17 de abril de 2012

“O Príncipe do Deserto”



“O Príncipe do Deserto”

Um filme passadista, com delicioso sabor de matinê.

C&N

A princípio, o tom narrativo de “O Príncipe do Deserto” parece incômodo. Soa como algo antiquado, flerta com o novelesco. Mas logo se percebe a coerência da proposta. Trata-se de um trabalho com a pegada da velha Hollywood clássica do anos 1940. Repleta de príncipes heroicos, sultões poderosos, atores europeus fazendo papel de árabes, além de uma belíssima princesa, é claro. Fala de honra, tradições, religião e outros temas que hoje são rápida e precipitadamente taxados como piegas, mas que estão na base de toda e qualquer cultura. Tudo em clima de contos das mil e uma noites.
Estabelecida a sintonia entre o filme e sua proposta, e desfeita a sensação de desconforto, parte-se para a aventura de apreciá-lo. Mesmo porque o roteiro - adaptado do romance “Arab”, do escritor napolitano Hans Ruesh - é dos mais bem tramados. Nas primeiras décadas do século 20, o início da exploração de petróleo em regiões desérticas coloca em conflito dois sultões: o tradicionalista Amar (Mark Strong) e o progressista Nesib (Antonio Banderas). Amar não acredita nos valores que vêm do exterior, e para ele o petróleo significa pouca coisa além de emplastro para curar camelos. Nesib, que não se conforma por ter perdido sua esposa numa epidemia de cólera, vê no petróleo uma oportunidade de equiparar seu pequeno sultanato às mais poderosas fortunas europeias. Cada um deles interpreta o Corão da forma que melhor lhe convier.
Nesta luta entre conservadores ortodoxos e progressistas liberais, um dos grandes méritos do ótimo roteiro é evitar heróis e vilões: cada governante tem suas argumentações e motivos, sem maniqueísmos, com bons questionamentos das diferentes formas de encarar a realidade. Resiste-se até à eterna tentação de demonizar a presença norte-americana na região. Conflitos familiares que se sobrepõem aos políticos ajudam a esquentar ainda mais a trama, repleta de opções.
Dirigido por Jean-Jacques Annaud (o mesmo de “O Nome da Rosa”, 1986, e “Círculo do Fogo”, 2001) e coproduzido por França, Itália e Catar, o filme traz ainda uma bela trilha sonora assinada por um James Horner que não fez questão alguma de disfarçar sua inspiração nos antigos clássicos.
Emoldurando tudo, escaldantes locações na Tunisia e no Catar fazem de “O Príncipe do Deserto” um filme passadista, com delicioso sabor de matinê. Não de Sessão da Tarde, mas de matinê. Para quem se lembra do que a palavra significa.
O Príncipe do Deserto (“Black Gold - França / Itália / Qatar - 2011 - 130’) Direção: Jean-Jacques Annaud Com: Tahar Rahim, Mark Strong, Antonio Banderas, Freida Pinto e Riz Ahmed, entre outros.
Distribuição: Warner Bros. Pictures

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