Curta Santos 2012
Anunciados os concorrentes de 2012
C&N
Entre mais de 800 produções inscritas, o Curta Santos –
Festival
de Cinema de Santos divulgou, na noite
de
ontem, os quase 70 filmes de todas as partes do Brasil (e até fora dele) que
foram selecionados para as Mostras Competitivas de 2012. Consolidado
como
um dos mais importantes eventos cinematográficos do país, o festival,
que
acontece entre os dias 17 e 23 de setembro, está em festa, ao
celebrar
uma década de existência e dar as boas vindas aos
longas-metragens.
As mostras de
filmes
voltadas à competição dobraram este ano, quando o festival completa
10
edições. De quatro, agora são, ao todo, oito: Olhar Brasilis,
Videoclipe Brasilis, Novos Olhares, Mostra
Curta Santos F.C. e Mostra Minuto são as de
abrangência
nacional; as mostras direcionadas aos realizadores do litoral
de
São Paulo são: Olhar Caiçara, Videoclipe Caiçara
e
Curta Escola.
Ainda não competindo, mas faltando pouco, foram selecionados filmes em
longa-metragem que estão fora do circuito comercial, mas que,
fundamentalmente, oferecem um panorama verídico e real da qualidade
das
produções nacionais. O Curta Santos exibirá Eu Receberia as
Piores
Notícias Desses Seus Lindos Lábios, de Beto
Brant e
Renato Ciasca; Febre do Rato, de Cláudio Assis;
Eu Vou Rifar Meu Coração, de Ana Rieper;
Augustas, de Francisco Cesar Filho; e A Laje dos
Sonhos, de Raquel Pellegrini.
Veja
os
classificados para o 10º Curta Santos – Festival de
Cinema
de Santos no site http://www.curtasantos.com.br/Noticias.aspx?id=83
Festival de Gramado 2012
Sangue jovem e talentos
consagrados fazem a primeira noite do Festival de
Gramado.
C&N - Celso Sabadin
Gramado abriu na noite de ontem
(10/08) a sua histórica 40ª edição exibindo dois longas
metragens:
fora de competição, o internacional “360”, de
Fernando Meirelles,
e dando o pontapé inicial na Mostra Competitiva, o carioca “Eu
Não
Faço a Menor Ideia do que Eu Tô Fazendo da Minha Vida”, de
Matheus
Souza. Um ponto em comum une os dois longas: a temática de ambos,
cada qual à sua maneira, é a complexidade dos relacionamentos
humanos.
“360” passeia com talento e
sensibilidade
por pequenos e pungentes dramas do cotidiano que permeiam as
vidas
de pessoas tangenciadas pelas astutas armadilhas do acaso. Se é que o
acaso existe. Há um executivo chantageado por ter marcado um encontro
com
uma prostituta; uma brasileira traída pelo namorado em
Londres; um dentista muçulmano que se apaixona por sua
assistente russa; um estressado motorista particular que não
suporta mais ser mal tratado pelo seu patrão mafioso; um pai à
procura da filha desaparecida... E muito mais. E, não, o filme
nada tem a ver com o estilo de “histórias paralelas”
popularizado por Robert Altman. É outra pegada.
Ainda que
desenvolvidas em vários cantos do mundo (Viena, Paris, Londres,
Bratislava, Denver e Phoenix), as tramas de “360” são
universalmente locais. Falam de culpa, de sexo, de traições, paixões,
arrependimentos e buscas. Fala de pequenos detalhes que mudam, em segundos,
as
opções de uma vida. Um bilhete escrito na hora certa ou um
telefonema
atendido na hora errada podem alterar a trajetória do mundo. Pelo
menos do mundo particular de cada um.
“360” une, no mínimo, três
grandes
talentos cinematográficos: primeiro, o brilhante roteiro de
Peter Morgan, o mesmo de “Além da Vida”, levemente
inspirado na peça “La Ronde”, de Arthur Schnitlzer, não
creditado. A ideia é conferir a informação com Meirelles, na
entrevista
coletiva de logo mais à tarde. Segundo, a vibrante e sempre criativa
montagem de Daniel Rezende, que transforma os cortes em algo
sempre maior que uma simples transição de cena. E, terceiro, claro, a
habilidade de Meirelles em juntar tudo isso a contar, com
extremas
eficiência e emoção, todas estas histórias e sub-histórias,
dando
a cada personagem o peso correto, a cada sub-trama o tão necessário
equilíbrio dramatúrgico. Em “360”, Meirelles se
mostra um cineasta ainda mais maduro do que foi em “Ensaio
Sobre a
Cegueira”, e comprova o que nem mais precisava ser comprovado: que
também é um grande diretor de atores.
Na
apresentação do filme no palco de
Gramado, ele disse se tratar de um filme “pequeno e
intimista”. Concordo com o intimista, mas discordo do pequeno:
“360” é um grande filme sobre a complexidade dos
grandes
relacionamentos humanos.
A Menor
Ideia - O segundo longa da noite foi o carioca “Eu Não
Faço
a Menor Ideia do que Eu Tô Fazendo da Minha Vida”, de Matheus
Souza. Aos 24 anos, Souza já pode dizer com orgulho que este é o seu
segundo longa. E com mais orgulho ainda que seu primeiro trabalho,
“Apenas o Fim”, foi muito elogiado por ocasião da sua
estreia.
“Eu Não Faço a Menor Ideia...” pode não
ser
tão bom quanto “Apenas o Fim”, mas também traz qualidades. A
personagem principal é Clara, uma garota que acaba de entrar
na
faculdade, mas não sabe exatamente o que fazer da vida. Enquanto
tenta
descobrir, mata as aulas experimentando “opções”, como, por
exemplo, se tornar “crítica gastronômica de cafés da manhã de
hotéis”, ou “construtora de casas em árvores”, iguais
às
que são vistas em filme americanos.
Numa determinada cena, o avô da protagonista lhe abre o coração, e
confessa que fez errado todas as escolhas de sua vida. Todas.
Do
casamento à profissão, passando pela educação dos filhos... Todas! A neta
lhe
responde: "Nossa vô, o único que fez mais escolhas erradas que você
foi o
Nicolas Cage".
A
busca da garota, numa primeira
leitura,
beira o besteirol adolescente, descompromissado e levemente
desestruturado em termos de enquadramentos, câmeras e eventualmente até de
interpretações. Mas quem de dispuser a embarcar na experiência do
jovem
diretor (e sua jovem equipe e jovem elenco) logo vai perceber que “Eu
Não
Faço a Menor Ideia do que Eu Tô Fazendo da Minha Vida” é muito mais
que
isso. Em seus experimentos investigativos, Clara vai buscar em
seus próprios alicerces familiares – igualmente desestruturados – algumas
respostas para a sua aparentemente crônica falta de iniciativa. E acaba
nos
brindando com ótimos momentos de questionamentos entremeados de
bom
humor.
Bem humorado, o
diretor Souza afirma que “ninguém sabe exatamente quanto filme
custou porque ninguém estava contando. Mas acho que foi algo em torno de 20
mil
reais, o que pra mim é uma superprodução. Esse filme e o meu
Transformers”, brinca.
Se
em muitos momentos “Eu Não Faço
a
Menor Ideia do que Eu Tô Fazendo da Minha Vida” causa certo
estranhamento estético, vale questionar se isso pode advir até de um
acomodamento da nossa própria visão cinematográfica, não raro
deitada no berço esplêndido das nossas convicções que julgamos
pétreas.
Afinal, não é exatamente isso que Clara quer questionar junto
com
sua família?
Fica a ideia.
Celso Sabadin viajou a Gramado a
convite
da organização do evento.
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