“Habemus
Papam”
Atores somos todos nós e, particularmente, os religiosos.
C&N
Tenho o pé atrás com o cinema italiano, que envolva o Vaticano,
desde que assisti (ah, foi você!) o ridículo e desnecessário “O
Papadoc”, com o ridículo e desnecessário Roberto Benini. Como
você vê, faz tempo. Contudo, apesar de andar meio afastado de Nanni
Moretti, aproveito um horário pós-almoço para ir ao Reserva
Cultural ver “Habemus Papam”, filme que eu diria até
audacioso, por invadir fisicamente o Vaticano com um roteiro
tolerável ao
Vaticano.
Não dá para contar
quase nada sem entregar o ouro aos bandidos. Trata-se em um momento de crise
que
poderia acontecer em qualquer país, corporação, comunidade ou empresa. Mas
aqui,
acontece no conclave do Vaticano, com mil implicações de cerimoniais,
rituais, sigilos e compromissos, administrados por religiosos idosos e mais
ou
menos caquéticos.
A
situação é tão delicada que, ao invés
de
esperar um milagre, os envolvidos procuram a solução através de um famoso
psicanalista ateu (Nanni Moretti). É claro que limitado ao sigilo, que veda
até
saber o nome do ‘paciente’, o profissional tem muito pouco a fazer. Enquanto
o
chefe do cerimonial tenta soluções paliativas, o psicanalista aplica terapia
ocupacional ao grupo de confusos e desorientados cardeais.
Paralelamente acontecem situações com exposições interessantes, como
quando o personagem em conflito (Michell Picolli, em desempenho correto)
assiste
o ponto de vista externo ao Vaticano, em mídias de rua ou que, preservando o
sigilo como religioso, se qualifica como ‘ator’. Verdade: atores somos todos
nós
e particularmente os religiosos que desempenham durante toda a vida o mesmo
papel do mesmo roteiro, da mesma peça e repetem soluções contidas em um
folheadíssimo manual.
Na
situação kafquiana, surgem paralelos
com
a peça de Tchecov, “A Gaivota”, no momento em cartaz em
Roma. E que terá exposição interessante em algum momento do filme.
“Habemus” trás à consideração da compreensão da
capacidade e responsabilidade da assunção de um grande compromisso, e não à
simples aceitação milenar de que ‘Deus dispôs e eu cumpro’.
Nanni sai-se
muito
bem, aproveitando o espaço que lhe foi facultado e mantendo-se absolutamente
em
cima do muro em relação à religião. Eu, como aplicado super-oitista
aumentaria a expectativa do problema colocando flashes da expectativa do
público
na Piazza San Pietro. O final é lógico e correto.
Habemus Papam
foi um filme que me restaurou o crédito em filmes no Vaticano e me
confirmou a falibilidade das decisões papais.
“Habemus
Papam” (Itália/França - 2011 - 102’) Direção: Nanni Moretti
Com: Michel Piccoli,
Nanni Moretti, Jerzy Stuhr, Renato Scarpa
e Margherita
Buy
Distribuição: Vinny
Filmes
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