‘‘Os Deuses Malditos”
Clássico de Luchino Visconti
ambientado
durante a ascensão
do nazismo retorna em DVD.
C&N
A
partir
de 1945,
quando se passou a falar do Neorrealismo que surgiu no cinema
da
Itália, três nomes passaram a ser referências desse movimento:
Roberto
Rossellini, Vittorio De Sica e Luchino Visconti. Porém, só
este demonstrou com o passar dos anos, que não se deixou aprisionar pelos
dogmas
da esquerda que circulavam ao redor dessa festejada tendência. Já naquela
ocasião tão patrulhada ideologicamente, sem abandonar as suas preocupações
sociais, ele partiu para a construção de uma obra cinematográfica mais
individualista que não dissimulava a sua assumida homossexualidade e a sua
ascendência nobre, evidente no nome e nos títulos que recebeu ao nascer, em
1906: Luchino Del Duchi Di Grazzano Visconti, Conde di
Lonate
Pozzolo, Signore di Corggeno, Consignore di Somma,
Crenna
e Agnadello. Ufa. A grandiosidade desse batismo parece ter
contaminado a sua criação artística. Uma prova: “Os Deuses Malditos” (“The
Damned”/“La Caduta Degli Dei”/ “Gotterdämmerung”),
co-produção
que está sendo lançada em DVD na versão em inglês.
A história se
passa em
1933 na Alemanha, quando acontecia a ascensão do nazismo.
Centraliza-se na família Von Essenbeck. O aniversário do idoso
patriarca Joachin (Albrecht Schoenhals) está sendo comemorado
com
uma festa solene e íntima. Mas ao anunciar o nome de seu novo
vice-presidente e
sucessor, o clima fica tenso. Na mesma noite, por artimanhas de alguém, o
exercito surge para prender Herbert Thalmann (Umberto Orsini),
genro de Joachin, que já se preparava para fugir. Quase que ao
mesmo tempo, o aniversariante é assassinado e Herbert é
acusado do
crime. Junto dessas sequências que demonstram as lutas pelo poder na
indústria Essenbeck, surgem também relações
amorosas
complicadas e condutas sexuais perversas.
É nesse
aspecto
que
Visconti se sai melhor, não obstante o roteiro escrito por Nicola
Badalucco,
Enrico Medioli e pelo próprio diretor não dar conta de todos os
personagens. Caso, por exemplo, de Olga (a brasileira Florinda
Bolkan), que se perde como amante de Martin Von Essenbeck
(Helmut
Berger). Como fez em “Sedução da
Carne” e “Morte em
Veneza”, entre outros, aqui o falecido cineasta realça de forma
incomum
a força predatória do desejo carnal, sob influência de determinados
contextos.
No caso, o nazismo. Isso fica patente na apoteótica orgia dos soldados, e na
sequência em que a pedofilia de Martin provoca estranha reação
da
menina Lisa (Irina Wanka, notável, então com dez anos). Poeta
do
declínio, Visconti também teve o seu, a partir deste longa, que
marcou o
começo de sua relação amorosa com Berger. Fraco como ator, esse
austríaco
nascido em maio de 1944 acabou tendo presença impositiva e nada
recomendável na filmografia do realizador.
Mesmo
assim, nem Berger e nem o
acomodado comentário musical de Maurice Jarre (que repete certas
soluções
da sua trilha para “Doutor
Jivago”) empanam o brilho desta superprodução. Aquele mórbido
casamento
de Frederick (Dirk Bogarde) e Sophie Von
Essenbeck
(a excelente Ingrid Thulin) e a cena final, entre outras, fazem de “Os Deuses Malditos” uma
marcante
prova da singular capacidade de Luchino Visconti para oferecer com
beleza
e refinamento, um mosaico íntimo e grandioso da decadência humana.
Alfredo
Sternheim é
cineasta,
jornalista e
escritor
“Os
Deuses Malditos”
(“The Damned”/ “La Caduta degli
Dei”/ “Göttedämmerung” - Itália/Alemanha -
1969 - 156’) Direção: Luchino Visconti Com: Dirk Bogarde,
Ingrid Thulin, Helmut Griem, Helmut
Berger,
Renaud Verley, Umberto Orsini, René
Koldenhoff, Charlottte Rampling, Albrecht
Schoenhals, Florinda Bolkan, Irina Wanka
e
Nora Ricci, entre outros.
DVD: Menu
interativo - Seleção
de
cenas Tela:
Widescreen Anamórfico
(1.85:1) Áudio: Dolby Digital
(2.0) Idioma: inglês Legenda: português
Extras:
Biografia
de Luchino Visconti
Distribuição: Versátil Home Vídeo
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