“A Dama de Ferro”
Filme que
possibilitou outro Oscar para Meryl Streep tem méritos próprios.
C&N
Poucos
atentaram
para os valores de “A Dama de Ferro” (“The Iron Lady”),
já
que Meryl Streep concentrou todos os focos da mídia. Nada mais
natural. A
sua atuação aqui já acumulou seis láureas, inclusive o Oscar,
o
terceiro em uma carreira, que tem cerca de 116 prêmios. Não há
dúvida:
essa americana nascida em 22 de junho de 1949 é a maior
atriz do momento. Como poucas, sabe conciliar quantidade com qualidade. E
bota
qualidade nisso. Corajosa, se empenhou para dar total convicção a
Margaret
Thatcher (1925-), a protagonista do filme. Uma tarefa difícil, porque
essa
inglesa, que se tornou a primeira mulher a ocupar o cargo de primeiro
ministro
em sua nação, foi tremendamente exposta pela mídia durante os onze anos em
que
permaneceu nesse posto, entre 1979 e 1990. Um passado recente,
que
torna a sua imagem ainda forte na memória coletiva. Por isso, a comparação
inevitável. Favorável para a atriz.
Com
narrativa nada linear, Meryl
só
não interpreta Margaret nas poucas cenas de sua juventude. Vivida por
Alexandra Roach, a personagem é vista, junto aos pais, dando seus
primeiros passos na política. É quando conhece seu futuro marido,
Denis
(Harry Lloyd na mocidade e Jim Broadbent na maior parte do tempo). O filme
enfoca mais os anos de sua atuação no governo, que aparecem ligados por
vários
momentos de recordação de uma senhora com problemas de senilidade. Esse mal,
que
gradativamente foi aumentando em Margaret, a atinge desde 2002.
Não é fácil
biografar
em
pouco menos de duas horas, a intensa vida de uma pessoa tão polêmica como
essa
britânica. O roteiro de Abi Morgan, co-autora do
recente
“Shame”, optou por tentar
ser
sintético na abordagem dos fatos. Talvez até demais. Mas acertou ao enfocar,
sem
perder de vista a pessoa de Margaret, o caminho percorrido na
política,
com ênfase ao enfrentamento de preconceitos machistas e de situações
radicais,
que provocaram ira e apreço do povo. Caso, por exemplo, do ataque aos
sindicatos
e da decisão de enfrentar a Argentina em 1982, quando a nação vizinha
pretendia reconquistar as ilhas Malvinas. Nessa descrição, há vez
para
devaneios, mas jamais o roteiro se preocupa em deificar a estadista. Ela tem
coragem e firmeza nas decisões para a nação, porém é também distante dos
filhos.
O vai e
vem do script
encontrou
esplêndido encadeamento na direção delicada de Phyllida Lloyd. A
cineasta
de “Mamma Mia” oferece um trabalho preciso, que nunca perde
calor
humano, seja nos momentos que dependem mais de efeitos cênicos (os debates
no
Parlamento, o atentado terrorista) como naqueles em que Margareth
tenta
quebrar o circulo de cuidados e de isolamento, que lhe foram impostos por
causa
de seus problemas de saúde, nunca mencionados de forma explicita, mas
evidentes
em pequenos detalhes. São momentos intimistas e poéticos, em especial
naqueles
que têm a voz de Maria Callas cantando ‘Casta Diva’
(ária
da ópera “Norma”) e o trecho do musical “O Rei e
Eu”.
Isso ocorre também porque
Phyllida apoiou-se excessivamente em Meryl Streep. É ela quem
dá o
máximo de verdade à personagem verídica que encarna. O seu perfeccionismo
técnico, patente no timbre de voz, no gestual quase sempre veemente, algo
furioso em situações públicas, não cerceia a fragilidade e o temor interior
que
expressa na evocação do marido, dos filhos e nas cenas onde a
primeira-ministra
enfrenta o clamor popular ou a ironia dos pares na câmara. Entre os
exemplos, as
sequências do supermercado, o jantar com os amigos, o confronto com o lixo
acumulado e o epílogo. Apoiada na excelente maquiagem feita por
Mark
Coulier e J.Roy Helland (um trabalho premiado com o
Oscar), a
atriz oferece um dos melhores desempenhos desta década. É uma das principais
virtudes, senão a principal, de “A
Dama de Ferro”, um filme que, com os seus fartos méritos, se inclui
entre os melhores do ano.
Alfredo
Sternheim é
cineasta,
jornalista e
escritor
“A
Dama de Ferro”
(“The Iron
Lady” - Inglaterra/França -
2011 - 105’) Direção: Phyllida Lloyd
Com: Meryl
Streep, Jim Broadbent,
Oliivia Colman, Alexandra Roach, Harry
Lloyd, Richard E. Grant, Susan Brown,
Alice da Cunha, Angus Wright e Ian
Glen, entre outros.
Tela: letterbox
(16x9)
Áudio:
Dolby Digital (5.1) Idioma:
português e inglês Legenda:
português e
inglês
Distribuição: Paris
Filmes
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