26 de novembro de 2012

“Crepúsculo dos Deuses”


Sabia que existe em Blu-ray?
Crepúsculo dos Deuses
C&N
Talvez uma das tarefas mais difíceis para qualquer amante do cinema seja determinar o melhor filme dirigido por Billy Wilder. Isso porque o cineasta foi um dos poucos que transitou por diversos gêneros sempre demonstrando uma regularidade incrível, criando obras magistrais em qualquer tema. Mas, certamente, não existe um admirador do cineasta que não seja fã de Crepúsculo dos Deuses, uma das maiores obras-primas criadas em Hollywood.
Inovador por criticar a indústria do cinema norte-americana numa época em que poucos cineastas se arriscariam a fazer isso (o longa foi lançado em 1950), Crepúsculo dos Deuses continua como o maior filme já feito sobre Hollywood, mesmo sendo seguido por diversos outros ao longo dos anos.
Isso se deve ao roteiro escrito por Wilder e seu grande parceiro Charles Brackett, que, com precisão quase cirúrgica, narra o relacionamento entre um jovem roteirista falido (interpretado por William Holden, em seu primeiro trabalho com Wilder) e uma antiga e decadente estrela da época do cinema mudo, que atualmente vive reclusa em sua casa, esquecida pelo tempo. Ao invés de cair no melodrama barato, os diálogos disparam farpas sobre a indústria do cinema, capaz de criar sonhos na tela com a mesma intensidade que destrói vidas em seus bastidores, de forma cruel e fria.
O roteiro, por sinal, já abre de forma ousada ao mostrar o corpo do roteirista boiando numa piscina e, a partir daí, a história é narrada postumamente pelo personagem – algo que o premiado Beleza Americana homenagearia décadas depois. Mas, para ilustrar os últimos dias de vida do protagonista, é necessário mergulhar em seu relacionamento com a diva esquecida pelo público, que passa os dias revendo seus próprios filmes e aguardando insanamente convites para voltar a atuar.
Com isso, Wilder mexe num dos períodos mais sombrios da história de Hollywood: a transição do cinema mudo para o sonoro, que, da noite para o dia, acabou com a carreira de diversos astros, jogando-os ao ostracismo.
Um diretor bom teria criado um filme magistral a partir deste ponto, mas Wilder mostra sua genialidade ao contar sua história usando justamente profissionais que foram esquecidos com o advento do cinema falado: Norma Desmond é interpretada por Gloria Swanson, enquanto seu mordomo (e antigo marido e diretor) é vivido pelo diretor Erich von Stroheim. Outros grandes nomes da Hollywood do passado surgem na figura de amigos da atriz, como é o caso do comediante Buster Keaton e de H.B. Warner, intérprete de Jesus Cristo na versão de 1927 de O Rei dos Reis.
Usar atores reais que praticamente interpretassem a si mesmos foi o plano inicial de Wilder, que ofereceu o papel de Norma Desmond a Mae West, Mary Pickford e Pola Negri. Enquanto Mae e Pola simplesmente recusaram o papel, Mary Pickford , temendo que o personagem destruísse sua imagem, exigiu praticamente controlar o projeto inteiro, o que fez Wilder desistir de contratá-la, escolhendo Gloria Swanson, que havia sido sugerida por George Cukor. Quem também aparece no filme é a lendária colunista Heda Hopper e, ao final (antológico) do filme, o cineasta Cecil B. De Mille, ambos interpretando a si próprios.
Mergulhando cada vez mais dentro da loucura de Norma (em cenas com diálogos que hoje fazem parte da mitologia do cinema, como a clássica frase “eu ainda sou grande, os filmes é que se tornaram pequenos”), Wilder mostra, a todo instante, o quanto a indústria do cinema pode ser cruel ao tratar ídolos do passado que não fazem mais sucesso – algo que poucos diretores teriam coragem de fazer.
Evidentemente, o filme caiu feito uma bomba em Hollywood - a lenda conta que o chefão da MGM, Louis B. Mayer, teria deixado a pré-estreia aos berros, afirmando que Wilder nunca mais deveria filmar na vida (a mesma lenda afirma que Wilder caminhou até o executivo e respondeu com um palavrão). Mas o tempo fez justiça a Crepúsculo dos Deuses, hoje visto como um dos maiores filmes hollywoodianos de todos os tempos e que finalmente chega à alta definição pela Paramount.
Um filme para ser visto (ou revisto) de joelhos.
Crepúsculo dos Deuses (Sunset Boulevard - EUA - 1950 - 110’ - preto e branco) Direção: Billy Wilder Com: Gloria Swanson, William Holden, Nancy Olson, Erich Von Stroheim, Hedda Hopper, Buster Keaton e Cecil B. DeMille, entre outros.
Vencedor dos Oscars de Roteiro, Direção de Arte e Melhor Trilha Sonora.
Blu-ray: Menu interativo: Seleção de cenas Tela: Widescreen Anamórfico 16:9 Áudio: Mono Dolby Digital e True HD Idioma: português, inglês, espanhol e francês Legendas: português, inglês, espanhol e francês Extras: O início / O lado noir de Sunset Boulevard / Crepúsculo dos Deuses torna-se um clássico / Dois lados de Gloria Swanson / Histórias de Crepúsculo dos Deuses / Loucos pelo garoto: um retrato de William Holden / Olhando para o passado / Gravando a trilha sonora de Crepúsculo dos Deuses / A cidade de Crepúsculo dos Deuses /A música de Crepúsculo dos Deuses /Mapa das locações em Hollywood / Os estúdios / Cena inédita (a Paramount não me quer)
Distribuição: Paramount Home

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