“Cabin in the
Sky”
‘Um monumento a
Ethel
Waters em toda
a sua
glória’. - TV Guide.
C&N
Pode não ter sido
um “Porgy & Bess”, mas “Cabin in the Sky”
foi, em
1940, um novo tipo de show da Broadway all-black cast, ou seja, com
todo o
elenco composto de atores afro-descendentes. Ao contar a
batalha
entre céu e inferno pela alma de um homem, tem a dignidade de Porgy combinada com aquele jazz das antigas revistas com
atores negros. “Cabin in the Sky” era
uma
parábola sobre a vida dos negros no sul dos Estados Unidos com ecos
às
peças “Liliom’ de
Férenc Molnar (que se tornaria mais
tarde o musical Carousel), e “The
Green Pastures”, de Marc
Connelly, além da lenda de Fausto. Esta fantasia
trata
da luta entre Lawd’s General
(General do Senhor)
e Lucifer Jr. pela alma do
indolente e desajeitado Little
Joe Jackson, que foi ferido fatalmente em uma briga de rua.
Por
causa das fervorosas preces rezadas por Petunia, a devota esposa de
Joe, a ele é concedido seis
meses para fazer reparações que o permita entrar no Paraíso. Lucifer Jr. oferece a
tentação
em forma de Georgia
Brown,
mas com a ajuda de Petunia,
Joe finalmente consegue
se
espremer através dos Portões Perolados do céu.
O
compositor Vernon
Duke, o letrista John Latouche, e o diretor-coreógrafo George Balanchine não pouparam
esforços
para juntar um elenco maravilhoso: Ethel
Waters (Petunia), Dooley
Wilson (Little Joe Jackson), Katherine Dunham e seus
dançarinos, Todd
Duncan
(Lawd’s General) e Rex
Ingran
(Lucifer Jr.). O resultado foi um sucesso artístico esmagador. Miss Waters ganhou aclamação
retumbante
neste seu único musical, onde cantava o showstopper ‘Taking a Chance on
Love’. A MGM teve o bom senso de
comprar
os direitos para as telas e em 1943 lançou o filme “Uma
Cabana no Céu”. Somente Waters e Ingram permaneceram, do elenco da
Broadway, mas poucos poderão reclamar sobre os novos membros do
elenco:
Eddie ‘Rochester’ Anderson (Little Joe
Jackson),
Lena Horne (Georgia
Brown),
Louis Armstrong (The
Trumpeter), Butterfly McQueen
(Lily), e Duke
Ellington
e sua orquestra. Com o diretor Vincente Minnelli no comando (este
foi
o primeiro filme creditado como dirigido por ele) o filme ficou muito fiel
ao
original dos palcos. O CD com o Film
Soundtrack’ (Rhino-Turner, 1943) é um
tesouro,
um raro exemplo de um filme onde uma música adicionada é totalmente igual a
tudo
do score original: a sublime
balada
‘Happiness Is Just a Thing Called
Joe’ de Harold Arlen & E. Y. Harburg, cantada por Waters, e indicada ao Oscar. Porém a canção mais famosa
do
musical ficou sendo ‘Stormy
Weather’ que, embora tenha se tornado
marca
registrada de Ethel Waters, é imortalizada no filme por
Lena Horne. Muita gente ainda acha
que
esta música foi composta por Irving
Berlin. Em suas memórias Harold
Arlem (que compôs a música com letra de Ted Koehler) conta uma divertida
passagem onde toma um táxi e o motorista a está assobiando. Arlem pergunta:
Você sabe quem escreveu esta música?
Claro -
responde o
motorista – Irving
Berlin.
Errado, diz
Arlen. Mas eu te dou mais duas
chances para acertar. Após o motorista supor que foi Richard Rodgers e Cole Porter, Arlen diz:
Não, você errou novamente. Eu escrevi esta
música!
Mas quem é você?,
perguntou o motorista.
Eu
sou Harold Arlen.
O
motorista então dirigiu por mais meia quadra, parou, virou-se e
perguntou:
Quem?
Como cereja do bolo
esta gravação nos dá duas interpretações – ambas cortadas do filme – da
elegante
e hedonista ‘Ain’t It the
Truth’ de Arlen & Harburg: uma é o grande número
encabeçado por Armstrong e a
outra
um suave ronronado por Lena
Horne. É
justamente este o número em que ela aparecia tomando um banho numa banheira
com
espumas, e que mais tarde poderia ser visto na coletânea “Era Uma Vez em Hollywood - Parte
III” (“That’s Entertainment!
III” -
1994), onde ela relata que esta cena foi retirada porque para ‘mostrar uma mulher negra cantar em
um banho era além dos limites da
decência moral em 1943’.
Quatorze anos depois de “Cabin in the
Sky, Arlen e
Harburg
re-usariam ‘Ain't It the
Truth’ para o musical da
Broadway
“Jamaica” onde
também foi cantada por Lena Horne.
“Cabin in
the Sky” sempre será lembrado
por seu
libreto inteligente
e espirituoso, que tratava seus personagens
e
sua etnia
com
uma dignidade rara
em filmes
e
musicais americanos daquela
época,
apesar de algumas
representações
ainda serem um pouco chocantes
para
a sensibilidade do século 21
(aparentemente, para chegar ao
céu depende
principalmente de quanto
dinheiro
você dá para a
igreja).
Cláudio Erlichman
é
publicitário
e produtor
cultural.
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