28 de maio de 2012

‘‘Os Deuses Malditos”


‘‘Os Deuses Malditos
Clássico de Luchino Visconti ambientado durante a ascensão do nazismo retorna em DVD.
C&N
A partir de 1945, quando se passou a falar do Neorrealismo que surgiu no cinema da Itália, três nomes passaram a ser referências desse movimento: Roberto Rossellini, Vittorio De Sica e Luchino Visconti. Porém, só este demonstrou com o passar dos anos, que não se deixou aprisionar pelos dogmas da esquerda que circulavam ao redor dessa festejada tendência. Já naquela ocasião tão patrulhada ideologicamente, sem abandonar as suas preocupações sociais, ele partiu para a construção de uma obra cinematográfica mais individualista que não dissimulava a sua assumida homossexualidade e a sua ascendência nobre, evidente no nome e nos títulos que recebeu ao nascer, em 1906: Luchino Del Duchi Di Grazzano Visconti, Conde di Lonate Pozzolo, Signore di Corggeno, Consignore di Somma, Crenna e Agnadello. Ufa. A grandiosidade desse batismo parece ter contaminado a sua criação artística. Uma prova: “Os Deuses Malditos” (“The Damned”/“La Caduta Degli Dei”/ “Gotterdämmerung”), co-produção que está sendo lançada em DVD na versão em inglês.
A história se passa em 1933 na Alemanha, quando acontecia a ascensão do nazismo. Centraliza-se na família Von Essenbeck. O aniversário do idoso patriarca Joachin (Albrecht Schoenhals) está sendo comemorado com uma festa solene e íntima. Mas ao anunciar o nome de seu novo vice-presidente e sucessor, o clima fica tenso. Na mesma noite, por artimanhas de alguém, o exercito surge para prender Herbert Thalmann (Umberto Orsini), genro de Joachin, que já se preparava para fugir. Quase que ao mesmo tempo, o aniversariante é assassinado e Herbert é acusado do crime. Junto dessas sequências que demonstram as lutas pelo poder na indústria Essenbeck, surgem também relações amorosas complicadas e condutas sexuais perversas. 
É nesse aspecto que Visconti se sai melhor, não obstante o roteiro escrito por Nicola Badalucco, Enrico Medioli e pelo próprio diretor não dar conta de todos os personagens. Caso, por exemplo, de Olga (a brasileira Florinda Bolkan), que se perde como amante de Martin Von Essenbeck (Helmut Berger). Como fez em “Sedução da Carne” e “Morte em Veneza”, entre outros, aqui o falecido cineasta realça de forma incomum a força predatória do desejo carnal, sob influência de determinados contextos. No caso, o nazismo. Isso fica patente na apoteótica orgia dos soldados, e na sequência em que a pedofilia de Martin provoca estranha reação da menina Lisa (Irina Wanka, notável, então com dez anos). Poeta do declínio, Visconti também teve o seu, a partir deste longa, que marcou o começo de sua relação amorosa com Berger. Fraco como ator, esse austríaco nascido em maio de 1944 acabou tendo presença impositiva e nada recomendável na filmografia do realizador.
Mesmo assim, nem Berger e nem o acomodado comentário musical de Maurice Jarre (que repete certas soluções da sua trilha para “Doutor Jivago”) empanam o brilho desta superprodução. Aquele mórbido casamento de Frederick (Dirk Bogarde) e Sophie Von Essenbeck (a excelente Ingrid Thulin) e a cena final, entre outras, fazem de “Os Deuses Malditos” uma marcante prova da singular capacidade de Luchino Visconti para oferecer com beleza e refinamento, um mosaico íntimo e grandioso da decadência humana. 
Alfredo Sternheim é cineasta, jornalista e escritor
Os Deuses Malditos (“The Damned”/ “La Caduta degli Dei”/ “Göttedämmerung - Itália/Alemanha - 1969 - 156’) Direção: Luchino Visconti Com: Dirk Bogarde, Ingrid Thulin, Helmut Griem, Helmut Berger, Renaud Verley, Umberto Orsini, René Koldenhoff, Charlottte Rampling, Albrecht Schoenhals, Florinda Bolkan, Irina Wanka e Nora Ricci, entre outros.
DVD: Menu interativo - Seleção de cenas Tela: Widescreen Anamórfico (1.85:1) Áudio: Dolby Digital (2.0) Idioma: inglês Legenda: português Extras: Biografia de Luchino Visconti 
Distribuição: Versátil Home Vídeo

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