‘O dia em
que
tive três pais - Parte
II’
O segundo pai e o terceiro.
C&N
Seguindo o fio da
meada da
última crônica: estávamos digerindo a boca-livre na pousada dos autores, lá
na
Flip de 2005. Estávamos eu, minha mulher, a Ana
Cristina, e meus pais recém-adquiridos, o casal Zuenir e
Mary Ventura.
Fomos
caminhando
até o hotel onde estavam instalados - importante dizer que hospedagem eu
tinha,
não me alojei com os meus novos pais. Chegando ao destino, depois de uma boa
caminhada, nos despedimos e, após um breve silêncio, Zuenir comenta
com a
Mary que poderíamos ir todos jantar naquela noite. No meio do
convite,
enquanto balançávamos as cabeças em tom de sim, soubemos que iríamos antes
passar na pousada do Paulinho, para aí sim irmos todos.
Comecei a
entender
que
a mesa seria composta por Zuenir e esposa, eu e a Ana e
Paulinho... da Viola! A Ana me cutucava e cochichou:
Paulinho da Viola?? No que respondi: Shhhhhh! Faz de conta
que
é natural!
Saímos
saltitando:
imagina sair com essas figuras? Nem em sonho.
Naquela noite fazia
frio, o
que
fez o Paulinho da Viola sair da pousada Pardieiro
esfregando as mãos de um modo frenético, um pouco desconfortável até para
ele,
que gosta de calor.
No
sentamos num restaurante francês e
ele
logo pediu um vinho - fiquei no meu domínio, cervejeiro que sou. Mas não
houve
jeito, quando o vinho chegou, ele me estendeu o seu copo e falou:
Experimenta! Pensei rápido, aproximei o copo do nariz e me fiz de
neo-enólogo rodopiando o cálice e sentindo o aroma. No mesmo
instante passei para a minha mulher: Experimenta! Ela fez o mesmo -
rápida também, a Ana. Fiquei acanhado em dar uma golada no copo do
Paulinho.
O papo fluía muito bem,
causos do
samba com seus amigos, literatura e futebol. Paulinho é um grande
contador de histórias, meticuloso e cadenciado, sempre pontuado e acelerado
pela
sua esposa, a Lila.
A noite
avançava
e
num momento o pequeno Merlin estava cheio. Uma turma de
senhoras
bem distintas adentraram o recinto, e naquela meia-luz viram a nossa mesa.
Parabenizaram efusivas a apresentação da noite anterior de Paulinho de
Viola na abertura da Flip, cumprimentaram todos e, ao me
avistarem, disseram que eu também estava ótimo. Agradeci na hora.
Lila me
olhou e disparou: Você tocou ontem? - Não, apenas
aplaudi.
Pronto, fui confundido com o
filho do
Paulinho, o João Rabelo, grande violonista que rouba a cena
sempre
com um belo solo em meio ao show.
Meu terceiro
pai me
olhou
na hora, sacando rápido o engano, e disse pro seu agora filho que tudo
mudaria
daquela hora em diante, que achava que eu estava exagerando na bebida: meu
novo
pai era bem severo, além de bom observador.
Rimos
bastante e não explicamos nada
para a
senhora. Assim é mais engraçado.
De volta para a
pousada a
brincadeira continuava. Recebi um breve sermão do meu terceiro pai - aquelas
coisas: ele ficaria de olho em mim, eu tinha que me cuidar.
Nos
despedimos,
pedi a benção pro Zuenir, pro Paulinho e pro meu primeiro pai
só
consegui aqui em Santos, na volta daquela Flip
inesquecível.
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