Comédia “Colegas” levanta o
público.
C&N - Celso
Sabadin
Finalmente a plateia de Gramado se levantou.
Após as três primeiras noites de filmes que foram recebidos com aplausos
apenas
protocolares, a noite de anteontem (13/08) conheceu uma acolhida bem
mais
quente: a comédia “Colegas”, de Marcelo Galvão, caiu
nas
graças do público, que aplaudiu com entusiasmo e gritos
de
incentivo.
O
filme fala de três amigos
portadores da Síndrome de Down que, inspirados pelo filme
“Thelma
& Louise”, resolvem fugir da instituição onde vivem
internados e partir para grandes aventuras a bordo de um reluzente
Kharmann
Ghia vermelho. Porém, sempre inspirados por grandes sucessos do
cinema, os simpáticos amigos cometem assaltos à mão armada
durante a
fuga, e passam a ser perseguidos como criminosos.
A
plateia curtiu, vibrou, torceu, riu
muito
e se identificou com “Colegas”. Particularmente, porém,
o
humor pouco refinado e a sua falta de sutileza tanto no
roteiro como na direção não me agradam. O primeiro
grande
ponto negativo de “Colegas” fica por conta de uma das
principais pragas do cinema brasileiro recente: a
narração
em off. Durante toda a ação, a voz de um narrador insiste em
dizer aquilo que já estamos vendo e, pior, em
“orientar” as
sensações que “devemos” sentir nesta ou naquela cena. Muitas
situações cômicas – que numa primeira leitura podem até funcionar –
são
repetidas à exaustão, conspirando contra sua própria eficiência.
Exemplo:
pode ser divertido o toque do celular do policial ser o
som
de um burro, mas é mesmo necessário repetir a piadas mais dez
vezes durante o filme? Ou quando um personagem tem a ideia de
transformar
uma cortina de banheiro em véu para o vestido de casamento de
sua
noiva. Pode funcionar. Mas é necessário que a menina diga “Olha, um véu
feito
de cortina de banheiro!!” ? Tanta redundância passa a impressão
que
os realizadores do filme não confiavam na percepção da
plateia. E a julgar pela recepção do público de ontem à noite,
talvez eles estivessem totalmente corretos: o filme tem
potencial para ser sucesso.
Detalhe: tudo
bem
que o diretor Marcelo Galvão seja um profissional mais ligado ao
mundo da
Publicidade. Absolutamente nada contra. Mas merchandising de
bufê
com direito a logomarca, site e telefone do patrocinador ficou um
pouco demais.
Tematicamente,
“Colegas” dialoga diretamente com o belga “Hasta
la
Vista: Venha Como Você É”, também um road movie
protagonizado por portadores de deficiências.
Estilisticamente,
porém, há um intransponível abismo de sensibilidade entre ambos.
“Colegas” entra em circuito comercial no
início de novembro.
Celso Sabadin viajou a Gramado a
convite
da organização do Festival.
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