25 de junho de 2012

‘‘Dois romances gays”


‘‘Dois romances gays
Além das dificuldades de relacionamento, “Algo Muito Natural” e “Parting Glances têm em comum se passarem em Nova York.
C&N

No Brasil, foram necessárias décadas para se ver, na tela e nos palcos, relatos cênicos com personagens e conflitos homossexuais. Mas, se ainda hoje, mal se vê na nossa TV beijos eróticos entre seres do mesmo sexo, já nos anos de 1960, 70 e 80, existia uma produção cinematográfica no exterior voltada para histórias essencialmente gays. Entre nós, muitos desses títulos foram lançados em DVD pela Cult Classic, caso do inglês “Meu Passado me Condena”, e dos americanos “Os Rapazes da Banda” e “Meu Querido Companheiro”, por exemplo. Independente de seus méritos, esses filmes servem também como registros da evolução dos costumes junto aos homossexuais em boa parte do século 20.
A mesma distribuidora traz agora os longas “Algo Muito Natural” e “Parting Glances” que têm em comum o foco central nos problemas surgidos na relação de dois casais masculinos, e o cenário principal ser a cidade de Nova York. Mas os doze anos que existem entre uma e outra produção fazem diferença nas histórias. A primeira respira mais liberdade erótica. A segunda também tem boa parte desse sexo livre, mas já está sob o peso da Aids.
Feito em 1974, “Algo Muito Natural” começa em um mosteiro. O jovem David (Robert McLane) está abandonando os estudos monásticos. Ao ir para Nova York, desperta interesse no executivo Mark (Curt Gareth) que não se assume no ambiente do trabalho. Passam a morar juntos. A relação parece perfeita, mas Mark começa a dar sinais de saturação. Em especial no terreno do sexo. Enquanto David demonstra ser mais apegado a uma vida a dois bem tradicional, o companheiro aspira conduta erótica mais livre e ampla. O diálogo torna-se difícil.

Feito em 1986, “Parting Glances” tem trama semelhante: trata da crise entre Robert (John Bolger, o Floyd da série “General Hospital”) e Michael (Richard Ganoung), quando o primeiro está com viagem marcada para a África onde permanecerá por dois anos, por escolha profissional. Michael, que trabalha com textos, não está totalmente conformado com essa ruptura na vida em comum que levam. Moram juntos há um bom tempo e a parceria é bem assumida perante outros. Na realidade, Robert viaja porque está querendo romper com a rotina que se estabeleceu e devido a certo ciúme afetivo da atenção que o companheiro dá a Nick (Steve Buscemi no terceiro dos 125 filmes que já fez), um músico enfrentando problemas de saúde, por conta da Aids.
O primeiro dos filmes tem um clima sensual e lírico ao mesmo tempo. Há fortes momentos eróticos, principalmente após surgir Jason (Bo White), um fotógrafo que busca a plenitude sexual fora do casamento com a sua mulher. A sequência na praia é, nesse aspecto, uma poética celebração da liberdade dos corpos. Pena que, em sua beleza visual, seja prejudicado pela qualidade da cópia. Já o segundo também tem muitas paqueras, mas se apresenta mais discreto, com ênfase no comportamento da dupla central diante dos outros e na afetação de boa parte dos personagens em um ambiente grupal que tende a ser solidário e fútil, analítico e irônico. Há ótimos diálogos, mas perde-se algo pela ausência momentânea de legendas, em alguns instantes.
Tanto Christopher Larkin quanto Bill Sherwood (1952-1990) acabaram sendo diretores apenas desses dois únicos longas. Larkin fez de “Algo Muito Especial” um filme mais caloroso e menos verbal que “Parting Glances”, que tem o subtítulo de “Olhares de Despedida”. Mas ambos, com a sua espontaneidade, são atraentes para determinados públicos e também importantes retratos ficcionais de um comportamento que raras vezes ganhava espaço no cinema na época. Isso sem falar do valor sociológico, por ampliar a visão sobre minorias que, em determinados países, ainda enfrentam obstáculos para viverem sem preconceito, e para terem visibilidade na dramaturgia dos filmes e da TV.
Alfredo Sternheim é cineasta, jornalista e escritor
Algo Muito Natural (“A Very Natural Thing” – EUA - 1974 - 80’) Direção: Christopher Larkin Com: Robert McLane, Curt Gareth, Bo White, Anthony McKay, Marilyn Meyers, Jay Pierce, Barnaby Rudge, Scott Eisman e George Diaz, entre outros.
DVD: Menu interativo - Seleção de cenas Tela: Cheia Áudio: (2.0) Idioma: Inglês Legenda: português  Extras: Fotos do Filme - Trailers
Distribuição: Cult Classic
Parting Glances (“Parting Glances” - EUA - 1986 - 90’) Direção: Bill Sherwood Com: John Bolger, Richard Ganoung, Steve Buscemi, Adam Nathan, Kathy Kinney, Patrick Tull, Andre Morgan, Yolande Bavan e Richard Wall, entre outros.
DVD: Menu interativo - Seleção de cenas Tela: Cheia Áudio: Dolby Digital (2.0) Idioma: inglês Legenda: português  Extras: Fotos do Filme - Trailers 
Distribuição: Cult Classic

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