‘‘Duas vezes Shakespeare”
Além de peças do autor,
“À Sombra das
Pirâmides” e “Coriolano” têm em comum, atores
consagrados estreando como diretores cinematográficos.
C&N
Segundo o site
IMDb
(The Internet Movie Database), desde 1898, a obra de
William
Shakespeare (1564-1616) já serviu de base para mais de 850
criações
feitas para TV e Cinema. O fascínio que suas peças exercem tem
levado atores famosos, que já viveram personagens do dramaturgo inglês no
palco
e nos estúdios, a se lançarem como diretores cinematográficos, usando textos
de
sua lavra. Foi assim em 1944 com Sir Laurence Olivier (“Henrique V”). Em 1972
e
em 2011, Charlton Heston e Ralph Fiennes fizeram o
mesmo em
“À Sombra das Pirâmides”
(“Antony and Cleopatra”) e em “Coriolano”
(“Coriolanus”). Como intérpretes, ambos tinham vivência com a obra do
autor. Ambos escolheram duas peças sobre o império
romano,
escritas uma em seguida a outra, em 1607 e 1608. Mas, na transposição
para a tela, optaram por caminhões diferentes.
Um dos
melhores
atores de toda a história da Sétima Arte, Heston soube conciliar como
poucos os conflitos íntimos na alma dos grandes guerreiros. Daí ter
personificado, com uma grandeza que sempre incluía certa vulnerabilidade,
personagens épicos como, por exemplo, o Moisés de “Os Dez Mandamentos”, os
protagonistas de “Ben
Hur” (que lhe valeu o Oscar de melhor ator de 1959), “El Cid” e “O Senhor da Guerra”, que lhe
possibilitou o prêmio Saci, concedido pelo jornal O
Estado
de S. Paulo, na ocasião em que eu era crítico no jornal. Esse
norte-americano falecido em 2008 aos 84 anos, já tinha
interpretado o romano Marco Antonio em duas versões da peça
“Julio Cesar”, de Shakespeare.
Uma em
1950, dirigida por David Bradley, e outra em 1970, sob
a
orientação de Stuart Burge. Essa familiarização o fez atuar aqui com
total espontaneidade, que realça os conflitos íntimos. E tanto ele
como
boa parte do elenco não se intimida com a natural
reverência que sempre existe no cinema e no teatro em relação
aos
poéticos diálogos de Shakespeare. Heston falhou na
escalação de Hildegarde Neil. Algo dura nas reações, ela não
tem o
carisma exigido pela personalidade sensual de
Cleópatra.
“À Sombra das Pirâmides” tem uma
narrativa em moldes clássicos ou acadêmicos. Na direção,
Heston
não quis brilhar e com ângulos funcionais, que sempre favorecem o
conteúdo e os intérpretes, fez um filme de visual apurado que
resultou mais comunicativo do que “Coriolano”. Neste, ao invés
da
serenidade do longa feito na Espanha em 1972, temos uma
linguagem modernosa com câmera tremula ou histérica, em
adaptação
que transpôs para a época moderna ou intemporal o conflito romano.
Carros, bombas, passeatas, noticiários pela TV e
outros elementos contemporâneos se fazem presente no desenrolar da
movimentada trama em que Coriolanus (Ralph Fiennes), até então
venerado pelo povo, enfrenta a ira popular. Nesse clima de
lutas
sangrentas e desprezo, ele encara a possibilidade de aliar-se a seu
tradicional inimigo, o também guerreiro Tullius (Gerard
Butler, sempre garboso).
“Coriolano” tem um
enredo
ainda atual no retrato dos meandros políticos. Em certos
casuísmos, fatalmente pensamos em nosso Brasil de tão pouca
ética. Mas a modernidade do texto fica prejudicada na maior parte do
tempo
por essa linguagem excessivamente fragmentada, que
cansa o
espectador e o afasta do contexto. E isso apesar do ótimo elenco,
onde se
destaca Brian Cox (o senador Melenius). Fiennes na
direção,
só se mostra mais coibido quando registra o desempenho de Vanessa
Redgrave. Nessas cenas, parece que ele se controla nos
maneirismos da
câmera; afinal, a grande atriz transmite com poucos recursos e
impressionante força interior a determinação e capacidade de
manipulação
de Volumnia, mãe de Coriolano. A sua presença
neste
trabalho laureado pelo British Independent Film Awards, se
impõe
naturalmente. É sempre gratificante ver grandes intérpretes como
Vanessa
e Charlton Heston a serviço dos belos textos de William
Shakespeare. Pena que, às vezes, essa missão fica
prejudicada por atitudes pretensiosas.
Alfredo
Sternheim é
cineasta,
jornalista e
escritor
À Sombra das
Pirâmides (Anhony and Cleopatra - EUA / Espanha / Suíça - 1972 - 144’) Direção:
Charlton Heston Com: Charlton Heston, Hildegarde Neil, Eric
Porter,
John Castle, Fernando Rey, Carmen Sevilha, Juan Luis Galiardo e Freddie
Jones,
entre outros.
DVD:
Menu interativo - Seleção de cenas Tela:
Formato Original 16:9 Áudio:
Dolby Digital 2.0 Idioma:
inglês Legenda:
português, inglês e
francês Extras: Making Of com Fraser Heston (sem legendas) / Fotos
do
Filme / Trailers
Distribuição: Cult Classic
Coriolano (Coriolanus - Inglaterra - 2011 - 123’) Direção:
Ralph Fiennes Com: Ralph Fiennes, Gerard Butler, Brian Cox, Vanessa
Redgrave, Jessica Chastian, Lubna Azabal, Asharf Barhon, John Kani, Paul Jesson,
James
Nesbitt e Dan Tana, entre outros.
DVD:
Menu interativo - Seleção de cenas Tela:
Widescreen Anamórfico Áudio:
Dolby Digital (5.1,
2.0) Idioma:
inglês e português Legenda:
português Extras: Bastidores / Trailers
Distribuição: Califórnia Filmes
Nenhum comentário:
Postar um comentário