13 de agosto de 2012

“Batman – O Cavaleiro das Trevas Ressurge”


Batman – O Cavaleiro das Trevas Ressurge
É o cinema reverenciado em todas as suas vertentes.
C&N
Quando escrevi sobre Batman – O Cavaleiro das Trevas (2008), acreditei que, incluindo os eventos narrados no primeiro filme de sua série sobre o Homem-Morcego – Batman Begins (2005) -, o diretor Christopher Nolan havia entregado uma trama completa, pois uma terceira parte seria redundante e existiria somente para saciar a vontade dos fãs dos quadrinhos que ainda não viram alguns vilões famosos, como o Pinguim ou o Charada, no universo de Nolan.
Mas o diretor achou um meio de me convencer. Com Batman – O Cavaleiro das Trevas Ressurge (The Dark Knight Rises, 2012), Nolan transformou os três filmes em começo, meio e fim de uma única história. Sua jogada foi tão habilidosa que tornou difícil – e até injusta -qualquer comparação aos dois longas anteriores em termos de qualidade, afinal a série se assume pela primeira vez como trilogia.
Mas reside aí uma opção do diretor que além de ousada é polêmica. Sozinho, Ressurge não existe, podendo decepcionar quem não estiver com detalhes dos outros filmes na memória, por se apresentar como parte de um todo. “Problema” que não veio em 2008, quando Nolan lançou O Cavaleiro das Trevas e não exigiu que ninguém tivesse visto Batman Begins – isso porque o longa de 2005 funcionava também como prólogo para os acontecimentos da continuação. Mas, agora, tudo isso foi para o ralo, porque Ressurge resgata o original e amarra toda a saga, dando-lhe um final grandioso, uma verdadeira ode ao Morcegão. Sujeito abusado esse Christopher Nolan… Quem ele pensa que é para “encerrar” as aventuras do Batman?
É fato que ficaríamos até amanhã (ou depois) discutindo se o diretor foi fiel aos quadrinhos ou se deveria ter lido mais gibis. Ou se Ressurge, como cinema, supera ou não O Cavaleiro das Trevas. Nolan nos jogou numa armadilha e tornou essa discussão próxima do irrelevante. Você pode preferirmomentos” dos três filmes. Eu mesmo fico com o “episódio do meio”, que teve uma proposta mais concisa, sendo mais perturbador por sua violência psicológica e corajoso por igualar heróis e vilões. Ressurge é mais evidente na hora de mostrar quem é bom e quem é mau. Mas e daí? A proposta do terceiro é exaltar o heroísmo, o que o torna, apesar de todas as reviravoltas, um filme menos sombrio.
Claro, todo mundo vai concordar que o Coringa de Heath Ledger é magistral, incomparável, insuperável. Em Ressurge, o elenco é fantástico. Mas ninguém entrega uma atuação como a de Ledger no segundo filme. Cara, o Coringa é e sempre foi um dos maiores vilões da cultura pop. E Ledger o encarnou de forma perfeita. Mas Nolan demonstrou que o personagem (em seus filmes) foi simplesmente parte de uma jornada. Seus filmes são sobre Bruce Wayne/Batman, seus conflitos, suas noções do que é justiça, morte, responsabilidade e até paternidade. Apenas aceite e siga em frente.
Jornada esta de um mito? Ou de um homem? É possível separar os dois? Afinal, quem ressurge das trevas na história de Nolan? Batman ou Bruce Wayne? Não é à toa que o diretor escolheu a luz do dia para narrar o clímax dos esforços de um herói que costuma agir nas sombras. É da luz, que ele… Bom, é melhor você ver o filme.
Só que é preciso se preparar para uma trama que é uma verdadeira teia de aranha, bastante incomum para o que nos acostumamos em matéria de blockbuster. À primeira vista, o filme apenas dá sequência aos eventos de O Cavaleiro das Trevas. Oito anos se passaram. O magnata vivido por Christian Bale está amargurado, recluso em sua mansão, como um misto de Howard Hughes e Gregory House, fisicamente debilitado (cortesia dos anos e da queda com Harvey Dent no fim do filme anterior), sem exercícios nem mesmo qualquer exposição à luz do sol. Mas ao ser roubado pela misteriosa Selina Kyle (a Mulher-Gato Anne Hathaway), Wayne começa a investigá-la e dá de cara com uma conspiração orquestrada pelo terrorista, fanático, brutamonte, porém genial, e mascarado Bane (Tom Hardy). Mas percebe duas coisas: 1) É tarde demais. O ataque a Gotham, na verdade, só foi possível porque Batman estava “aposentado”. E 2) O herói está velho, esgotado e desengonçado. O corpo não acompanha mais a mente.
Ao longo do filme, Wayne vai tentar tirar força da alma. Como Gotham, que pode ser castigada, mas que jamais terá o seu espírito destruído. Pode-se dizer que é tudo reflexo do pós-11 de setembro. Ou que há muito discurso político como nenhum outro filme do Batman. E se Bane cita igualdade e destruição na mesma fala podemos ver uma ideia contraditória ou alusões à Guerra Fria etc e tal. Isso mesmo. Se O Cavaleiro das Trevas flerta com o gênero policial, Ressurge está mais para um filme de guerra. Mas acho que qualquer referência à atualidade vale mais como uma conexão com o tempo e o espaço. Filmes também são espelhos de suas épocas. O que importa aqui é o gênero “guerra” e não as guerras reais. O que Nolan realmente quer discutir em Ressurge é… cinema. Mais que uma ode ao Batman e ao heroísmo de todas as formas e máscaras, o filme é uma ode ao cinema.
Começa pela escala pretendida pelo diretor nesse longa. Ele sempre teve os dois pés no chão para contar a história de um homem fantasiado de morcego, mas, pela primeira vez, ele abraça (mesmo que um pouco) um exagero que pode ser encontrado nos quadrinhos. Real, ok. Mas trata-se de uma HQ filmada. E Nolan admite isso de vez. Resolveu tornar tudo maior, mais épico. Ressurge é o máximo de que Hollywood pode oferecer de espetáculo sem abdicar de inteligência. E se você conhece Nolan, principalmente depois de A Origem, prepare-se para se perder em Ressurge. Temos muitos personagens novos em tramas paralelas que tomam conta do filme em sua primeira hora. É fácil patinar. Em seus filmes do Batman, Nolan sempre conduziu o espectador pela mão. Antes de recorrer ao tosco e duvidoso “buracos no roteiro”, lembre-se que ele também é o diretor de O Grande Truque, que traz a seguinte pergunta-chave: “Você está realmente olhando?
Então olhe de novo, porque Ressurge é um truque de mágica. O plano de Bane e como Batman consegue agir aqui e ali, quem está com ele, quem não está, bem, tudo será revelado até os 45 minutos do segundo tempo. E é impossível negar as habilidades narrativas de Nolan, que, goste ou não, agora assume ter seu próprio estilo, incorporando recursos autorais, vejam só, num blockbuster sobre o Batman. Você pode e tem o direito de questionar as opções do cineasta neste filme, mas não deve deixar de reconhecer o seu talento como diretor contador de histórias. Ele domina o ofício. Nunca se encanta pela técnica e utiliza todas as ferramentas não para se exibir, mas para executar o roteiro. Direto ao ponto para extrair emoção genuína.
Há uma grandiosidade em Ressurge que nem precisa ser vista ou sentida em Imax ou 3D. É a grandiosidade – mesmo que num cenário urbano – de épicos clássicos de Cecil B. DeMille e David Lean, carregando no espetáculo exacerbado do primeiro e as implicações intimistas do segundo. Da abertura ao estilo 007 à “cavalgada” do cavaleiro solitário rumo ao sol, num final apoteótico, com influências mitológicas; o Homem e seu papel na Terra; os heróis como símbolos no Céu e nos corações dos mortais, Nolan faz a história do cinema girar. Ao mesmo tempo em que cria um monumento cinematográfico completo para um dos maiores heróis dos quadrinhos, Nolan, acima de tudo, homenageia a sétima arte, vislumbrando seu futuro. Para entregar um Batman humano, falível, num mundo real, o diretor abraçou a máquina hollywoodiana para tornar gigantesca qualquer emoção, principalmente nesta última parte da trilogia. Ressurge é impactante até em cenas minimalistas, como a dolorosa despedida de Bruce Wayne e Alfred. Nolan trabalha emoções ao longo das expectativas e conclusões das 2h45 de filme, seja no diálogo, nas perseguições, nas consequências da já lendária explosão do estádio, no olhar de cada ator, ou mesmo na sequência brutal de luta sem a empolgante e ensurdecedora música de Hans Zimmer, com os efeitos sonoros agindo como trilha. Você sabe, o cinema surgiu com música, um dos quesitos mais amados pelos cinéfilos. Atualmente, as trilhas vêm perdendo importância. Tornando-se cada vez mais escondidas, preenchendo apenas o silêncio. Nolan e Zimmer trazem de volta o épico para quem quiser ver e ouvir.
É o cinema reverenciado em todas as suas vertentes. Enquanto abre um sorriso no rosto do nerd nos minutos finais de projeção, Nolan vai do fechamento de um ciclo a alvorada de novas eras dentro e fora deste filme. Possibilidades infinitas de se contar as mesmas histórias que nossos pais e avós viviam nesse templo sagrado chamado cinema.
Batman – O Cavaleiro das Trevas Ressurge (The Dark Knight Rises - EUA - 2012 - 165’) Direção: Christopher Nolan Com: Christian Bale, Tom Hardy, Anne Hathaway, Joseph Gordon-Levitt, Gary Oldman, Marion Cotillard, Morgan Freeman e Michael Caine, entre outros.
Distribuição: Warner Bros. Acesse: www.hollywoodiano.com.

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