30 de maio de 2012

“Habemus Papam”


Habemus Papam
Atores somos todos nós e, particularmente, os religiosos.
C&N
Tenho o pé atrás com o cinema italiano, que envolva o Vaticano, desde que assisti (ah, foi você!) o ridículo e desnecessário “O Papadoc”, com o ridículo e desnecessário Roberto Benini. Como você vê, faz tempo. Contudo, apesar de andar meio afastado de Nanni Moretti, aproveito um horário pós-almoço para ir ao Reserva Cultural ver “Habemus Papam”, filme que eu diria até audacioso, por invadir fisicamente o Vaticano com um roteiro tolerável ao Vaticano.
Não dá para contar quase nada sem entregar o ouro aos bandidos. Trata-se em um momento de crise que poderia acontecer em qualquer país, corporação, comunidade ou empresa. Mas aqui, acontece no conclave do Vaticano, com mil implicações de cerimoniais, rituais, sigilos e compromissos, administrados por religiosos idosos e mais ou menos caquéticos.
A situação é tão delicada que, ao invés de esperar um milagre, os envolvidos procuram a solução através de um famoso psicanalista ateu (Nanni Moretti). É claro que limitado ao sigilo, que veda até saber o nome do ‘paciente’, o profissional tem muito pouco a fazer. Enquanto o chefe do cerimonial tenta soluções paliativas, o psicanalista aplica terapia ocupacional ao grupo de confusos e desorientados cardeais.
Paralelamente acontecem situações com exposições interessantes, como quando o personagem em conflito (Michell Picolli, em desempenho correto) assiste o ponto de vista externo ao Vaticano, em mídias de rua ou que, preservando o sigilo como religioso, se qualifica como ‘ator’. Verdade: atores somos todos nós e particularmente os religiosos que desempenham durante toda a vida o mesmo papel do mesmo roteiro, da mesma peça e repetem soluções contidas em um folheadíssimo manual.
Na situação kafquiana, surgem paralelos com a peça de Tchecov, “A Gaivota”, no momento em cartaz em Roma. E que terá exposição interessante em algum momento do filme. “Habemus trás à consideração da compreensão da capacidade e responsabilidade da assunção de um grande compromisso, e não à simples aceitação milenar de que ‘Deus dispôs e eu cumpro’.
Nanni sai-se muito bem, aproveitando o espaço que lhe foi facultado e mantendo-se absolutamente em cima do muro em relação à religião. Eu, como aplicado super-oitista aumentaria a expectativa do problema colocando flashes da expectativa do público na Piazza San Pietro. O final é lógico e correto.
Habemus Papam foi um filme que me restaurou o crédito em filmes no Vaticano e me confirmou a falibilidade das decisões papais.
Habemus Papam (Itália/França - 2011 - 102’) Direção: Nanni Moretti Com: Michel Piccoli, Nanni Moretti, Jerzy Stuhr, Renato Scarpa e Margherita Buy
Distribuição: Vinny Filmes

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