28 de maio de 2012

‘O dia em que tive três pais - Parte II’


O dia em que tive três pais - Parte II
O segundo pai e o terceiro.
C&N
Seguindo o fio da meada da última crônica: estávamos digerindo a boca-livre na pousada dos autores, lá na Flip de 2005. Estávamos eu, minha mulher, a Ana Cristina, e meus pais recém-adquiridos, o casal Zuenir e Mary Ventura.
Fomos caminhando até o hotel onde estavam instalados - importante dizer que hospedagem eu tinha, não me alojei com os meus novos pais. Chegando ao destino, depois de uma boa caminhada, nos despedimos e, após um breve silêncio, Zuenir comenta com a Mary que poderíamos ir todos jantar naquela noite. No meio do convite, enquanto balançávamos as cabeças em tom de sim, soubemos que iríamos antes passar na pousada do Paulinho, para aí sim irmos todos.
Comecei a entender que a mesa seria composta por Zuenir e esposa, eu e a Ana e Paulinho... da Viola! A Ana me cutucava e cochichou: Paulinho da Viola?? No que respondi: Shhhhhh! Faz de conta que é natural!
Saímos saltitando: imagina sair com essas figuras? Nem em sonho.
Naquela noite fazia frio, o que fez o Paulinho da Viola sair da pousada Pardieiro esfregando as mãos de um modo frenético, um pouco desconfortável até para ele, que gosta de calor.
No sentamos num restaurante francês e ele logo pediu um vinho - fiquei no meu domínio, cervejeiro que sou. Mas não houve jeito, quando o vinho chegou, ele me estendeu o seu copo e falou: Experimenta! Pensei rápido, aproximei o copo do nariz e me fiz de neo-enólogo rodopiando o cálice e sentindo o aroma. No mesmo instante passei para a minha mulher: Experimenta! Ela fez o mesmo - rápida também, a Ana. Fiquei acanhado em dar uma golada no copo do Paulinho.
O papo fluía muito bem, causos do samba com seus amigos, literatura e futebol. Paulinho é um grande contador de histórias, meticuloso e cadenciado, sempre pontuado e acelerado pela sua esposa, a Lila.
A noite avançava e num momento o pequeno Merlin estava cheio. Uma turma de senhoras bem distintas adentraram o recinto, e naquela meia-luz viram a nossa mesa. Parabenizaram efusivas a apresentação da noite anterior de Paulinho de Viola na abertura da Flip, cumprimentaram todos e, ao me avistarem, disseram que eu também estava ótimo. Agradeci na hora. Lila me olhou e disparou: Você tocou ontem? - Não, apenas aplaudi.
Pronto, fui confundido com o filho do Paulinho, o João Rabelo, grande violonista que rouba a cena sempre com um belo solo em meio ao show.
Meu terceiro pai me olhou na hora, sacando rápido o engano, e disse pro seu agora filho que tudo mudaria daquela hora em diante, que achava que eu estava exagerando na bebida: meu novo pai era bem severo, além de bom observador.
Rimos bastante e não explicamos nada para a senhora. Assim é mais engraçado.
De volta para a pousada a brincadeira continuava. Recebi um breve sermão do meu terceiro pai - aquelas coisas: ele ficaria de olho em mim, eu tinha que me cuidar.
Nos despedimos, pedi a benção pro Zuenir, pro Paulinho e pro meu primeiro pai só consegui aqui em Santos, na volta daquela Flip inesquecível. 

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