‘‘Dois romances
gays”
Além das dificuldades
de relacionamento, “Algo Muito Natural” e “Parting Glances” têm em comum se passarem em Nova York.
C&N
No Brasil, foram necessárias décadas para se ver, na tela e nos
palcos, relatos cênicos com personagens e conflitos homossexuais. Mas, se
ainda
hoje, mal se vê na nossa TV beijos eróticos entre seres do
mesmo
sexo, já nos anos de 1960, 70 e 80, existia uma
produção
cinematográfica no exterior voltada para histórias essencialmente gays.
Entre
nós, muitos desses títulos foram lançados em DVD pela
Cult
Classic, caso do inglês “Meu
Passado me Condena”, e dos americanos “Os Rapazes da Banda” e “Meu Querido Companheiro”,
por
exemplo. Independente de seus méritos, esses filmes servem também como
registros
da evolução dos costumes junto aos homossexuais em boa parte do século 20.
A mesma
distribuidora
traz agora os longas “Algo Muito
Natural” e “Parting
Glances” que têm em comum o foco central nos problemas surgidos na
relação de dois casais masculinos, e o cenário principal ser a cidade de
Nova
York. Mas os doze anos que existem entre uma e outra produção fazem
diferença nas histórias. A primeira respira mais liberdade erótica. A
segunda
também tem boa parte desse sexo livre, mas já está sob o peso da
Aids.
Feito em 1974, “Algo Muito Natural” começa
em um
mosteiro. O jovem David (Robert McLane) está abandonando os
estudos monásticos. Ao ir para Nova York, desperta interesse no
executivo
Mark (Curt Gareth) que não se assume no ambiente do trabalho.
Passam a morar juntos. A relação parece perfeita, mas Mark começa a dar
sinais
de saturação. Em especial no terreno do sexo. Enquanto David
demonstra ser mais apegado a uma vida a dois bem tradicional, o companheiro
aspira conduta erótica mais livre e ampla. O diálogo torna-se
difícil.
Feito em 1986, “Parting Glances” tem trama
semelhante: trata da crise entre Robert (John Bolger, o
Floyd da série “General
Hospital”) e
Michael (Richard Ganoung), quando o primeiro está com viagem
marcada para a África onde permanecerá por dois anos, por escolha
profissional.
Michael, que trabalha com textos, não está totalmente
conformado
com essa ruptura na vida em comum que levam. Moram juntos há um bom tempo e
a
parceria é bem assumida perante outros. Na realidade, Robert
viaja
porque está querendo romper com a rotina que se estabeleceu e devido a certo
ciúme afetivo da atenção que o companheiro dá a Nick (Steve
Buscemi no terceiro dos 125 filmes que já fez), um músico enfrentando
problemas
de saúde, por conta da Aids.
O primeiro dos filmes tem um clima
sensual e lírico ao mesmo tempo. Há fortes momentos eróticos, principalmente
após surgir Jason (Bo White), um fotógrafo que busca a
plenitude
sexual fora do casamento com a sua mulher. A sequência na praia é, nesse
aspecto, uma poética celebração da liberdade dos corpos. Pena que, em sua
beleza
visual, seja prejudicado pela qualidade da cópia. Já o segundo também tem
muitas
paqueras, mas se apresenta mais discreto, com ênfase no comportamento da
dupla
central diante dos outros e na afetação de boa parte dos personagens em um
ambiente grupal que tende a ser solidário e fútil, analítico e irônico. Há
ótimos diálogos, mas perde-se algo pela ausência momentânea de legendas, em
alguns instantes.
Tanto Christopher
Larkin
quanto
Bill Sherwood (1952-1990) acabaram sendo diretores apenas desses dois
únicos longas. Larkin fez de “Algo Muito Especial”
um
filme mais caloroso e menos verbal que “Parting Glances”, que tem o
subtítulo de “Olhares de
Despedida”. Mas ambos, com a sua espontaneidade, são atraentes para
determinados públicos e também importantes retratos ficcionais de um
comportamento que raras vezes ganhava espaço no cinema na época. Isso sem
falar
do valor sociológico, por ampliar a visão sobre minorias que, em
determinados
países, ainda enfrentam obstáculos para viverem sem preconceito, e para
terem
visibilidade na dramaturgia dos filmes e da TV.
Alfredo
Sternheim é
cineasta,
jornalista e
escritor
“Algo Muito Natural” (“A Very Natural Thing” – EUA - 1974 - 80’) Direção: Christopher Larkin
Com: Robert
McLane, Curt
Gareth, Bo White, Anthony McKay, Marilyn Meyers, Jay Pierce, Barnaby Rudge, Scott Eisman e George
Diaz, entre
outros.
DVD:
Menu interativo - Seleção de cenas Tela:
Cheia Áudio:
(2.0) Idioma:
Inglês Legenda:
português Extras:
Fotos do Filme - Trailers
Distribuição: Cult Classic
“Parting Glances” (“Parting
Glances” - EUA - 1986 -
90’) Direção: Bill Sherwood
Com: John
Bolger, Richard
Ganoung, Steve
Buscemi, Adam Nathan, Kathy Kinney, Patrick Tull, Andre Morgan, Yolande Bavan e Richard Wall,
entre outros.
DVD:
Menu interativo - Seleção de cenas Tela:
Cheia Áudio:
Dolby Digital (2.0) Idioma:
inglês Legenda:
português Extras:
Fotos do
Filme - Trailers
Distribuição: Cult Classic
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