23 de julho de 2012

‘‘Matar ou Morrer”: 60 anos


‘‘Matar ou Morrer: 60 anos
Dirigido por Fred Zinnemann, o filme tornou-se um dos melhores westerns de todos os tempos.
C&N
Em um cinema de Nova York, em 24 de julho de 1952, aconteceu a estreia oficial de “Matar ou Morrer” (High Noon) que, dias antes, havia sido projetado na Suécia. Na história da Sétima Arte, ocupa um lugar de honra: dificilmente alguém deixa de mencioná-lo como um dos melhores filmes de todos os tempos e um dos cinco ou seis melhores westerns já feitos. O curioso é que o seu diretor, o austríaco Fred Zinnemann (1907-1997), não era um especialista nessa área, como John Ford ou Delmer Daves. Detentor de três Oscar, Alfred Zinnemann (seu nome de batismo, ao nascer em Viena), nunca vacilou em enfrentar os mais diversos gêneros. Tanto no thriller (“O Dia do Chacal”), no drama de guerra (“A Um Passo da Eternidade”) e até no musical (“Oklahoma”), saiu-se bem. Mas um exame mais apurado de sua pequena filmografia (46 títulos, incluindo 19 curtas desde 1930 até 1986) demonstra que, em quase todos os longas que fez, com roteiros e histórias de autores bem diversos, ele sempre enfatizou o drama de consciência do protagonista ou dos principais personagens em função da situação central, e menos o lado mais físico do conflito. Foi assim, por exemplo, em “O Homem que não Vendeu a Sua Alma”, onde o estadista inglês Thomas Moore é provocado pela intransigência de seu superior, o Rei Henrique VIII, no desejo de se divorciar de Ana Bolena. Ou em “Uma Cruz à Beira do Abismo”, em que a freira interpretada por Audrey Hepburn vê horrores na África, que a levam questionar a sua escolha monástica.
O mesmo sucede em “Matar ou Morrer”. Ninguém deve esperar tiroteios em profusão, típicos do gênero. O que se sobressai é o drama intimo do xerife Will Kane (Gary Cooper, em atuação premiada com o Oscar). Prestes a viajar em lua de mel com Amy (Grace Kelly, no seu segundo trabalho para o cinema, antes só havia atuado em telefilmes), ele fica sabendo da iminente chegada do criminoso Frank Miller (Ian MacDonald). Mesmo em licença, Kane se considera responsável pela nova detenção desse facínora e seus companheiros, porque ele o havia prendido anteriormente. Mas espera contar com ajuda. Ao buscá-la, surgem as dificuldades que devem ser vencidas até o meio dia (a razão do título original), horário em que chega o trem trazendo Miller.
Com roteiro do intelectual Carl Foreman (ganhou o Oscar de 1957 da categoria por “A Ponte do Rio Kwai”), adaptado de uma história de John W. Cunnighan, o filme é um impressionante registro da tendência à covardia, mesmo diante de uma situação perigosa e decisiva no plano coletivo. E o diretor foi sensível e habilidoso para escapar do tradicional chavão do herói seguro e altivo para mostrar um Kane vulnerável, com medo. Daí as cenas onde aparecem o seu suor e o tremor das mãos. Nada mais natural, mas algo singular até então nos bangue-bangues. É um dos muitos méritos deste western racional produzido por Stanley Kramer (1913-2001), que pautou a sua carreira propiciando longas que iam contra a maré de Hollywood, escolhendo temas nada convencionais e algo políticos ou sociais. Assim foi em alguns que só produziu (este e “O Selvagem”), e naqueles que também dirigiu, como “Acorrentados” e “Julgamento em Nuremberg”. Aqui, as questões do medo e da falta de solidariedade geram a reflexão. Há também os que enxergam na trama uma parábola do clima de temor na Hollywood daquela ocasião, gerado pela famosa “caça às bruxas”, como ficou conhecida a terrível comissão de inquérito presidida pelo senador MacCarthy, que reprimiu a liberdade de expressão e ideológica, perseguindo muita gente nos Estados Unidos, dos anos de 1950 (Foreman inclusive).
Vencedor de quatro Oscar (música de Dimitri Tionkin, canção dele e de Ned Washington, montagem de Elmo Williams e Harry Gerstad, e a atuação de Cooper), “Matar ou Morrer” foi finalista nas categorias de filme e direção, perdendo para “O Maior Espetáculo da Terra” e John Ford por “Depois do Vendaval”, respectivamente. Hoje, 60 anos depois, além de confirmar Fred Zinnemann como o grande cineasta da ética, e de ser incluído no livro “1001 Filmes para se Ver Antes de Morrer e outras listas similares, esta obra prima em preto e branco é também um dos melhores westerns (senão o melhor) de todos os tempos. Veja aqui o trailer original de Matar ou Morrer
Alfredo Sternheim é cineasta, jornalista e escritor
Matar Ou Morrer (“High Noon” Estados Unidos - 1952 - 84’) Direção: Fred Zinnemann Com: Gary Cooper, Thomas Mitchel, Lloyd Bridges, Katy Jurado, Grace Kelly, Otto Kruger, Lon Chaney Jr., Ian MacDonald, Lee Van Cleef, entre outros.
DVD: Menu interativo - Seleção de cenas Tela: Fullscreen (1.78) Áudio: Dolby Digital (2.0) Idioma: inglês Legenda: português, espanhol e inglês
Distribuição: Paramount Home Entertaiment

Nenhum comentário:

Postar um comentário