é um Gênio e o
inescrupuloso J.R. Ewing em Dallas. O que pouca gente sabe é
que
ele era filho de uma das lendas da Broadway, Mary Martin.
Mary
Martin foi uma das mais amadas
estrelas
da Broadway, brilhando e sendo adorada pelo seu público por quase quarenta
anos.
Ela nunca teve performances arrebatadoras como cantora ou foi uma força da
natureza como Ethel Merman, sua
contemporânea e única verdadeira rival para o título de deusa dos musicais,
porém ela superava Merman em
versatilidade, saltando facilmente de papéis – uma freira aqui, depois um
garoto
que não queria crescer, uma deusa romana acolá, daí uma enfermeira do
exército.
Não importa o papel que fizesse, ela sempre, sempre imbuía suas atuações com
sua própria e inefável marca de charme e timidez, humildade
texana, como se cada plateia de mil e duzentas pessoas tivesse surgido para
uma
festa surpresa de aniversário, para cada uma de suas oito apresentações por
semana, e ela só tivesse um show
para
realizar para eles. Seu estilo era intimista e às vezes dava a
impressão
de fragilidade, e sua voz doce, adorável, escorregadia como mel, mas de
qualquer
forma ela era uma grande intérprete.
Mary
Martin nasceu em 1º de dezembro de
1913 –
portanto, estaremos comemorando seu centenário no ano que vem – e
estreou
nos palcos aos cinco anos de idade. Embora ela seja mais lembrada por
seus papeis “para toda a família” e sua bondade jovial, ela
começou a carreira fazendo o gênero da mocinha sexy, sensual e
manhosa. Após sua performance, que a tornou uma estrela da noite para o dia,
de “My Heart Belongs to
Daddy”,
no
show Leave It to Me (1938) de Cole Porter, ela teve seu primeiro
papel principal em One Touch of
Venus (1943). Martin recusou uma quota de bons
papeis
(em Oklahoma!, Kiss, Me Kate, My
Fair Lady, Funny Girl e Mame), e teve sua parcela de
fracassos (Dancing in the Streets, Pacific 1860, de Nöel Coward, em Londres e Jeannie), mas quando ela
acertou,
meu Deus!, ela nos presenteou com Nellie Forbush
(em South Pacific, 1949), Peter Pan (1954)
e Maria Von Trapp
(em
A
Noviça Rebelde, 1959), qualquer um deles suficiente para garantir
seu
lugar como uma das maiores de todos os tempos.
Sua biografia
intitulou-se My Heart Belongs onde ela narra
que
a coisa mais fabulosa que aconteceu a ela no show business foi o papel da
enfermeira Nellie Forbush em seu
traje honney bun de
marinheiro, um ícone singular se toda a Broadway pudesse ser resumida em um
só.
Por este papel ela ganhou um Tony, e
outros dois por A Noviça Rebelde (assista aqui seu discurso
de
aceitação) e Peter
Pan.
Mary teve uma
participação importante no cinema. Ela foi contratada pela Paramount e fez filmes com Bing Crosby (Sinfonia Bárbara, 1941; O
Rei das Melodias, 1940), mas nunca pegou, nunca chegou a ser uma
estrela
das telas e isso foi um problema, porque Ethel Merman passaria pela mesma
situação, mas retornaria depois, com mais idade – em Deu a Louca no Mundo (1963), por
exemplo - mas não Mary. Na
TV
ela também seria presença constante ou como convidada de shows,
apresentadora do talk show Over Easy – pelo qual concorreu
a
dois Emmys, sendo atriz especialmente
convidada de séries como em O Barco do Amor (The Show
Boat), ou na recriação de musicais de sucesso para a telinha como Annie Get Your Gun
(1957) repetindo justamente o papel de Ethel Merman nos palcos. Mas seu
grande
sucesso para a televisão foi Peter Pan (1960), onde pelo
menos
duas gerações de crianças americanas se divertiram com suas reprises
natalinas anuais, tornando o musical numa lenda, já que não teve uma
carreira espetacular na Broadway. E teve ainda o famoso show de Mary e Ethel juntas que foi recorde de
audiência na época, o primeiro encontro profissional delas (ouça aqui).
Uma curiosidade
é
que Mary viveu no Brasil
por
algum tempo, já que era dona de fazendas em Goiás, mais precisamente em
Anápolis, com o marido e os amigos, a também estrela Janet Gaynor e o marido Adrian (o mais famoso figurinista
da Metro). Larry Hagman esteve várias vezes
por
aqui e manteve uma ligação com o Brasil, a que sempre elogiava.
Durante anos a
Disney anunciou que estaria sendo desenvolvido um projeto baseado na
adaptação
de Diary of a Mad Playwright, do
escritor James Kirkwood (autor
de A
Chorus Line), que conta as desventuras dele enquanto viajava com a
peça
Legend, na qual estavam duas das
mais difíceis megaestrelas da Broadway: Mary Martin e Carol Channing. Especulou-se na
época
que para interpretá-las outras duas rivais: Bette Midler e Barbra Streisand.
Mary Martin
faleceu um mês antes de completar 77
anos, em novembro de 1990, em seu rancho, na Califórnia. Um ano antes
ela
receberia um emocionante tributo do Kennedy Center
por
sua maravilhosa carreira.
Cláudio Erlichman
é
publicitário
e produtor
cultural.
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