2 de julho de 2012

‘‘O Último Dançarino de Mao”


‘‘O Último Dançarino de Mao
História verídica que tem balé e repressão oficial rende emocionante filme de Bruce Beresford.
C&N

Seja para o simples apreciador ou para quem está, profissionalmente, envolvido com o balé, ele sempre transmite uma poderosa sensação de liberdade. Os movimentos corporais concebidos e executados em função de determinadas músicas, geralmente permitem momentos de êxtase, de fluídos libertários. Daí ser, à primeira vista, inconcebível que um elemento dedicado a essa arte, onde se equilibram energia física e alma sensível, tenha que enfrentar condutas repressivas. Mas essa luta existe. E a História já mostrou alguns exemplos de dissidência nessa área. Caso dos russos Nureyev e Baryshnikov, quando eram tutelados pelo regime da antiga União Soviética.
O Último Dançarino de Mao” (“Mao’s Last Dancer”) nos conta uma saga similar e verídica: a de Li Cuxin. O filme começa nos anos 1980, com sua chegada a Houston, nos Estados Unidos. Ele foi convidado para atuar com o famoso balé daquela cidade do Texas. Não demora para surgir um flashback que o mostra menino, em 1972, na província de Chandong, na China. Surgir a chance de ele ser escolhido por emissários oficiais do governo de Mao Tse Tung para estudar balé em Pequim. Na capital, começa a longa fase de aprendizado. Já adulto, se destaca em uma apresentação para a visita de uma turma do balé de Houston. Não demora a ser enviado pelos governantes chineses à nação americana, então apresentada como símbolo da perversidade capitalista.
Com uma narrativa que alterna presente e passado, o novo mundo e o antigo de Li, o australiano Bruce Beresford faz mais uma realização original na trama e no enfoque, que privilegia um choque cultural ou uma troca de modus vivendi. Foi assim em “Conduzindo Miss Daisy” (Oscar de melhor filme em 1989), “Mister Johnson” e “Hábito Negro”. Aqui, é uma criatura nascida e educada sob tutela preconceituosa e repressiva, que se instalou na China após o surgimento da Republica Popular em 1949, que se vê diante de uma maneira de viver diferente e melhor, sem as amarras autoritárias do governo liderado por Mao Tse Tung de 1949 a 1976, ano da morte desse ditador. Prestes a completar 72 anos, Beresford mostra criativa vitalidade e incrível linguagem, eficiente e moderna para conduzir o enredo. Com poucos takes, já transmite o encantamento e a surpresa do protagonista diante da moderna América e da natural afetividade que as pessoas demonstram. O sucesso profissional e a conduta espontânea, sem nenhuma orientação ou ameaça autoritária ou partidária, agregam em Li uma necessidade de ser livre que antes, sob o domínio do medo e no convívio com o autoritarismo, não existia nele.
Embora resvale em certa pieguice, “O Último Dançarino de Mao” comove em muitas cenas e resulta em filme belo e perturbador, que nos leva à reflexão sobre nossa tolerância com nações repressivas. É lícito aceitar relações com Cuba, China e outros países que desrespeitam direitos humanos, devido apenas às relações comerciais . Emociona? Acho que não.
Alfredo Sternheim é cineasta, jornalista, professor e escritor. 
O Último Dançarino de Mao (“Mao’s Last Dancer” - Austrália - 2008 - 117’) Direção: Bruce Beresford Com: Chi Cao, Bruce Greenwood, Penne Hackforth-Jones, Christopher Kirby, Suzie Steen e Madeleine Eastoe, entre outros.
Blu-ray: Menu interativo - Seleção de cenas Tela: Widescreen Anamórfico Áudio: DTS-HDMA (5.1) Idioma: português  e inglês Legenda: português  Extras: Ficha técnica / Trailers 
Distribuição: Califórnia Filmes

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