21 de julho de 2012

“A montanha dos sete abutres”


A montanha dos sete abutres
Não perca a oportunidade de assistir (ou rever).
C&N
Clássico de Billy Wilder sobre ética jornalística e a imprensa sensacionalista, com teor bem atual. Como de praxe, Wilder trabalhou como um artesão nesse projeto de inteira pessoalidade. Na vida real, antes de ser diretor de cinema era jornalista atuante emViena e Berlim, na década de 1920, quando saiu do país natal, aPolônia. As impressões sobre a profissão jornalística estão nítidas, bem como o posicionamento cínico e ácido sobre a imprensa, que está aquém da função de informar.
Aqui a rotina sem brilho de um veterano repórter prestes a ser demitido de um grande jornal vira uma jornada decisiva rumo ao estrelato. Kirk Douglas está no melhor momento da carreira na pele de Chuck Tatum, esse cidadão em busca de uma guinada na vida profissional. Sem escrúpulos, sem ética e sem ressentimentos, cria um circo assustador em torno de um desabamento que descobre ter ocorrido há poucos minutos. Debaixo dos escombros, uma vítimaà espera de socorro (papel de Richard Benedict, como Leo Minosa, espécie de arqueólogo que procura indícios indígenas na região). Para ter o que quer (a notícia em primeira mão, símbolo da superioridade, e o consecutivo reconhecimento, que nada mais é que o poder), o repórter assume o lado cruel e individualista do ser humano deixando de lado quaisquer valores morais. Ele tem acesso exclusivo ao caso, invade aárea desmoronada, colocando a vida do outro em risco. Tatumpassa a mandar no lugar, não respeita autoridades e prolonga o resgate do ferido, tudo para que o fato em si fique exposto mais tempo na mídia.
Wilder propõe um estudo de personalidade. A ganância e a ambição custem o que custar. A ideia não fica longe do nosso dia a dia. O bombardeio de tragédias no noticiário ultrapassa qualquer senso de regras, no que chamamos de“espetacularização da notícia”.
Com o cinismousual, Wilder explora a conduta do ser humano e seus traços mais diabólicos. Por isso o título original é “Ace in the Hole”,expressão idiomática relacionada ao pôquer, que significa que o jogador tem “uma carta na manga” para vencer no final. E a fabulosa tradução, “A montanha dos sete abutres” (nome dado à montanha onde a vítima fica soterrada), não reduz essa perspectiva da banalização para com o outro: o repórter do filme, assim como a mídia sensacionalista, é um abutre,“comedor de gente”.
Indicado ao Oscarde melhor roteiro em 1952 e vencedor do prêmio especial dedireção no Festival de Veneza, onde também concorreu ao Leão de Ouro, o drama não dá margem aos personagens secundários, sempre em plano inferior ao do terrível protagonista – no elenco estão Jan Sterling, Robert Arthur e Porter Hall.
Influenciou Costa-Gavras, que dirigiu um de seus filmes politizados de alto nível sobre a mídia e o sensacionalismo, “O quarto poder” (1998), com John Travolta e Dustin Hoffman. Ambas as obras se completam.
Não perca a oportunidade de assistir (ou rever) “A montanha dos sete abutres”, genial trabalho de Billy Wilder, lançado em DVD pela primeira vez pela Paramount. Um primor.
A Montanha dos Sete Abutres (“Ace in the Hole- EUA - 1951 - 111’) Direção:Billy Wilder Com:Kirk Douglas, Richard Benedict, Jan Sterling, Robert Arthure Porter Hall,entre outros.
DVD - Menu interativo- Seleção de cenasTela: Tela Cheia(4:3) Áudio: Dolby Digital (2.0) Idioma: inglês Legendas: português Extras:sem extras Distribuição:Paramount Pictures

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