26 de novembro de 2012

Bel Ami


Bel Ami

Robert Pattinson é o principal ator desta bela versão de um romance de Guy de Maupassant
C&N
Acho já ter dito aqui mesmo que a celebridade pode ser um estigma. Para o bem e para o mal. E se essa fama tem apoio na beleza física, a admiração de um grande público acaba provocando certa ira e desprezo de outros meios. Como a imprensa especializada. Caso dos galãs de cinema, por exemplo. Tanto agora como em outros tempos, dificilmente eles obtinham respeitabilidade da crítica e prêmios por suas atuações. Um exemplo do passado é Rock Hudson. Revendo hoje as suas atuações em maravilhosos melodramas de Douglas Sirk ou nas deliciosas comédias com Doris Day, percebe-se como ele era bom, espontâneo.
Essa ausência de percepção está ocorrendo também com Robert Pattinson. Esse inglês de 27 anos que, no momento, usufruiu de imensa popularidade junto ao público jovem
or conta de sua presença na Saga Crepúsculo, quando sai dessa série e desse universo de vampiros, acaba experimentando pouca aceitação popular, não obstante estar na mídia por conta de seus eventuais relacionamentos na vida particular. A esse respeito é difícil notar a sua ausência nos sites e noticiários. Mas, quando oferece desempenhos empenhados em filmes como Água para Elefantes e Poucas Cinzas - Salvador Dali, onde interpretou o famoso pintor espanhol, ele se vê em fracassos de bilheteria e sob comentários jocosos dos que exercem a crítica cinematográfica.
O mesmo se verificou em 2012 diante de Bel Ami - O Sedutor (Bel Ami), que agora chega ao DVD. Pattinson vive George Duroy, um ex-soldado na Paris do século XIX. Pobre e sem rumo, reencontra Charles Forestier (Philip Glenister), um antigo colega de batalhas que, agora, é editor de importante jornal que faz conchavos políticos. Com a sua ajuda, George é introduzido na alta sociedade e em pouco tempo, passa a ser cobiçado por algumas esposas de gente importante. Amante de três, os riscos do adultério tornam-se compatíveis com as possibilidades de ascensão. É nesse clima que uma menina, filha de uma das amantes, Clotilde de Marelle (Christina Ricci), lhe coloca o apelido de Bel Ami (tradução: belo amigo).
Esta é mais uma das inúmeras adaptações para a tela do romance que Guy de Maupassant (1850-1893) publicou em 1885. Até no Brasil, essa história possibilitou duas versões para a televisão. A primeira, em 1954 com Henrique Martins no papel-título de uma encenação do programa TV de Vanguarda, na TV Tupi. A segunda em 1972, na mesma emissora, sob a direção de Martins, tendo como protagonista Adriano Reys, o ator de Paixão na Praia, o meu primeiro longa. Escritor que sabia oferecer realismo com certa psicologia e fatalismo, o francês Maupassant, nesta história, consegue realçar a atração sexual como elemento de poder, de alpinismo individualista ao extremo. E o primeiro longa da dupla Declan Donnelland e Nick Ormerod, produzido com esmero e bem servido pela música de Rachel Portman (de Emma, que lhe valeu um Oscar), reforça esse aspecto em uma narrativa extremamente sensual. É todo um clima em que os anseios da carne na mulher então oprimida têm que se manifestar com dissimulação em um modo de vida cínico, como cínico é o epílogo, estupendo.
O roteiro de Rachel Bennette também deixa a mostra como já era importante naquela época ter QI (quem indica) para conseguir cargos e vantagens. Mesmo sem nenhuma experiência redacional, George vira editor do jornal. Hoje, esse comportamento protecionista ainda existe. Pelo menos em nossos meios de comunicação (lembrem-se do caso Pimenta, em São Paulo). É verdade que o próprio Maupassant também contou com essa facilidade, usufruindo o afeto de dois grandes escritores da época: Emile Zola e Gustave Flaubert.
Talvez, por esse registro do poder da influência na mídia, o filme não obteve boa acolhida entre alguns críticos. E menos ainda a atuação de Robert Pattinson. Porém, o moço se sai bem, não perde uma reação nesse difícil equilíbrio de verdade e mentira que existe em George. E ele, quase sempre, contracena com três ótimas atrizes que apõem diferentes características às personagens. Uma Thurman (Madeleine Forestier) transmite mais esperteza e é a mais charmosa do elenco. Kristin Scott-Thomas (Virginie Rousset) é a adúltera que tem nervos mais frágeis. Ela responde por um dos melhores momentos de Bel Ami – O Sedutor, um drama erótico e romântico que empolga pela beleza e flui de forma bonita e envolvente, retratando com precisão o sufocante jogo de interesses e aparências que predominava em certa época. Predominava? Sim, porque hoje, apesar de ainda existir tal comportamento, há vez para a verdade, a espontaneidade. Ainda bem.
Alfredo Sternheim é cineasta, jornalista, professor e escritor. 
Bel Ami – O Sedutor (Bel Ami – Inglaterra/Itália - 2011 - 102’) Direção: Declan Donnellan, Nick Ormerod Com: Robert Pattinson, Uma Thurman, Kristin Scott Thomas, Christina Ricci, Philip Glenister, Colm Meaney, Holiday Grainger, Natalie Tena, entre outros.
DVD: Menu interativo - Seleção de cenas Tela: Widescreen 16:9 Áudio: (5.1) Idioma: inglês Legenda: português e inglês
Distribuição: Califórnia Filmes

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