‘‘Matar ou Morrer”: 60 anos
Dirigido por Fred
Zinnemann, o
filme tornou-se um dos melhores westerns de todos os tempos.
C&N
Em um
cinema de
Nova York, em 24 de julho de 1952, aconteceu a estreia oficial de “Matar ou Morrer” (High
Noon) que, dias antes, havia sido projetado na Suécia. Na história da
Sétima
Arte, ocupa um lugar de honra: dificilmente alguém deixa de mencioná-lo como
um
dos melhores filmes de todos os tempos e um dos cinco ou seis melhores westerns já feitos. O curioso é que
o
seu diretor, o austríaco Fred Zinnemann (1907-1997), não era um
especialista nessa área, como John Ford ou Delmer Daves.
Detentor
de três Oscar, Alfred Zinnemann (seu nome de batismo, ao
nascer em
Viena), nunca vacilou em enfrentar os mais diversos gêneros. Tanto no
thriller
(“O Dia do Chacal”), no
drama
de guerra (“A Um Passo da
Eternidade”) e até no musical (“Oklahoma”), saiu-se bem. Mas
um
exame mais apurado de sua pequena filmografia (46 títulos, incluindo 19
curtas
desde 1930 até 1986) demonstra que, em quase todos os longas que fez, com
roteiros e histórias de autores bem diversos, ele sempre enfatizou o
drama de
consciência do protagonista ou dos principais personagens em função da
situação central, e menos o lado mais físico do conflito. Foi assim,
por
exemplo, em “O Homem que não
Vendeu a
Sua Alma”, onde o estadista inglês Thomas Moore é provocado
pela
intransigência de seu superior, o Rei Henrique VIII, no desejo de se
divorciar de Ana Bolena. Ou em “Uma
Cruz à Beira do Abismo”, em que a freira interpretada por Audrey
Hepburn vê horrores na África, que a levam questionar a sua escolha
monástica.
O mesmo sucede em “Matar ou Morrer”. Ninguém
deve
esperar tiroteios em profusão, típicos do gênero. O que se sobressai é o
drama
intimo do xerife Will Kane (Gary Cooper, em atuação
premiada com o Oscar). Prestes a viajar em lua de mel com Amy
(Grace Kelly, no seu segundo trabalho para o cinema, antes só havia
atuado em telefilmes), ele fica sabendo da iminente chegada do criminoso
Frank Miller (Ian MacDonald). Mesmo em licença,
Kane
se considera responsável pela nova detenção desse facínora e seus
companheiros,
porque ele o havia prendido anteriormente. Mas espera contar com ajuda. Ao
buscá-la, surgem as dificuldades que devem ser vencidas até o meio dia (a
razão
do título original), horário em que chega o trem trazendo Miller.
Com
roteiro do intelectual Carl
Foreman (ganhou o Oscar de 1957 da categoria por “A Ponte do Rio Kwai”),
adaptado
de uma história de John W. Cunnighan, o filme é um
impressionante
registro da tendência à covardia, mesmo diante de uma situação perigosa e
decisiva no plano coletivo. E o diretor foi sensível e habilidoso para
escapar
do tradicional chavão do herói seguro e altivo para mostrar um
Kane
vulnerável, com medo. Daí as cenas onde aparecem o seu suor e o tremor
das
mãos. Nada mais natural, mas algo singular até então nos
bangue-bangues.
É um dos muitos méritos deste western racional produzido por
Stanley
Kramer (1913-2001), que pautou a sua carreira propiciando longas que iam
contra a maré de Hollywood, escolhendo temas nada convencionais e
algo
políticos ou sociais. Assim foi em alguns que só produziu (este e “O Selvagem”), e naqueles que
também dirigiu, como “Acorrentados” e “Julgamento em Nuremberg”.
Aqui,
as questões do medo e da falta de solidariedade geram a reflexão. Há também
os
que enxergam na trama uma parábola do clima de temor na Hollywood daquela
ocasião, gerado pela famosa “caça às bruxas”, como ficou conhecida a
terrível comissão de inquérito presidida pelo senador MacCarthy, que
reprimiu a liberdade de expressão e ideológica, perseguindo muita gente nos
Estados Unidos, dos anos de 1950 (Foreman inclusive).
Vencedor de quatro Oscar (música de
Dimitri Tionkin, canção dele e de Ned Washington, montagem de
Elmo Williams e Harry Gerstad, e a atuação de Cooper),
“Matar ou Morrer” foi
finalista
nas categorias de filme e direção, perdendo para “O Maior Espetáculo da Terra”
e
John Ford por “Depois do
Vendaval”, respectivamente. Hoje, 60 anos depois, além de confirmar
Fred Zinnemann como o grande cineasta da ética, e de ser incluído no
livro “1001 Filmes para se Ver
Antes
de Morrer” e outras listas similares, esta obra prima em preto e
branco
é também um dos melhores westerns (senão o melhor) de todos os
tempos.
Veja aqui o trailer original de Matar ou
Morrer
Alfredo
Sternheim é
cineasta,
jornalista e
escritor
“Matar Ou Morrer”
(“High Noon” – Estados Unidos - 1952 - 84’) Direção:
Fred
Zinnemann Com:
Gary
Cooper, Thomas Mitchel, Lloyd Bridges, Katy Jurado, Grace Kelly, Otto
Kruger,
Lon Chaney Jr., Ian MacDonald, Lee Van Cleef, entre outros.
DVD: Menu interativo -
Seleção
de cenas
Tela:
Fullscreen (1.78)
Áudio:
Dolby Digital
(2.0) Idioma:
inglês Legenda:
português,
espanhol e inglês
Distribuição: Paramount Home
Entertaiment
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