“Coutinho na Área”
Tempos
de homens simples
e futebol
complexo.
C&N
Futebol
é coisa
séria. O mundo para quando a bola rola. Aqui na cidade de Santos, de onde escrevo essas
indecisas linhas, existe um sentimento especial com respeito ao esporte
bretão.
Foi daqui que nasceu e partiu para o planeta o esquadrão mais cultuado e
vitorioso que se tem notícia.
No
Rio se
vê,
volta e meia, um famoso ator num restaurante, ou na praia. Aqui vemos os
boleiros, a maioria com seus cabelos brancos, ou sem, caso do
José Macia, o Pepe, apelidado de
Pouca
Pena,
pelo Adão, mais conhecido como
Coutinho, o seu apelido mais
conhecido, já que seu nome é Antonio Wilson
Honório.
Sua
mãe o
chamava
de Cotinho, de tão miudinho, lá em
Piracicaba, sua cidade natal. O
menino
veio para Santos, foragido, saltando a
janela
e o muro de sua casa, enfeitiçado pelo time que se apresentou e que o
transformou para sempre. Abraçado no alambrado ao lado do campo o menino de
treze anos viu Pagão, Pelé e Pepe e a partir daí sabia o
que
queria, fazer parte daquele time, daquela vida que se mostrava pela primeira
vez.
Antes
dos 15
anos,
ele estreou como profissional, jogou mal, na sua principal jogada ele
driblou
um, dois, três, só daí notou que estava em sentido contrário, correndo para
a
defesa. Naquele tempo existia a vergonha, e o menino sofreu. Estava decidido
a
voltar pro interior, no que foi impedido pelos mais velhos.
Tempos de homens simples e
futebol
complexo, camaradagem e pouco dinheiro.
Estou
sob o efeito
deste clima e destas histórias: acabamos de lançar a biografia do
Coutinho pela nossa praiana
editora.
Algumas destas histórias ouvi num
botequim bem em frente à Vila
Belmiro, local que recebeu
novamente
o nosso craque, agora para celebrar a sua história. Depois dos muitos
autógrafos
a sede tomou conta do pessoal, que não queria saber de vinho espumante e
muito
menos água. Direto ao bar do Alemão, um torcedor raro do
Santos, tão fanático que tatuou
na
testa o escudo do clube. Nos instalamos e recomeçamos a festa, agora entre
sambas e boleiros.
Na
mesma mesa:
Negreiros, Mengálvio, Coutinho, Maneco e nós, os pernas de
pau.
O
Pepe já
havia
partido, foi um dos últimos a chegar e saiu logo. Estranhei o seu atraso e
resolvi ligar. Quando ele atendeu notei um tom de surpresa. Falei:
Pepe, meu
best-seller! Tem alguém esperando por você... o Coutinho!
E
ele:
Ai meu
Deus,
vai ser na livraria?
- Não, Pepe, na Vila pô!
-
Fala pra ele que estou indo!
Quando o nosso querido
Canhão
da
Vila
entrou na sala de troféus foi uma alegria geral. Coutinho brincava: Estava de pijama? Te
acordaram?
Pepe
o
abraçou, os
fãs se amontoavam entre máquinas fotográficas e autógrafos.
Eu
entendo
que o
Pepe tenha que ser lembrado
para
ir em mais um evento, estas emoções de hoje, os autógrafos, as lembranças e
os
causos são muito menos emocionantes para eles do que as glórias vividas nos
gramados dos quase 80 países pelos quais se apresentaram para reis e
plebeus,
presidentes e papas, sendo os melhores do mundo.
Nada
se
compara à
comemoração de um gol, numa final, com uma multidão gritando o seu
nome.
Já para nós, foi o máximo!
“Coutinho - O Gênio da Área”
Autor: Carlos Fernando Schinner Editora: Realejo Edições Quanto: R$
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