“Véspera”
Bom retrato de família.
C&N
Camila Appel tem sua segunda peça, “Véspera”,
encenada
com ótima direção de Rudson Senna, nos fins de semana,
no
Teatro Itália. Tudo ocorre na véspera do Natal, quando parte
da
família está se encontrando para resolver como fica a festa e coisas assim.
Como
em toda reunião de pessoas tão íntimas, não faltam conflitos de todos os
lados.
Há entre pai e mãe, e mais ainda entre filhos e pais, onde todos se
comportam
com a mais absoluta intimidade, sem nenhuma cerimônia, como se cada um fosse
dono da verdade e fim de papo.
Além de ótimos diálogos tudo transcorre numa sala lindíssima, de uma casa
chiquérrima, dando a impressão de que a briga não é definitiva, apesar do
tom
sem conciliação, como ocorre na maioria das famílias. O mesmo pode ser dito
dos
cenários e figurinos, ambos assinados por
Márcio
Vinícius, e da iluminação, como sempre irretocável, de
Paulo César Medeiros.
A
primeira impressão é a de que
espetáculo
e texto não se levam a sério, e só depois se conclui que como na maioria das
famílias os conflitos parecem irreconciliáveis mas, no próximo encontro está
tudo bem e esquecido, como se nada tivesse acontecido. Os atores estão bem
nos
papéis: Cris Nicolotti é convincente protagonista, seu marido, o
Tadeu
di Pyetro, e ainda, Jussara de Morais, Sílvia Lourenço e
Rafael Maia. Vale ver, afinal ‘only diamonds are forever’.
“Véspera” Texto: Camila Appel Direção: Hudson Senna Com: Cris Nicolotti, Tadeu Di
Pyetro,
Juçara Morais, Silvia Lourenço e Rafael
Maia
Cenário e Figurino:
Márcio Vinicius Iluminação: Paulo César Medeiros Trilha sonora: Fábio Sá
Produção/Administração: Cristina
Sato
e Paulo Ferrer
Onde: Teatro
Itália
- Avenida Ipiranga,
344
-
Centro
Tel.:
(11) 3120-6945
Quando: 6ªs e
sábados,
às
21h,
domingos,
às 19h Até: 08/07
Quanto: R$ 30 e R$
40 Importante: na 1ª
sexta
de cada mês, o ingresso é grátis
Sinceramente, eu acho que não vi a mesma peça que a Professora Doutora Maria Lúcia Candeias. Considero o texto um pastiche (no pior sentido do termo), coalhado de referências vazias a Pirandello, Cocteau, Ionesco e até Bekett. Texto típico de autores jovens (bem instruídos, mas com pouca vivência do exercício da carpintaria teatral).
ResponderExcluirA direção é pretensiosa e oca, não eleva as metáforas do texto a um nível para além da simbologia mais imediata, com cara de anos 80. A aparência meio retrô do cenário não tem nada de chiquérrima - é, por outro lado, decadente e sobrecarregada de elementos muitas vezes desnecessários e mal acabados do ponto de vista da execução cenotécnica. Tudo muito datado em com a aparência exata desta pós-modernidade vazia em que nos aprisionamos (sem qualquer noção de historicidade, um saudosismo de um tempo que os artistas/pensadores da obra nem sequer viveram, uma revolta contra o status-quo do qual os mesmos vieram).
Os personagens são mal desenhados e alguns mal interpretados. Quando assisti, a atriz principal nem sequer havia decorado o texto. Algumas atuações resvalam no farsesco/melodramático (sem que isso seja intencional). Entretanto, Jussara Morais consegue dar profundidade ao aparente caos em que sua personagem se encontra. Seus silêncios são mais eloquentes que a verborragia cansativa dos rebeldes sem causa da burguesia de onde a autora é oriunda.