10 de julho de 2012

“Coutinho na Área”


Coutinho na Área

Tempos de homens simples e futebol complexo.
C&N
Futebol é coisa séria. O mundo para quando a bola rola. Aqui na cidade de Santos, de onde escrevo essas indecisas linhas, existe um sentimento especial com respeito ao esporte bretão. Foi daqui que nasceu e partiu para o planeta o esquadrão mais cultuado e vitorioso que se tem notícia.
No Rio se vê, volta e meia, um famoso ator num restaurante, ou na praia. Aqui vemos os boleiros, a maioria com seus cabelos brancos, ou sem, caso do José Macia, o Pepe, apelidado de Pouca Pena, pelo Adão, mais conhecido como Coutinho, o seu apelido mais conhecido, já que seu nome é Antonio Wilson Honório.
Sua mãe o chamava de Cotinho, de tão miudinho, lá em Piracicaba, sua cidade natal. O menino veio para Santos, foragido, saltando a janela e o muro de sua casa, enfeitiçado pelo time que se apresentou e que o transformou para sempre. Abraçado no alambrado ao lado do campo o menino de treze anos viu Pagão, Pelé e Pepe e a partir daí sabia o que queria, fazer parte daquele time, daquela vida que se mostrava pela primeira vez.
Antes dos 15 anos, ele estreou como profissional, jogou mal, na sua principal jogada ele driblou um, dois, três, só daí notou que estava em sentido contrário, correndo para a defesa. Naquele tempo existia a vergonha, e o menino sofreu. Estava decidido a voltar pro interior, no que foi impedido pelos mais velhos.
Tempos de homens simples e futebol complexo, camaradagem e pouco dinheiro.
Estou sob o efeito deste clima e destas histórias: acabamos de lançar a biografia do Coutinho pela nossa praiana editora.
Algumas destas histórias ouvi num botequim bem em frente à Vila Belmiro, local que recebeu novamente o nosso craque, agora para celebrar a sua história. Depois dos muitos autógrafos a sede tomou conta do pessoal, que não queria saber de vinho espumante e muito menos água. Direto ao bar do Alemão, um torcedor raro do Santos, tão fanático que tatuou na testa o escudo do clube. Nos instalamos e recomeçamos a festa, agora entre sambas e boleiros.
Na mesma mesa: Negreiros, Mengálvio, Coutinho, Maneco e nós, os pernas de pau.
O Pepe já havia partido, foi um dos últimos a chegar e saiu logo. Estranhei o seu atraso e resolvi ligar. Quando ele atendeu notei um tom de surpresa. Falei: Pepe, meu best-seller! Tem alguém esperando por você... o Coutinho!
E ele: Ai meu Deus, vai ser na livraria?
- Não, Pepe, na Vila pô!
- Fala pra ele que estou indo!
Quando o nosso querido Canhão da Vila entrou na sala de troféus foi uma alegria geral. Coutinho brincava: Estava de pijama? Te acordaram?
Pepe o abraçou, os fãs se amontoavam entre máquinas fotográficas e autógrafos.
Eu entendo que o Pepe tenha que ser lembrado para ir em mais um evento, estas emoções de hoje, os autógrafos, as lembranças e os causos são muito menos emocionantes para eles do que as glórias vividas nos gramados dos quase 80 países pelos quais se apresentaram para reis e plebeus, presidentes e papas, sendo os melhores do mundo.
Nada se compara à comemoração de um gol, numa final, com uma multidão gritando o seu nome.

Já para nós, foi o máximo!

Coutinho - O Gênio da Área
Autor: Carlos Fernando Schinner Editora: Realejo Edições Quanto: R$ 48

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