‘‘Coleção Fritz Lang em Hollywood - Volume
2”
Nova caixa traz três
filmes
que oferecem tensão e
desejo com a
peculiar
maestria do
cineasta.
C&N
Nos
vários
anos em
que
trabalhou no cinema norte-americano, Fritz Lang (1890-1976) precisou
se
sujeitar a fazer filmes de encomenda. Apesar do grande prestígio consolidado
na
fase do expressionismo alemão, ele não podia se dar ao luxo de ser um autor,
de
expor totalmente a sua visão de mundo. Os tempos eram outros,
Hollywood
tinha um rígido sistema industrial para atender a imensa demanda por suas
produções. Mas, mesmo sob restrições, o cineasta se saiu bem, conforme se
viu no
primeiro volume desta coleção, também lançado pela Versátil,
em
2012, e agora, neste que traz mais três dos longas feitos nos
Estados
Unidos a partir de 1936.
Realizados
em preto e branco, entre
1954 e 1956, estes contam histórias que possibilitam tensão a
partir de crimes e, também, a força predatória da luxúria.
“Desejo Humano” (“Human
Desire”, 1954) é aquele que mais explora os percalços da libido. Mas faz
isso limitado pela forte censura que existia em Hollywood. Enfoca um
romance adúltero, que nasce entre Jeff Warren (Glenn Ford) e
Vicki Bucley (Gloria Grahame), esposa de Carl
Buckley (Broderick Crawford), funcionário da estrada de ferro onde o
primeiro é maquinista. Rude e alcoólatra, Carl está na
iminência
da demissão. Para evitá-la, resolve usar a mulher que, em outros tempos,
namorou
o chefão John Owens (Grandon Rhodes). Ao descobrir que a
garantia
do emprego passou por uma relação carnal entre Vicki e
John, o marido decide assassinar o magnata, armando uma
armadilha
no trem em que os três viajam. Mas o plano corre perigo devido à presença de
Jeff como passageiro. E ele é conhecido dos
Buckley.
Em vez de, após o crime, enveredar pela trilha policial, o protagonista
sucumbe
à atração exercida por Vicki. Esse é o principal charme do
longa,
terceira das cinco ou seis versões do romance “A Besta Humana”, de Emile
Zola (1840-1902); a segunda (a primeira sonora), também famosa, foi
feita
por Jean Renoir em 1936. Como no filme do consagrado cineasta
francês, Lang também explora com habilidade os trilhos dos trens e os
movimentos destes. Mas o melhor é o aproveitamento que ele deu à volúpia
algo
vulgar que Gloria Grahame transmite com perfeição, como havia feito
no
filme anterior do diretor, “Os Corruptos”, onde também
contracenou com Glenn Ford.
Quando perguntei a Lang sobre a atriz, ele respondeu com
apenas
duas palavras pejorativas e, seco, mandou prosseguir a entrevista com
melhores
questões. Obedeci. Soube, posteriormente, que ela não era pessoa fácil.
Vencedora do Oscar de melhor coadjuvante de
1952, por “Assim Estava
Escrito”, foi casada com Nicholas Ray (o diretor de “Juventude Transviada”). Após o
fim
desse casamento e de outro, causou certo escândalo ao unir-se a Anthony
Ray, filho de Nicholas e seu enteado. Independente de sua vida
pessoal, Gloria é elemento essencial para o clima de luxúria que se
instala em “Desejo
Humano”,
não obstante os limites impostos pelos códigos de moral que vigoravam em
Hollywood.
Os outros dois
filmes do
volume 2 foram realizados e lançados em 1956 com um intervalo de
poucos
meses. Ambos são produções de Bert E. Friedlob, que morreu naquele
ano,
aos 49. “No Silêncio de uma
Cidade” (“While the City Sleeps”) é o melhor, e o menos
envelhecido do pacote. Com roteiro de Casey Robinson, adaptado de uma
novela de Charles Einstein, tem como ponto de partida um assassino de
mulheres jovens e belas, que está assustando a metrópole. Sua atividade
movimenta elementos de um jornal que também investigam o crime.
A intriga possibilita situações de
luxúria, adultério, perfídias e competição, elementos frequentes na obra de
Lang. Daí este ser um de seus longas preferidos, um dos mais honestos
que
fez, nas suas palavras. Desde o início, o espectador sabe quem é o
assassino, o
jovem entregador Robert Manners (John Barrymoore Jr., filho
dos
lendários John Barrymore e Dolores Costello, e pai de Drew Barrymoore). Em
vez
de ser apenas uma trama investigativa, o habilidoso roteiro mescla vários
outros
conflitos, mostrando certa atualidade na força do QI (quem
indica) junto às redações dos meios de comunicação. O vasto elenco
também
ajuda muito.
Isso não
acontece
em
“Suplício de uma Alma”
(“Beyond a Reasonable Doubt”), que tem roteiro e história de
Douglas
Morrow, refilmado em 2009 por Peter Hyams em “Acima de Qualquer Suspeita”,
com
Michael Douglas. Prestigiado pelo Oscar que ganhou em
1949 com o argumento de “Sangue de Campeão”,
Morrow escreveu uma trama extremamente original para a época. Gira em
torno de um escritor (Dana Andrews) conhecido por ser contra a pena de
morte.
Para defender suas ideias, aproveita um crime verdadeiro e forja provas
contra
ele mesmo, visando demonstrar que a Justiça falha. Seu plano conta com o
testemunho e registros de um editor (Sidney Blackmer), pai de sua noiva
Susan
(Joan Fontaine), que será acionado na ocasião da sentença condenatória. Mas
um
acidente mata o único que pode provar sua inocência. O filme prende a
atenção,
tem aquele clima sombrio típico na obra do criador de “Metropolis”, porém carece de
convicção em muitos momentos.
Desapontado e com a alma em
suplício (trocadilho infame), Fritz Lang encerrou a sua atividade
nos
Estados Unidos, voltando para a Alemanha. Mais velho, voltou à
Califórnia onde morreu. Mas, jamais voltou a dirigir naquele
território.
De qualquer maneira, a sua passagem por Hollywood possibilitou filmes
marcantes, hoje clássicos, conforme demonstram esses dois volumes desta
auspiciosa coleção.
Alfredo
Sternheim é
cineasta,
jornalista e
escritor
“Desejo Humano” (“Human Desire” - EUA - 1954 - 91’) Direção:
Fritz Lang Com:
Glenn Ford, Gloria
Grahame, Broderick Crawford, Edgar
Buchanan, Kathleen Case, Peggy
Maley, Grandon Rhodes e Diane DeLaire,
entre outros.
DVD:
Menu interativo - Seleção de cenas Tela:
Fullscreen (1.85.1)
Áudio:
Dolby Digital (2.0) Idioma:
inglês Legenda:
português Extras: Trailer
Original - Biografia de Fritz Lang (texto)
“No Silêncio de Uma Cidade” (“While the City Sleeps” - EUA - 1956 - 91’) Direção:
Fritz Lang Com:
Dana
Andrews, Rhonda
Fleminbg, George
Sanders, Ida Lupino, Thomas Mitchell, Howard Duff, Vincent Price, Sally Forrest, John Barrymore Jr., Mae Marsh e James Craig,
entre outros.
DVD:
Menu interativo - Seleção de cenas Tela:
Fullscreen (2.11.1)
Áudio:
Dolby Digital (2.0) Idioma:
inglês Legenda:
português Extras: Trailers -
Biografia de Fritz Lang
(texto)
“Suplício de uma Alma” (“Beyond a Reasonable Doubt” – Estados Unidos - 1956 - 80’) Direção:
Fritz Lang Com:
Dana
Andrews, Joan
Fontaine, Sidney Blackmer, Arthur Franz, Barbara Nichols, Philip Borneuf, Edward Binns,
Robin
Raymond,
entre outros.
DVD:
Menu interativo - Seleção de cenas Tela:
Fullscreen (2.11)
Áudio:
Dolby Digital (2.0) Idioma:
inglês Legenda:
português Extras: Trailers -
Biografia de Fritz Lang
(texto)
Distribuição: Versátil Home Vídeo
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