30 de julho de 2012

‘‘Sete Dias com Marilyn”


‘‘Sete Dias com Marilyn
Centralizado na mítica atriz, longa vale também pela recriação de uma filmagem atribulada.
C&N
No próximo dia 5, completam-se 50 anos da morte de Marilyn Monroe (1925-1962). Oficialmente causada por overdose de remédios, na ocasião e mesmo depois, proliferaram textos a respeito de seu óbito. Enquanto ganhava mais espaço a hipótese de um assassinato por encomenda, provocado por seu envolvimento carnal com Robert Kennedy, então ministro da Justiça dos Estados Unidos, e irmão do presidente John Kennedy, perdia força a de suicídio ou acidente. Diante dessas duas possibilidades, alguns apontaram a indústria de Hollywood, em especial a Fox, como responsável por seu falecimento. É que, dias antes, ela havia sido despedida daquele estúdio devido aos constantes atrasos e ausências nas filmagens de “Something’s Got to Give” que estava sendo dirigido pelo veterano e competente George Cukor (“A Dama das Camélias”, “Nasce uma Estrela”). Uma decisão drástica que, após a morte, gerou acusações tipo “frieza do sistema” ou “desumanidade de Hollywood”. E até mesmo uma canção, “Who Killed Norma Jean?” (o nome verdadeiro de Marilyn), foi lançada. Uma indignação injusta, afinal ela não é a única atriz do planeta a sofrer tal tipo de retaliação por causa dessa ausência de profissionalismo e que causa muitos prejuízos criativos e financeiros aos responsáveis por qualquer filme. Em diversas nações, muitos intérpretes já tiveram as suas carreiras prejudicadas por conta de comportamentos similares. E a deusa loira já tinha um histórico a respeito, marcante em 1961 na feitura de “Os Desajustados (“The Misfits”), com roteiro de seu então marido, o dramaturgo Arthur Miller.
Sete Dias com Marilyn (“My Week with Marilyn”) traz justamente um período da vida dela onde essa conduta aparece com destaque. Tendo por base dois livros de memórias de Colin Clark, evoca momentos da atriz na Inglaterra de 1956, quando atuava em “O Príncipe Encantado”, uma adaptação da peça de Terence Rattigan onde interpretou a corista Elsie que desperta a paixão de um nobre. Narrado na primeira pessoa por Colin (Eddie Redmayne, o Jack da série “Os Pilares da Terra”), então um dos assistentes de direção, mostra as complicações geradas pela instabilidade e atrasos de Marilyn na filmagem. Sir Laurence Olivier (Kenneth Branagh), que também fazia o papel do príncipe, era o diretor e seu nervosismo vai aumentando diante da insegurança e indisciplina da sua protagonista. Clark é quem tem mais chances de melhorar o clima da produção, pois ela se afeiçoa ao rapaz.
Dirigido com eficaz simplicidade por Simon Curtis (mais conhecido por telefilmes britânicos), “Sete Dias Com Marilyn” não se preocupa em ir além das memórias de Clark sobre esses agitados dias de sua juventude. Mesclando deslumbramento pelo ídolo e pelo cinema, o autor nos mostra a Marilyn exaustivamente descrita por aqueles que a conheceram: amável, intimamente indecisa e incapaz de ter uma correta percepção da realidade que a cercava. No caso, uma produção da qual era sócia. E de acordo com o roteiro de Adrian Hedges, essa visão centrada nela mesma era reforçada (ou não era enfrentada) por aqueles que a cercavam. Como o seu sócio e agente Milton Greene (Dominic Cooper, de “O Dublê do Diabo” onde está excelente em papel duplo), o seu marido Arthur Miller (Dougray Scott, o melhor do filme em semelhança física com personagem verídico), e a sua pessoal, Paula Strasberg (Zöe Wanamaker), filha de Lee Strasberg, o criador e principal professor do Actors Studio. As suas interferências exasperavam Oliver, como aconteceria com qualquer diretor. Isso se repetiu com outra personal director de Marilyn, uma russa, no inacabado “Something’s Got to Give”; o sereno Cukor perdeu a paciência, conforme se percebe nos extras da Coleção Marilyn Monroe
Michelle Williams é quem tem mais responsabilidade no elenco. A tarefa de interpretar uma personalidade mítica torna-se mais difícil quando ela tem a sua imagem em frequente exposição na mídia e nas exibições de seus filmes em salas e no lar. Caso da deusa de Hollywood. Laureada com vários prêmios (inclusive o Globo de Ouro) e finalista ao Oscar, Michelle não consegue ser uma plena Marilyn: faltou a brejeirice que ela sempre transmitia, e sobrou uma expressão severa que ajuda a expressar o desamparo da falecida atriz. Mas o seu trabalho não comprometeSete Dias com Marilyn”, que vale principalmente como uma homenagem ao cinema, um retrato das dificuldades que existem na realização de um filme. É ainda uma ode ao trabalho e a dedicação de um assistente de direção, talvez a primeira da história do Cinema.
Alfredo Sternheim é cineasta, jornalista e escritor
Sete Dias com Marilyn (“My Week with Marilyn” - Inglaterra/Estados Unidos - 2011 - 99´) Direção: Simon Curtis Com: Michelle Williams, Eddie Redmayne, Kenneth Branagh, Judi Dench, Emma Watson, Dominic Cooper, Zöe Wanamaker, Douglas Scott, Julia Ormond, Toby Jones, Jim Carter, Derek Jacobi, entre outros
DVD: Menu interativo - Seleção de cenas Tela: 16.9 Wildscreen Anamórfico Áudio: Dolby Digital (5.1) Idioma: inglês e português Legenda: português e inglês
Distribuição: Imagem Filmes

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