“Blade Runner: 30 Anos”
Jamais amanhece em “Blade Runner”.
C&N
Em 2019, o mundo sofrerá com a desigualdade social. As pessoas
não
terão muito espaço para caminhar nas ruas lotadas de todos os tipos. Os
animais
estarão extintos, o ar será pesado e a chuva cairá ininterruptamente
queimando a
superpopulação. Todas as invenções tecnológicas do homem foram criadas para
satisfazê-lo. A informação estará em todos os cantos do planeta e seremos
escravos de nossos próprios trabalhos. O único tempo disponível para o lazer
será reservado para saciar o apetite sexual.
Algumas dessas previsões descritas em Blade Runner – O Caçador de
Andróides (Blade Runner, 1982) já deixaram a ficção
científica
de lado e entraram para a nossa realidade. É claro que arranha-céus
gigantescos
capazes de abrigar cidades inteiras ainda existem no sentido metafórico,
assim
como carros voadores. Mas esses automóveis devem voar em Blade
Runner,
porque é quase impossível dirigir no chão. Um dia, isso pode vir a ser uma
solução. O melhor filme de Ridley Scott, no entanto, utiliza esse cenário de
caos urbano para refletir sobre uma questão eterna: enfim, o que significa
ser
um humano?
Para isso, o
diretor (inspirado pelo conto de Philip K. Dick) nos apresenta aos
“replicantes”
ou androides criados a imagem e semelhança do homem. Blade
Runner mostra a fase Nexus 6 deste projeto. Os
replicantes dessa safra são cada vez mais humanos e conseguem assimilar
emoções
baseadas em suas experiências próprias de vida. Infelizmente, eles são
incapazes
de controlar emoções. Os replicantes foram criados pela Tyrell
Corporation para servir ao homem. Eles trabalham como escravos em
colônias espaciais (jamais mostradas durante o filme), onde vive a classe de
alto padrão. Na Terra, só ficam os pobres e a escória. Ridley
Scott situa o espectador neste universo, mas sua história começa com a
rebelião de quatro replicantes, que vêm ao nosso planeta atrás de
respostas.
De
início, o que eles querem é um
mistério.
Mas descobrimos que eles têm apenas quatro anos de vida e querem durar mais.
As
respostas para as perguntas existenciais de Roy Batty (Rutger
Hauer), o líder deste quarteto está com o Dr. Eldon Tyrell
(Joe
Turkel), pai do projeto. No rastro dos replicantes, o policial Rick
Deckard (Harrison Ford) é enviado para eliminar os
invasores.
O
impressionante é constatar como
Deckard não carrega emoções e os replicantes parecem
expressá-las
com muito mais facilidade. Deckard não questiona suas ordens e
é
capaz de atirar em seus alvos desarmados pelas costas. Por que ele faz isso?
Quem é o verdadeiro escravo nesta história? E quem é humano? São perguntas
que
se tornam ainda mais complexas nos detalhes, afinal muitos fãs cogitam que
Deckard seja um replicante. Ainda mais quando ele conhece a evolução do
projeto
na figura da bela Rachael (Sean Young). Se ela não sabe que é
uma
replicante, quem pode ter conhecimento de sua real origem? Rachael se
diferencia
dos demais, porque ela carrega memórias implantadas da sobrinha de
Tyrell. O mesmo pode acontecer com Deckard,
afinal
como alguém pode se apaixonar por uma replicante?
Durante o filme,
vemos que os animais também são artificiais e seus olhos (e assim como os
olhos
dos replicantes) brilham. Certa hora, numa cena rapidíssima, é possível
flagrar
o mesmo brilho nos olhos de Deckard. Aliás, o próprio
Tyrell pode ser um replicante. Sei que no roteiro original,
ele
está morto e a corporação criou um andróide semelhante ao dono da
Tyrell
Corporation para honrar sua imagem. E o replicante ainda tem as
memórias
dele. Então, o que torna uma pessoa humana? Memórias? Em Blade
Runner, os replicantes mais avançados também possuem
lembranças.
No
fim, o ‘vilão’ Roy
Batty só
quer mais tempo de vida. Como a maioria da Humanidade. Essas questões
existenciais e a presença do Deus ex machina (uma expressão
que
significa “Deus surgido da máquina”) também foram abordadas em filhotes de
Blade Runner como Matrix. Seria o mundo
povoado
por máquinas? Onde estão os verdadeiros humanos? A mesma coisa foi indagada
nas
sequencias de Matrix. Lembra do papo ‘Matrix dentro da
Matrix’?
Blade Runner é
um triunfo do cinema narrado por imagem, som e música. A influência deste
filme
na ficção científica e no cinema em geral é inegável. É um clássico moderno
que
marcou época, mas que não ficou marcado nela. O reconhecimento veio anos
depois.
Ridley Scott fez uma das obras mais influentes e idolatradas dos anos
80.
Sua ideia não foi entregar um policial futurista noir, mas realizar
uma
ficção científica pessimista em relação ao futuro da Humanidade. A última (e
aparentemente definitiva) versão ressalta essa teoria. Ainda mais agora,
porque
jamais amanhece em Blade Runner.
“Blade Runner - O Caçador de
Androides” (EUA - 1982 - 117’) Direção: Ridley Scott Com: Harrison
Ford, Sean
Young,
Rutger Hauer, Edward James Olmos,
Daryl Hannah, William Sanderson, Joe
Turkel, Joana Cassidy e M. Emmet
Walsh, entre
outros.
Distribuição: Warner
Bros.
Acesse: www.hollywoodiano.com.
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