14 de maio de 2012

“A Dama de Ferro”


A Dama de Ferro
Filme que possibilitou outro Oscar para Meryl Streep tem méritos próprios.
C&N
Poucos atentaram para os valores de “A Dama de Ferro” (“The Iron Lady”), já que Meryl Streep concentrou todos os focos da mídia. Nada mais natural. A sua atuação aqui já acumulou seis láureas, inclusive o Oscar, o terceiro em uma carreira, que tem cerca de 116 prêmios. Não há dúvida: essa americana nascida em 22 de junho de 1949 é a maior atriz do momento. Como poucas, sabe conciliar quantidade com qualidade. E bota qualidade nisso. Corajosa, se empenhou para dar total convicção a Margaret Thatcher (1925-), a protagonista do filme. Uma tarefa difícil, porque essa inglesa, que se tornou a primeira mulher a ocupar o cargo de primeiro ministro em sua nação, foi tremendamente exposta pela mídia durante os onze anos em que permaneceu nesse posto, entre 1979 e 1990. Um passado recente, que torna a sua imagem ainda forte na memória coletiva. Por isso, a comparação inevitável. Favorável para a atriz.
Com narrativa nada linear, Meryl só não interpreta Margaret nas poucas cenas de sua juventude. Vivida por Alexandra Roach, a personagem é vista, junto aos pais, dando seus primeiros passos na política. É quando conhece seu futuro marido, Denis (Harry Lloyd na mocidade e Jim Broadbent na maior parte do tempo). O filme enfoca mais os anos de sua atuação no governo, que aparecem ligados por vários momentos de recordação de uma senhora com problemas de senilidade. Esse mal, que gradativamente foi aumentando em Margaret, a atinge desde 2002.
Não é fácil biografar em pouco menos de duas horas, a intensa vida de uma pessoa tão polêmica como essa britânica. O roteiro de Abi Morgan, co-autora do recente “Shame”, optou por tentar ser sintético na abordagem dos fatos. Talvez até demais. Mas acertou ao enfocar, sem perder de vista a pessoa de Margaret, o caminho percorrido na política, com ênfase ao enfrentamento de preconceitos machistas e de situações radicais, que provocaram ira e apreço do povo. Caso, por exemplo, do ataque aos sindicatos e da decisão de enfrentar a Argentina em 1982, quando a nação vizinha pretendia reconquistar as ilhas Malvinas. Nessa descrição, há vez para devaneios, mas jamais o roteiro se preocupa em deificar a estadista. Ela tem coragem e firmeza nas decisões para a nação, porém é também distante dos filhos.
O vai e vem do script encontrou esplêndido encadeamento na direção delicada de Phyllida Lloyd. A cineasta de “Mamma Mia” oferece um trabalho preciso, que nunca perde calor humano, seja nos momentos que dependem mais de efeitos cênicos (os debates no Parlamento, o atentado terrorista) como naqueles em que Margareth tenta quebrar o circulo de cuidados e de isolamento, que lhe foram impostos por causa de seus problemas de saúde, nunca mencionados de forma explicita, mas evidentes em pequenos detalhes. São momentos intimistas e poéticos, em especial naqueles que têm a voz de Maria Callas cantando ‘Casta Diva’ (ária da ópera “Norma”) e o trecho do musical “O Rei e Eu”.
Isso ocorre também porque Phyllida apoiou-se excessivamente em Meryl Streep. É ela quem dá o máximo de verdade à personagem verídica que encarna. O seu perfeccionismo técnico, patente no timbre de voz, no gestual quase sempre veemente, algo furioso em situações públicas, não cerceia a fragilidade e o temor interior que expressa na evocação do marido, dos filhos e nas cenas onde a primeira-ministra enfrenta o clamor popular ou a ironia dos pares na câmara. Entre os exemplos, as sequências do supermercado, o jantar com os amigos, o confronto com o lixo acumulado e o epílogo. Apoiada na excelente maquiagem feita por Mark Coulier e J.Roy Helland (um trabalho premiado com o Oscar), a atriz oferece um dos melhores desempenhos desta década. É uma das principais virtudes, senão a principal, de “A Dama de Ferro”, um filme que, com os seus fartos méritos, se inclui entre os melhores do ano.
Alfredo Sternheim é cineasta, jornalista e escritor
A Dama de Ferro (“The Iron Lady” - Inglaterra/França - 2011 - 105’) Direção: Phyllida Lloyd Com: Meryl Streep, Jim Broadbent, Oliivia Colman, Alexandra Roach, Harry Lloyd, Richard E. Grant, Susan Brown, Alice da Cunha, Angus Wright e Ian Glen, entre outros.
Tela: letterbox (16x9) Áudio: Dolby Digital (5.1) Idioma: português e inglês Legenda: português e inglês
Distribuição: Paris Filmes

Nenhum comentário:

Postar um comentário