“O Espetacular Homem-Aranha”
Se Marc Webb não traz nada de novo, ele certamente
honra
os quadrinhos.
C&N
A
decisão da Sony em recomeçar a
franquia do Homem-Aranha sem o diretor Sam Raimi e o
ator
Tobey Maguire gerou uma discussão intensa. Isso foi certo ou errado?
Cedo
demais ou mais do que na hora? Discussão esta que não foi levantada à toa,
afinal o reboot, que também é um remake,
surgiu
apenas cinco anos depois do último filme da série. E uma década após o
primeiro
Homem-Aranha. De fato, um intervalo bem curto. Mas a
pergunta
deveria ser: “Qual é a hora certa para se fazer um
remake ou um
reboot?”
Enquanto
sabemos a resposta para a pergunta e,
mesmo assim, não fazemos nada para mudar essa tendência hollywoodiana,
O
Espetacular Homem-Aranha (The Amazing Spider-Man, 2012)
precisa ser analisado pelo filme que é. Embora seja difícil (e muito) não
compará-lo ao longa de 2002. Pelo menos em sua primeira metade, focada na
transformação do jovem, pobre e órfão Peter Parker no
super-herói
que amamos.
Marc
Webb, que fez do indie
500 Dias Com Ela, uma das melhores comédias românticas da
década
passada, foi chamado para reiniciar a série. Não por ser um grande
entendedor do
personagem e suas aventuras. Mas – vejam só a cabeça do estúdio – pela
história
de amor contada em seu filme anterior. Por se concentrar no lado
humano, algo que muitas vezes fica em segundo ou terceiro plano em
filmes do
“gênero”. Isso não quer dizer que precisamos ver o caminho inverso, com
Sam
Raimi dirigindo um filme como 500 Dias Com Ela. Ok,
Hollywood?
Bom, aos
poucos,
Andrew Garfield, como o novo Peter Parker, vai tomando
conta da tela. Ainda tímido, com dificuldade pra falar com mulheres – como
conhecemos o personagem dos quadrinhos. Sua atuação é soberba para este tipo
de
filme. Com a câmera de Webb bem perto de seu rosto e suas ações,
Garfield faz a plateia esquecer Tobey Maguire em poucos
minutos. O
que não quer dizer que ele seja melhor, mas o ex-Homem-Aranha
não
faz falta. É fácil se reconhecer em seu Peter Parker, pronto
para
descobrir quem é (e o que é) num mundo acelerado, em constantes mudanças,
lotado
de pessoas eternamente em conflito, competindo umas com as outras. Todo
adolescente enfrentou (ou enfrentará) uma pressão dessas. Com
Webb
concentrado nas relações humanas, a grande diferença de Parker
para a sua entrada forçada no mundo adulto não é a picada da aranha, mas a
morte
de seu Tio Ben (Martin Sheen) e o dia a dia com a nova
namorada,
Gwen Stacy (Emma Stone).
O
problema é que o filme de Sam
Raimi também era assim, embora chegue a esse ponto da história de forma
mais
rápida e precisa. Raimi se abraçou mais à fantasia, mas nunca
abdicou
da humanidade de Peter Parker, como um jovem comum
arremessado
num universo extraordinário sem mais nem menos. Marc Webb se esforça
para
trazer um pouco de realismo à história que já conhecemos, e enrola mais pra
chegar até o momento em que Parker veste o uniforme vermelho e
azul. E essa vontade de contar a saga de um super-herói num cenário urbano e
real funciona até a hora em que o vilão Lagarto surge na tela,
dando um baque e tanto nos olhos da plateia; uma contradição
violenta,
com a fantasia tomando de assalto a realidade, algo que atrapalha o filme
por
alguns minutos.
Mas Marc
Webb retoma a direção se agarrando à
química entre Andrew Garfield e Emma Stone, que é o grande
trunfo
de O Espetacular Homem-Aranha, deixando o casal Tobey
Maguire/Kirsten Dunst no chinelo. Você vai se pegar torcendo por
eles.
O
diretor também se sai bem nas
cenas de
ação, embora filme todas elas à noite para disfarçar qualquer
“defeito especial” (com exceção de uma luta no interior da escola), e
não
entregue nada tão empolgante quanto a sequência do trem
(rodada
durante o dia) em Homem-Aranha 2, ainda o melhor de
todos.
O novo
filme ainda dá uma atenção
exagerada a um mistério envolvendo os pais de Peter
Parker. Uma abordagem que parece ser inicialmente equivocada. Até
porque
no decorrer da trama, ela é esquecida, sendo lembrada somente numa
cena
surpresa nos créditos finais. Será que precisava disso tudo para
explicar
o que Parker sente por ser órfão? Precisava tocar no assunto
se a
trama será desenvolvida somente num próximo filme? O roteiro
também apronta uma coincidência de novela das oito aqui e ali para
justificar as
ligações entre os personagens principais, mas, no fim, o resultado é
positivo.
O
fato é que Homem-Aranha
1
e 2, de Sam Raimi, foram feitos numa época em que
Hollywood via as adaptações de HQs com outros olhos. O clima era de
total fantasia, porém muito mais adulto que o tom carnavalesco
das
produções do gênero nos anos 1980 e 90. Mas ainda não tinha os
pés no chão dos dias de hoje, como se realmente um super-herói
pudesse
existir em nosso mundo real. Mas os filmes de Raimi já refletiam uma
seriedade incomum por trás das câmeras graças ao sucesso de O Senhor
dos
Anéis, que fez a indústria entender que um
blockbuster
pode e deve ser inteligente e, consequentemente, levado a
sério.
Em 2012, queira ou não, a época é outra. Ainda mais depois do
Batman de Christopher Nolan, que chegou ao máximo da
realidade. Embora o sucesso de Os Vingadores tenha
comprovado
que a fantasia exagerada também tem espaço e que não existe
regra
alguma a ser seguida.
Se Marc
Webb não traz nada de novo, ele
certamente honra os quadrinhos. Tanto o seu filme de origem quanto o
de
Webb podem existir sem problemas no mesmo universo. E talvez a saga
de
O Espetacular Homem-Aranha siga bem o seu caminho numa
inevitável sequência, com o público devidamente acostumado com as novas
caras e
os novos estilos. Até porque o Aracnídeo sempre foi o herói
ideal de Hollywood. O sujeito que deixa sua vidinha comum para viver
grandes
aventuras, um mundo maior, como o herói predestinado a ter papel fundamental
na
luta do bem contra o mal. Como Matrix e
Avatar.
E ele ainda é órfão a exemplo de outros heróis improváveis, como
Frodo, Harry Potter e Luke
Skywalker.
Como os protagonistas das sagas de J.K. Rowling e George
Lucas, o
novo Peter Parker ainda lida com o misterioso passado de seus
pais, enquanto tenta encontrar de vez a sua verdadeira identidade. Não é por
acaso que ele tire e coloque a máscara rapidamente – e tantas vezes –
no
filme de Marc Webb.
“O Espetacular
Homem-Aranha” (“The Amazing Spider-Man” -
EUA - 2012 -
136’) Direção:
The Amazing Spider-Man Com:
Andrew Garfield, Emma Stone, Rhys Ifans, Sally Field e Martin
Sheen, entre outros. Distribuição: Sony
Pictures
Acesse: www.hollywoodiano.com.
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