18 de maio de 2012

Camila Pitanga


Camila Pitanga
A atriz fala sobre o longa Eu Receberia as Piores Notícias de Seus Lindos Lábios”.
C&N
A estreia de Eu Receberia as Piores Notícias de Seus Lindos Lábios”, novo filme de Beto Brant e Renato Ciasca, brinda o público brasileiro com o momento alto da carreira de Camila Pitanga. Em sua passagem pelos festivais de cinema do país, o longa rendeu à atriz dois merecidos prêmios: Melhor Atriz no Festival do Rio e no Amazonas Film Festival.
As láureas vêm coroar um trabalho difícil e de grande intensidade dramática, que exigiu de Camila uma entrega que ela ainda não havia experimentado. ‘Acho que adquiri o gosto pelo risco. Fazer um trabalho mais radical, mais visceral, sair da área de conforto sempre foi um desejo meu’, revela a atriz nesta entrevista.
Paixão, adultério, religião e loucura se mesclam neste drama cuja trama principal se concentra num triângulo amoroso que envolve um fotógrafo de passagem pela Região Norte, Cauby, uma bela mulher de passado misterioso, Lavínia, e seu marido, um pastor engajado nas luta dos ribeirinhos. ‘Parece ser mais uma história de adultério, mas é muito mais quando você olha para a trajetória da personagem’.
De fato, Camila vive diferentes mulheres num mesmo papel, no qual vai da amante à mulher resignada de um missionário, de prostituta à louca. ‘São várias Lavínias que se apresentam ao longo do filme. Ela é uma personagem fascinante, uma mulher em trânsito e de crises fortes. É a personagem que toda atriz deseja encarar, mergulhar, enfrentar’, diz Camila.
Cumplicidade e liberdade - Eu Receberia as Piores Notícias de Seus Lindos Lábios” foi rodado no interior do Pará, às margens do Rio Tapajós e Arapiuns. ‘Era um lugar de muita luz, onde passei por uma rotina bastante gostosa, de acordar cedo, ensaiar, tomar banho de rio e só depois filmar’. Para Camila, a tensão vinha mesmo na hora de rodar as intensas e complexas cenas do filme. ‘Eu brincava com o Gustavo (Gustavo Machado, que interpreta Cauby) antes de começar o dia: E aí, pronto para o abismo?Todo dia era tenso porque as cenas de crise, de discussão, assim como as de sexo, são cenas de muita intimidade, estabelecendo nossa total cumplicidade e nosso temor mútuo’, conta a atriz, que pela primeira vez aparece nua em cena.
O abismo ao qual Camila se refere pouco tem a ver com as cenas de nudez ou sexo. ‘Sou filha de ator, não tenho problema com o corpo. Além disso, estava contracenando com dois grandes atores’. Para ela, o que a colocava às margens de um precipício dramático era a liberdade de criação dada por Beto Brant. ‘O abismo estava nesse modus operandi do Beto, que deixava sempre tudo muito aberto para o novo, para nossa criação ali, no aqui e agora. Isso por um lado é bacana, mas ao mesmo tempo é um abismo. É assustador quando você tem essa liberdade toda’.
Camila revela que o papel a colocou diante de seus próprios anjos e demônios. ‘A Lavínia me fez mergulhar em regiões nem um pouco confortáveis, mas os problemas dela eram problemas nossos. Estava todo mundo pensando e se emocionando com aquela história juntos. Foi um processo muito raro de cumplicidade entre toda a equipe’.
Durante as filmagens, a atriz tomou contato também com delicada situação das comunidades ribeirinhas, vítimas do desmatamento desenfreado da região. ‘Na época das filmagens, para denunciar a situação, eles fecharam um estreito do Rio Arapiuns para que nenhuma balsa carregada de madeira passasse. O Beto conseguiu, a partir desse episódio, estabelecer um diálogo muito feliz entre realidade e ficção ao trazer essa movimentação para o filme’, relembra a atriz, que faz parte da ONG Movimento Humanos Direitos (MHuD), dedicada ao combate do trabalho escravo no norte do país.
Instada a definir o que “Eu Receberia as Piores Notícias de Seus Lindos Lábios” representa em sua carreira, Camila abaixa a cabeça, reflete a resposta em silêncio por algum tempo e diz, convicta: ‘Este filme revela uma série de escolhas que venho fazendo há muito tempo, reúne qualidades que eu já buscava em minha vida. Tem desafio, intensidade, valor artístico e um pensamento crítico sobre o país’.

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