30 de julho de 2012

‘Smash’


Smash

O show traz intriga, trama ágil, boa música e excelentes profissionais em cena.
C&N
Terminou em maio passado a exibição da 1ª temporada da série norte-americana Smash, aqui no Brasil. Recebida pela crítica americana como um Glee para adultos - para o bem e para o mal - Smash acabou se revelando muito mais que isso.
Descontados os tradicionais truques utilizados por qualquer roteirista de série televisiva, Smash acabou cativando pela trama bem novelesca - não faltaram os vilões de plantão e a mocinha ingênua - e pelo extremamente bem cuidado acabamento das cenas de palco, algo incomum em produções do gênero.
Outro fator fundamental para o sucesso do seriado foi a própria metalinguagem que o tema permitia: a trama gira em torno da montagem de um grande musical da Broadway, baseado na vida de ninguém menos que Marilyn Monroe, uma das figuras mais expostas na mídia mundial, desde sempre. Tarefa ingrata, na medida em que já foram inclusive desenvolvidos alguns projetos neste sentido - fracassos retumbantes como, por exemplo, "Marilyn: An American Fable", de 1983, com Alyson Reed, Scott Bakula e Will Gerard, numa carreira de apenas 34 apresentações -, além de uma série de tentativas de adaptação do material para o cinema também - a mais recente realiza um recorte em determinada fase da carreira da musa, Sete Dias com Marilyn (My Week With Marilyn, 2011) - sem alcançar também grandes resultados. Ou seja, o trabalho definitivo sobre a atriz ainda está por vir.
O que cativa em Smash é o fato de, apesar da definição clara dos personagens, sempre há espaço para surpresas. E estas surpresas tanto podem acontecer no desenho dos personagens, quanto em participações inusitadas no próprio elenco. Grande parte dos atores já tem experiência prévia na Broadway - alguns inclusive com vasta experiência - e alguns aparecem completamente deslocados de suas habilidades, o que também é muito divertido.
A jovem e ingênua aspirante a estrela, Karen Cartwright (Katharine McPhee, egressa do American Idol, confirmando a máxima de que não é necessário ganhar o programa para se projetar - vide Jennifer Hudson), talentosíssima e sem nenhuma experiência de palco (ou dos meandros da profissão), é presa fácil da também muito talentosa - porém muito mais experiente e com muito menos escrúpulos - Ivy Lynn (Megan Hilty, que na Broadway já fez Wicked, 9 to 5 e, recentemente, Os Homens Preferem as Louras), que não poupa esforços para ascender na carreira e alcançar o papel principal na produção. Nem que para isso tenha que se tornar amante do diretor, o egocêntrico - porém brilhante - Derek Wills (Jack Davenport, de Piratas do Caribe, fantástico aqui neste papel), que apesar de reconhecer o talento de Ivy, percebe também o algo a mais que Karen tem como potencial, e fica dividido entre a experiência (aposta segura) e o talento bruto (risco para a produção).
O espetáculo em produção, batizado de Bombshell, é de autoria de Julia Houston e Tom Levitt. Julia (Debra Messing, de Will & Grace, tentando aqui fugir da persona comediante, mas ainda muito parecida com Lucille Ball) é casada com o professor Frank Houston (o talentosíssimo Brian d'Arcy James, o Shreck da versão musical da Broadway, aqui completamente subaproveitado) e tem um filho adolescente, Leo (Emory Cohen). Já Tom (Christian Borle, de versão dos palcos de Legalmente Loira, e prêmio Tony por Peter and the Starcatcher) é o músico da dupla, homossexual de instável vida amorosa. A produtora, Eileen Rand (Anjelica Huston, Oscar por A Honra do Poderoso Prizzi), tenta sobreviver a um complicado processo de divórcio, enquanto tenta levantar o dinheiro da produção.
Há ainda o namorado de Karen, o inglês de origem hindu Dev Sundaram (Raza Jaffrey); e o viperino assistente de Eileen, Ellis Boyd (Jaime Cepero), que não exita em destruir o que vir pela frente para se tornar produtor, compondo o núcleo principal da série.
E, o mais divertido, as participações especiais, que acontecem em quase todos os episódios, de astros (alguns apenas nos palcos, desconhecidos por aqui) em pequenas pontas, geralmente fora de seu habitat: a assistente do diretor, Linda (Ann Harada, do elenco original de Avenue Q, na Broadway); o ator Michael Swift (Will Chase, que na Broadway esteve em Rent, Aída e Billy Elliot); Becky Ann Baker e Dylan Baker, casados na vida real e aqui fazendo os papeis de pais de Karen (estiveram juntos na Broadway em Deus da Carnificina, entre outras); Lyle West (Nick Jonas, dos Jonas Brothers, que já esteve em How to Succeed in Business...); Kevin Chamberlin, que fez o zelador de um prédio e na Broadway foi o Tio Fester da Família Addams; Terrence Mann, que fez um dos investidores no show, e na Broadway é uma lenda, tendo sido o Javert original de Les Misèrables; Uma Thurman, como Rebecca Duvall (indicada ao Emmy 2012 pelo papel), a estrela de cinema trazida para o show com resultados catastróficos; e a diva da Broadway, Bernadette Peters, fazendo a mãe de Ivy, Leigh Conroy, uma diva da Broadway (claro). Espera-se ainda, para a próxima temporada, a entrada no elenco de Jeremy Jordan, que recentemente fez Bonnie & Clyde e atualmente está no elenco de Newsies, na Broadway.
E tudo isso temperado com belíssimos números coreográficos que, a exemplo de outras produções recentes, de palco e tela, não acontecem aleatoriamente, mas sempre sobre o palco, ou na imaginação de algum dos personagens, com resultados surpreendentes. Outro fator interessante é a estratégia de não se apresentarem muitos standards da Broadway na trilha sonora (já à venda no exterior, apesar de incompleta), mas sim uma série de canções pop atuais (com direito a Adele, Christina Aguillera e Snow Patrol) reinterpretadas pelo elenco, assim como canções originais, criadas para o show dentro do show, por Marc Shaiman e Scott Wittman (criadores, entre outros, do megasucesso da Broadway Hairspray), e clássicos da canção norte-americana. Ah sim: um dos produtores executivos da série é ninguém menos que Steven Spielberg. Ou seja, qualidade de produção garantida.
Então, não é necessário ser fã de musicais para se divertir com Smash. O show traz intriga, trama ágil, boa música e excelentes profissionais em cena. O que é muito mais que se pode esperar da atual safra de comédias insossas – salvo exceções, claro - séries policiais e vampirescas da TV norte-americana.
No Brasil, a série é apresentada pelo Universal Channel, e tem a 2ª temporada prevista para começo de 2013. O jeito é esperar, se possível contando com reprises da excelente 1ª temporada.

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