Johnny
Mercer –
“The Dream's on
Me”
“Johnny Mercer é o maior
dos
compositores populares. Eu acho que isto tem a ver com o fato dele ser do
sul.
Ele tem o sentido descritivo de um Mark Twain e as melodias de Stephen
Foster".
-
E.Y.Harburg
C&N
Johnny
Mercer é um
nome
que muitos não conhecem, mas posso garantir que enquanto estiver assistindo
a
este documentário você irá exclamar: Não
me diga que ele também escreveu esta música!
Um
letrista cujo humor aguçado e sentimentalismo, assim como seu olhar para o
talento, definiram a música popular norte-americana, da Grande Depressão até
o
início dos anos 1970. Mercer escreveu
clássicos
tais como “Moon
River”, “Jeepers,
Creepers”, "Ac-Cent-Tchu-Ate the
Positive", e "One for
My
Baby (And One More for the
Road)". Bem, se você já assistiu Pernalonga e Patolino cantando "My momma done told
me..." então você já ouviu Johnny Mercer. Eles estão fazendo
um riff de sua composição “Blues in the
Night”, escrita em parceria com Harold Arlen em 1941.
18 de
novembro, de 2009, marcou o centenário de nascimento de Mercer, e por conta desta ocasião
Clint Eastwood (produtor
executivo), Bruce Ricker (direção) e a Turner Classic Movies se uniram
para
fazer Johnny Mercer – “The Dream's on
Me” (Warner Brothers DVD), um documentário comemorativo, com este nome vindo de
outra
canção de 1941 que ele fez em parceria com Arlen. O filme é parte biografia,
parte
imagens de arquivo e parte recontextualização, tomando as músicas de Mercer e as colocando nas mãos de
cantores atuais como Jamie Cullum
e
Dr.John para mostrar que ainda
hoje
elas são relevantes.
Ricker
construiu o
documentário baseado nas canções, deixando que elas criassem o mapa pelo
qual se
navega pela história de Mercer.
Ele
cobre todos os aspectos da vida de Mercer: a infância em Savannah
(Georgia), a trilha que percorreu até chegar a Hollywood e Broadway, seu amor por sua esposa
Ginger e o affair com Judy
Garland, as várias parcerias musicais, e um
aspecto
de sua vida que eu não sabia, que Johnny
Mercer foi um dos cofundadores da Capital Records, sendo o cantor Nat “King” Cole um de seus
primeiros
artistas, fato este que “transcendeu
as
profundas barreiras raciais na indústria fonográfica”. Mercer compôs canções avulsas e
muitas
para o cinema. Foram para pelo menos 95 filmes – dramas, comédias ou
musicais –,
que lhe renderam 18 indicações ao Oscar das quais venceu quatro:
"On the Atchison, Topeka and the Santa
Fe" (música de Harry Warren) para As
Garçonetes de Harvey (The Harvey Girls, 1946), "In the Cool, Cool, Cool of the
Evening" (música de Hoagy Carmichael) para Órfãos da Tempestade (Here
Comes
the Groom, 1951), "Moon
River"
(música de Henry Mancini) para
Bonequinha de Luxo (Breakfast at Tiffany's, 1961), e
"Days of Wine and
Roses" (música de Henry Mancini) para Vício Maldito (Days of Wine
and
Roses, 1962). Outros trabalhos de Mercer para o cinema incluem Bonita Como Nunca
(You Were Never Lovier, 1942 - música de Jerome Kern), Ver, Gostar, Amar
(The Belle of New York, 1952 - música de Harry Warren),
Sete Noivas Para Sete
Irmãos (Seven Brides for Seven
Brothers,1954 – música de Gene
DePaul), Papai Pernilongo
(Daddy Long Legs, 1955), Laura (1944,
música de David Raksin) e uma
que
virou o hino de Hollywood: "Hooray for
Hollywood" para o filme Hotel de Hollywood (Hollywood
Hotel, 1937 – música de Richard
Whiting). Também compôs para musicais da Broadway, mas se ganhou muito
respeito não encontrou grande sucesso por lá. St.
Louis Woman (1946), escrito com Harold Arlen, continha “Come Rain or Come
Shine”
e um dos melhores scores já escritos para a Broadway,
mas o
libreto acabou com a produção. Em 1949 Mercer e Robert Emmet escreveram Texas, Li’l
Darlin’, que teve uma carreira
respeitável. Top Banana
(1951)
estrelou Phil Silvers (um dos
maiores comediantes da TV norte-americana), e desta vez o próprio Mercer escreveu a música. O maior
sucesso dele para a Broadway foi Li’l Abner (1956) – já resenhado
por
mim no C&N – o qual
ele
escreveu com Gene de Paul. Mercer e Arlen unir-se-iam novamente para o
fracasso lamentável de Saratoga (1959), mais uma vez
com um
score subestimado. Seu último
show da
Broadway foi Foxy, com música de Robert Emmett Dolan. O show fechou
prematuramente em 1964. O último score dele para os palcos foi para
uma
produção londrina chamada Good Companions (1974), para a
qual
Andre Prévin escreveu a música.
Embora Mercer tenha afirmado
nunca
ter acertado um sucesso na Broadway, o que não é bem uma verdade, suas
canções
permanecem trabalhos de primeira linha para o teatro musical.
Ilustrando tudo
isso clipes relevantes são exibidos, na maioria de shows da TV americana,
dos
anos 1950 e 1960, estrelando Nat
“King”
Cole, Andy Williams, Lena Horne, Dinah Shore, Barbra Streisand, Louis Prima & Keely
Smith, e muitos outros – mais notadamente o
próprio
Mercer na maioria deles. Também
há
um monte de filmagens posteriores de Mercer aparecendo no talk-show de Merv
Griffin e em outro da BBC
falando de sua arte. Ele é um contador de causos elegante e divertido, muitas
vezes
deixando escapar uma anedota sobre alguma canção.
Intercalado a
narrativa temos Eastwood ou
organizando as performances em um estúdio, sentado ao lado do compositor John Williams, ouvindo histórias de
Michael Feinstein, ou ensaiando
cantores como Maude Maggart ou
até
mesmo sua própria filha. Também há novas entrevistas com Blake Edwards, Andre Prévin, Tony Bennett e Julie Andrews, todos os quais ou
colaboraram com Mercer ou de
alguma
forma interpretaram a sua música, além de depoimentos como os do crítico de
cinema Leonard Maltin, do
musicólogo
Jonathan Schwartz e do
compositor Alan Bergman.
No
total, Johnny Mercer – “The Dream's on Me”
é um olhar informativo e animado sobre um homem e a sua arte, um testamento
da
vitalidade de sua obra e uma apreciação da mente criativa que está por
detrás
disso tudo. A gente fica conhecendo a vasta influência de Mercer assim como sua excelente
carreira como artista (assista aqui o próprio Mercer cantando “Jamboree Jones”).
Tecnicamente o
DVD
em si tem uma imagem muito boa em widescreen, a resolução é
nítida, as cores intensas e fica evidente que até mesmo as filmagens antigas
foram colhidas das melhores fontes possíveis. O som stereo é ótimo,
com
um trabalho muito bem feito para nos dar gravações límpidas das músicas, o
que é
muito importante. Legendas em inglês para surdos-mudos estão disponíveis, o
que
também ajuda os que leem inglês melhor do que ouvem. Johnny Mercer – “The Dream's on Me”
é um DVD duplo onde no DVD 1 temos o documentário de 90 minutos, e no DVD 2
os
bônus. A maior parte dos extras são sequências prolongadas e performances a
partir do próprio documentário. No "At the Piano with Clint
Eastwood"
temos uma sessão de oito minutos de Clint com John Williams e seis minutos com Jamie Cullum, debatendo a técnica e
a
influência de Mercer. “Studio performances” são as gravações de estúdio que
foram
extraídas do documentário, e aqui são mostradas na totalidade. São dez
canções,
cerca de 35 minutos, estrelando Jamie
Cullum, Dr. John, John Williams, Cleo Laine, Morgan Eastwood, Maude Maggart, Audra McDonald, e Michael Feinstein. Você pode
selecionar
cada canção individualmente ou escolher "play all" para ouvi-las de uma
vez. Também temos dois slideshows com fotos da família e
belas
aquarelas pintadas por Mercer,
com
narração de sua sobrinha Nancy
Gerard, e um ensaio biográfico para ser lido na tela, escrito por Glenn T. Eskew.
Johnny
Mercer –
“The Dream's on Me” é um
documentário
muito bem feito sobre o lendário e prolífico compositor, morto
aos
67 anos. O homem por trás de sucessos como “That Old Black Magic” e “Moon River” era um criador
incessante, um indivíduo complexo, e esta celebração ao seu
trabalho põe a música no centro das atenções, combinando
performances antigas e novas. É um retrato
informativo de um talento deveras especial. Para qualquer fã de filmes antigos ou do autêntico
jazz, é
bem possível que já tenha apreciado a carpintaria musical dele, e Johnny Mercer – “The Dream's on Me”
fará você apreciá-la ainda mais.
Cláudio Erlichman
é
publicitário
e produtor
cultural.
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