‘Duas Comédias Clássicas’
No gênero, “A Tia de Carlitos” e “Este Mundo é um
Hospício” têm
elementos
incomuns para a
década
em que foram
feitas.
C&N
Nada
como
olhar
para o
passado do cinema e constatar que certos elementos temáticos ainda hoje
impactantes e aparentemente bizarros, já tinham sido usados por cineastas de
outrora. Como o transformismo e o assassinato em série no terreno do humor.
Enquanto um homem se apresentando como uma mulher agita “A Tia de Carlitos”
(“Charley´s Aunt”), duas velhinhas que matam homens e outros de seus
familiares movimentam “Este Mundo
é
um Hospício” (“Arsenic and Old Lace”). Além dos méritos, os
filmes têm em comum a sua origem teatral, e de serem produções da
Hollywood nos anos de 1940.
À primeira
vista, o
título de “A Tia de
Carlitos”
dá a impressão de ser oportunista, pegando carona na fama do personagem
criado
por Charles Chaplin. Mas a peça que serviu de base já tinha essa
denominação desde a sua estreia em 1892, escrita pelo inglês
Brandon
Thomas (1850-1914) que também era ator. Sempre foi um êxito
extraordinário
em todo o planeta. E, a partir de 1911, possibilitou cerca de 35
versões
para o cinema e a TV. De uma delas, com Jayme Barcellos
e
Silvia Orthof no teleteatro da TV Tupi em 1951,
tenho uma vaga lembrança. Esta foi moldada para o estilo de Jack
Benny (1894-1974), humorista americano hoje esquecido. Depois de
expressiva carreira no teatro de vaudeville, foi para o rádio,
onde ganhou popularidade com um programa que tinha o seu nome. Em
1931,
já estava em Hollywood, mas jamais logrou o mesmo êxito alcançado no
rádio e na TV. Careteiro e anárquico, ele interpreta Babbs
Berkeley, estudante da universidade de Oxford que é coagido a
se
passar por mulher para que dois colegas possam cortejar duas garotas,
substituindo a tia brasileira de um deles, dona Lucia
d´Alvadorez
(Kay Francis). Mas a própria aparece e, percebendo a trama, se faz passar
por
outra pessoa.
Sob a
direção de Archie Mayo
(1898-1961), que é mais lembrado por “A Floresta Petrificada”, com
Bette Davis e Humphrey Bogart, e por “Uma Noite em Casablanca”,
com os
irmãos Marx, a engenhosa farsa vai carregando na sexualidade que a
falsa
tia provoca. Em alguns momentos, esse clima de malícia que lembra o de “Totsie” (1982), com
Dustin
Hoffman, gera as melhores gags do filme. Tal ambiguidade era
singular
em 1941, ano de lançamento do filme.
Singular
também
era em
1944 ver em “Este Mundo é
um
Hospício”, duas velhinhas como assumidas assassinas. Mas motivadas
por
bondosos desejos de ajudar o próximo. No caso, idosos solitários a quem
abrigavam com carinho antes de darem a dose fatal. A situação é descoberta
pelo
sobrinho delas, o crítico teatral Mortimer Brewster (Cary
Grant),
assim que se casa com Elaine Harper (Priscilla Lane). Ele leva
a
esposa para conhecer as meigas tias Abby (Josephine Hull) e
Marta Brewster (Jean Aidar) na casa onde moram, vizinha de um
cemitério, que hospeda também um parente (John Alexander); doido, ele acha
que é
o presidente Theodore Roosevelt
(1858-1919). A situação se complica com a inesperada chegada de
Jonathan (Raymond Massey), irmão criminoso de
Mortimer. Junto dele está o Dr. Einstein (Peter
Lorre), o companheiro de seus golpes, e médico responsável pelas cirurgias
faciais em Jonathan para escapar da polícia.
A origem do
filme é
também uma peça, a única conhecida de Joseph Kellsering (1902-1967).
Foi
encenada com o título original, “Arsênico e Alfazema” em todos
os
países, inclusive no Brasil, onde obteve grande sucesso por volta de
1950, no extinto TBC (Teatro Brasileiro de Comédia) de
São Paulo. No cinema, não foi diferente.
Foi mais um
triunfo
de
Frank Capra (1897-1991) que, na ocasião, já acumulava três
Oscar de melhor diretor, todos por
comédias. O realizador de “Aconteceu
Naquela Noite” (1934) construiu uma sólida filmografia apoiada quase
sempre apoiada em felicidade com generosidade e ética, altruísmo e inversão
de
valores. Alguns desses aspectos estão na trama do filme; contrariando o lado
sinistro de Jonathan, está a candura das duas velhinhas. E
Mortimer se preocupa em recuperar o clima politicamente
correto,
evitando melindrar as doces tias.
Estas são
interpretadas
com uma doçura notável que se contrapõe ao exagero de Cary Grant.
Passam
do ponto também algumas das atuações de “A Tia de Charlot”. Mesmo
assim,
tanto este filme como “Este Mundo
é
um Hospício” são comédias de incrível vitalidade que, décadas
depois,
atingem plenamente sua principal finalidade: fazer rir.
Alfredo
Sternheim é
cineasta,
jornalista e
escritor
“A Tia de Carlitos” (“Charley´s Aunt” - EUA - 1941 - 82’) Direção:
Archie Mayo Com:
Jack
Benny, Kay
Francis,
James
Ellison,
Edmund Gween,
Anne
Baxter,
Arleen Whelan,
Reginald Owen,
Richard Haydn,
Ernest Cossart,e Morton
Lowry, entre outros.
DVD:
Menu interativo - Seleção de cenas Tela:
Fullscreen (1.33.1)
Áudio:
Dolby Digital (2.0) Idioma:
inglês Legenda: português,
inglês
e
espanhol Extras:
Comentário de Randy Skeretvedt
-
Biografia - Filmografia - Galeria
de
Fotos
Distribuição: Cult Classic
“Este Mundo é um Hospício”
(“Arsenic and Old Lace” - 1944 - 114’) Direção: Frank Capra
Com: Cary
Grant, Priscilla
Lane, Raymond Massey, Josephine Hull, Jean Aidar, Peter Lorre, Jack Carson, John Alexander, James Gleason e Grant
Mitchell,
entre outros.
DVD: Menu
interativo - Seleção de cenas Tela:
Fullscreen Áudio:
Dolby Digital (2.0
) Idioma:
inglês Legenda:
português Extras:
Biografia de
Frank
Capra
- Trailer
Original
Distribuição: Versátil Home Vídeo
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