22 de maio de 2012

“The Last 5 Years”


The Last 5 Years
Cheio de melodias persistentes, através de suas belas letras, se conta uma história sincera e convincente’. Michael Kuchwara, Associated Press’.
C&N

Jason Robert Brown ganhou um Prêmio Tony por ter escrito o score de “Parade” (1998), mas o score dele que eu mais curto é o do musical off-BroadwayThe Last 5 Years”, vencedor do Drama Desk Award de 2002, de Melhores Música e Letras. Jason é um compositor que teve uma rápida ascensão, se casou com uma atriz muito batalhadora (Theresa O'Neill) e acabou se divorciando depois de cinco anos. Daí ele escreveu um musical sobre um autor que teve uma rápida ascensão e que se casou com uma atriz muito batalhadora, que acabou se divorciando depois de cinco anos. Parecido? Você decide.
Independentemente disso, a música e as letras são fabulosas, assim como são os dois atores principais. Sherie Rene Scott (Catherine) é uma daquelas raras criaturas que pode fazer comédia, drama, cantar debaixo de uma tempestade, e continuar bela. Seu marido é interpretado por Norbert Leo Butz (Jamie), antes de ganhar seus Tonys de Melhor Ator por “Dirty Rotten Scoundrels” (2005) e “Catch Me if You Can” (2011). Ele é encantador e engraçado, com um som único, que eu amo. Não há um diálogo o show inteiro, só música. O musical foi dirigido pela filha de Hal Prince - o ‘Príncipe da Broadway’ -, Daisy. E assim como o musical dirigido por Prince, “Merrily We Roll Along” (1981), “The Last 5 Years” é contado de trás para frente. Bem, Catherine conta a história de trás para frente, enquanto Jamie a conta para adiante. Desta forma, no começo do musical, Cathy está lidando com o recente rompimento do casamento e Jamie está prestes a conhecer a garota com quem ele casará.
Ambos os personagens são seres humanos completamente redondos com suas virtudes e defeitos: Jamie é esperto, espirituoso e realmente encantador, mas também um pouco cheio de si, enquanto que Cathy é entusiasmada, afetuosa e engraçada, mas tende a ver-se como uma vítima. O conceito ‘trás pra frente/em diante’ acrescenta imensamente para o conteúdo emocional do score: no exato momento onde as histórias do casal se sobrepõem cronologicamente, quando eles estão num barquinho no lago do Central Park, é de tirar o fôlego, e a sequência final é indescritivelmente tocante ("The Next Ten Minutes).
Jason Robert Brown é o pianista no CD do Original Off-Broadway Cast (Sh-K-Boom - 2002), e suas orquestrações são incríveis, incluindo gêneros como o pop, jazz, clássico, klezmer, latino, rock e folk. Só escutando para você conferir o que ele faz com a seção de cordas!
O show tem também seu alívio cômico: “Shiksa Godess” é um lenga-lenga engraçadíssimo de Jamie sobre a reação antecipada de sua mãe sobre ele estar saindo com uma gói (não-judia). Outro ponto alto é “The Schmuel Song”, onde Jamie conta a Cathy uma bem-humoradamente doce história que define o relacionamento deles.
Porém, os destaques vão para Movin’ too Fast e Summer in Ohio. “Movin’ too Fast” é a primeira canção de Jamie e descreve sua rápida ascensão à fama. Tem jazz e é cheia de energia, e Norbert Leo Butz tem alguns riffs audaciosos no meio. Eu sou totalmente obcecado com seu ‘r’, caipira vigoroso. Repare como ele pronuncia ‘skater’ e ‘later’. Você escutará ‘skateRRR’e lateRRR’. Adoro!
“A Summer in Ohio” é outro daqueles alívios cômicos que citei anteriormente. Cantado por Cathy, é uma visão engraçadíssima de um summer-stock (aquelas produções teatrais de companhias de repertório apresentadas durante o verão, no interior dos EUA). Consiste numa carta que Sherie está escrevendo para Jamie enquanto está se apresentando num destes summer-stocks em Ohio. Jason Robert Brown fez uma grande letra, que descreve estas produções teatrais perfeitamente. Geralmente você tem uma pequena trupe de atores que fazem uma infinidade de papéis por todo o verão, alguns apropriados, outros não. Shery então canta sobre um ator amigo que faz tanto Tevye (um velho judeu de “Um Violinista no Telhado”) quanto Porgy (um jovem negro de “Porgy & Bess”)! Hilário! Preste atenção em suas últimas notas... Um mi bemol fabulosamente beltado com direito a um riff de blues no final.
Embora a produção original, que resultou nesta gravação, tenha recebido críticas mistas e negativas e tenha encerrado a temporada rapidamente - somente dois meses - “The Last 5 Years” provou com o passar do tempo ser extremamente popular no circuito de teatros regionais americanos e mundo afora - em parte porque este musical de dois personagens requer um mínimo de cenários e figurinos, mas também porque oferece a excelência do score de Jason Robert Brown. Também se tornou cult, e já foi montado em dezenas de países como Israel, Argentina, Malásia, Alemanha, Grécia e Hungria. Segundo a agência MTI - Music Theater International, uma produção brasileira está marcada para estrear em 3 de agosto, em São Paulo, pela Bela Musicales Produções Ltda., companhia produtora de musicais, fundada pela cantriz Kiara Sasso (“Hair”, “Mamma Mia!”, “A Noviça Rebelde”) .
Algo autobiográfico, o show de Jason Robert Brown é mais um ciclo de canções do que um musical tradicional, o que não significa que careça de emoção ou teatralidade. “The Last 5 Years” é uma obra-prima moderna do teatro musical americano, e o CD com o elenco original é essencial na coleção daqueles que são apaixonados por esta forma de arte.
Cláudio Erlichman é publicitário e produtor cultural.

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