23 de abril de 2012

‘Duas Comédias Clássicas’


Duas Comédias Clássicas
No gênero, “A Tia de Carlitos” e “Este Mundo é um Hospício têm elementos incomuns para a década em que foram feitas.
C&N
Nada como olhar para o passado do cinema e constatar que certos elementos temáticos ainda hoje impactantes e aparentemente bizarros, já tinham sido usados por cineastas de outrora. Como o transformismo e o assassinato em série no terreno do humor. Enquanto um homem se apresentando como uma mulher agita “A Tia de Carlitos” (“Charley´s Aunt”), duas velhinhas que matam homens e outros de seus familiares movimentam “Este Mundo é um Hospício” (“Arsenic and Old Lace”). Além dos méritos, os filmes têm em comum a sua origem teatral, e de serem produções da Hollywood nos anos de 1940.
À primeira vista, o título de “A Tia de Carlitos” dá a impressão de ser oportunista, pegando carona na fama do personagem criado por Charles Chaplin. Mas a peça que serviu de base já tinha essa denominação desde a sua estreia em 1892, escrita pelo inglês Brandon Thomas (1850-1914) que também era ator. Sempre foi um êxito extraordinário em todo o planeta. E, a partir de 1911, possibilitou cerca de 35 versões para o cinema e a TV. De uma delas, com Jayme Barcellos e Silvia Orthof no teleteatro da TV Tupi em 1951, tenho uma vaga lembrança. Esta foi moldada para o estilo de Jack Benny (1894-1974), humorista americano hoje esquecido. Depois de expressiva carreira no teatro de vaudeville, foi para o rádio, onde ganhou popularidade com um programa que tinha o seu nome. Em 1931, já estava em Hollywood, mas jamais logrou o mesmo êxito alcançado no rádio e na TV. Careteiro e anárquico, ele interpreta Babbs Berkeley, estudante da universidade de Oxford que é coagido a se passar por mulher para que dois colegas possam cortejar duas garotas, substituindo a tia brasileira de um deles, dona Lucia d´Alvadorez (Kay Francis). Mas a própria aparece e, percebendo a trama, se faz passar por outra pessoa.
Sob a direção de Archie Mayo (1898-1961), que é mais lembrado por “A Floresta Petrificada”, com Bette Davis e Humphrey Bogart, e por “Uma Noite em Casablanca”, com os irmãos Marx, a engenhosa farsa vai carregando na sexualidade que a falsa tia provoca. Em alguns momentos, esse clima de malícia que lembra o de “Totsie” (1982), com Dustin Hoffman, gera as melhores gags do filme. Tal ambiguidade era singular em 1941, ano de lançamento do filme.
Singular também era em 1944 ver em “Este Mundo é um Hospício”, duas velhinhas como assumidas assassinas. Mas motivadas por bondosos desejos de ajudar o próximo. No caso, idosos solitários a quem abrigavam com carinho antes de darem a dose fatal. A situação é descoberta pelo sobrinho delas, o crítico teatral Mortimer Brewster (Cary Grant), assim que se casa com Elaine Harper (Priscilla Lane). Ele leva a esposa para conhecer as meigas tias Abby (Josephine Hull) e Marta Brewster (Jean Aidar) na casa onde moram, vizinha de um cemitério, que hospeda também um parente (John Alexander); doido, ele acha que é o presidente Theodore Roosevelt (1858-1919). A situação se complica com a inesperada chegada de Jonathan (Raymond Massey), irmão criminoso de Mortimer. Junto dele está o Dr. Einstein (Peter Lorre), o companheiro de seus golpes, e médico responsável pelas cirurgias faciais em Jonathan para escapar da polícia.
A origem do filme é também uma peça, a única conhecida de Joseph Kellsering (1902-1967). Foi encenada com o título original, “Arsênico e Alfazema” em todos os países, inclusive no Brasil, onde obteve grande sucesso por volta de 1950, no extinto TBC (Teatro Brasileiro de Comédia) de São Paulo. No cinema, não foi diferente.
Foi mais um triunfo de Frank Capra (1897-1991) que, na ocasião, já acumulava três Oscar de melhor diretor, todos por comédias. O realizador de “Aconteceu Naquela Noite” (1934) construiu uma sólida filmografia apoiada quase sempre apoiada em felicidade com generosidade e ética, altruísmo e inversão de valores. Alguns desses aspectos estão na trama do filme; contrariando o lado sinistro de Jonathan, está a candura das duas velhinhas. E Mortimer se preocupa em recuperar o clima politicamente correto, evitando melindrar as doces tias.
Estas são interpretadas com uma doçura notável que se contrapõe ao exagero de Cary Grant. Passam do ponto também algumas das atuações de “A Tia de Charlot”. Mesmo assim, tanto este filme como “Este Mundo é um Hospício” são comédias de incrível vitalidade que, décadas depois, atingem plenamente sua principal finalidade: fazer rir.  
Alfredo Sternheim é cineasta, jornalista e escritor
A Tia de Carlitos (“Charley´s Aunt - EUA - 1941 - 82’) Direção: Archie Mayo Com: Jack Benny, Kay Francis, James Ellison, Edmund Gween, Anne Baxter, Arleen Whelan, Reginald Owen, Richard Haydn, Ernest Cossart,e Morton Lowry, entre outros.
DVD: Menu interativo - Seleção de cenas Tela: Fullscreen (1.33.1) Áudio: Dolby Digital (2.0) Idioma: inglês  Legendaportuguês, inglês e espanhol Extras: Comentário de Randy Skeretvedt - Biografia - Filmografia - Galeria de Fotos
Distribuição: Cult Classic
Este Mundo é um Hospício (“Arsenic and Old Lace - 1944 - 114’) Direção: Frank Capra
Com: Cary Grant, Priscilla Lane, Raymond Massey, Josephine Hull, Jean Aidar, Peter Lorre, Jack Carson, John Alexander, James Gleason e Grant Mitchell, entre outros.
DVD: Menu interativo - Seleção de cenas Tela: Fullscreen Áudio: Dolby Digital (2.0 ) Idioma: inglês Legenda: português  Extras: Biografia de Frank Capra - Trailer Original 
Distribuição: Versátil Home Vídeo

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