“Grey Gardens”
‘Baseado em um documentário
cult dos irmãos Maysles, é um excelente exemplo
da atual fascinação dos
Estados Unidos com o - e até mesmo a glorificação do -
fracasso’. - Charles Isherwood, ‘The New
York Times’.
C&N
Com um dos scores mais excitantes e assombrosos dos últimos tempos, Grey Gardens
foi
um musical que deu esperanças aos verdadeiros fãs de musicais. Com uma
música
dolorida, com humor inteligente e ricamente repleta de texturas, composta
por Scott Frankel, e letras tocantes e
também inteligentes de Michael
Korie, o show poderia parecer um dos assuntos menos prováveis para um
musical sério – assim como foram Sweeney Todd e Pacific Overtures.
Na
verdade, o show tem muito mais em
comum
com outro musical de Stephen
Sondheim, Sunday in the Park With George.
Ambos foram criados e desenvolvidos Off-Broadway pela Playwrights Horizons, ambos
exibiam um primeiro e segundo atos bem distintos, separados pela passagem de
muitos anos, no segundo ato de cada peça os atores fazem os descendentes dos
personagens do primeiro ato, e finalmente ambos os shows especulam
dramaturgicamente sobre pessoas que existiram na vida real e eventos
históricos
(embora os eventos de Grey Gardens no segundo ato
não
sejam especulativos – eles se atêm estritamente às particularidades do
filme-documentário cult de mesmo
nome, no qual o musical se baseou).
Grey
Gardens é a história de Edith e Edie Bouvier Beale,
tia e
prima de Jacqueline
Kennedy e proeminentes socialites de East Hampton,
nas
décadas de 1930 e 40. Mas toda a ambição que elas nutriam falhou. Como sua
mansão de 28 quartos, a Grey
Gardens do título, as Beales
passaram a decair até à ruína na década de 1970, tornando-se reclusas
em
um habitat sujo e fedorento que dividiam exclusivamente com os vários gatos
que
adotaram, alguns guaxinins e muitas teias de aranha. Edith, a mãe, tinha aspirações não
realizadas a
ser cantora de ópera, e Edie, a filha, a mesma coisa em relação
ao
showbiz. O casamento de Edith fracassou, e o noivado de Edie terminou no dia da festa de
noivado.
O
show teve uma temporada de sucesso
Off-Broadway e, após um hiato de vários meses, foi igualmente
bem
sucedido na Broadway. Christine
Ebersole, retratando Edith
no
primeiro ato e Edie de
meia-idade no
segundo ato, merecidamente ganhou quase todos os prêmios possíveis da
temporada
e elogios unânimes da crítica. Não é exagero falar que
foi
uma das maiores performances da Broadway desde Angela Lansbury em Sweeney Todd. Ebersole mergulhou tão fundo no
personagem que sua atuação transcendeu a interpretação: foi pura ispiração.
Retratando a Edith mais velha no segundo ato, Mary Louise Wilson também foi muito
aclamada. As duas venceram o Tony de Melhor Atriz e Atriz-coadjuvante, em
2007, num total de 10 indicações. (assista aqui a
performance de
Christine Ebersole cantando ‘The Revolutionary Costume for
Today’, na entrega do Tony).
Dois CDs
do
musical foram lançados: o Original
Off-Broadway
Cast, 2006 e o Original Broadway
Cast, 2006 (PS
Classics),
revisado e muito mais completo, com trechos dos diálogos e todas as músicas
na
íntegra. No Broadway Cast temos
um
novo número de abertura ‘The Girl Who Has
Everything’, cantado por Edith para Edie como se fosse uma gravação
antiga,
onde as questões da idade, da decadência presente e a glória perdida são
amargamente comentadas. Sua reprise, como o último número, também contribui para um final
mais
arrepiante. O novo ‘Goin'
Places’ define mais adequadamente as
visões
douradas de Edie e o noivo Joe como os futuros inquilinos da
Casa Branca. Da mesma forma ‘Marry
Well’, cantada pelo avô rabugento Major Bouvier para, e juntamente
com, a
neta Edie e seus dois primos
jovens
(a futura Jackie Kennedy e Lee
Radziwill) serve melhor do que o número que substitui na elaboração
da
filosofia da família. No Broadway
Cast nós também temos devidamente ‘The
Telegram’, a despedida de Papa Beale – cortada
do
Off-Broadway
Cast. O CD do Broadway Cast tem um
excelente
som e um encarte amplamente ilustrado e é uma aquisição necessária para
qualquer
amante de musicais.
Ao
contar a história destas
‘duas Edies’ altamente disfuncionais, os
criadores do show não se contentaram em simplesmente musicar um
filme-documentário cult. Fizeram
mais. Criaram uma sequela na abertura do musical, examinando a dinâmica
extremamente complicada de mãe/filha em um momento decisivo crucial. Após um
breve prólogo situado em 1973, o primeiro ato se desenrola uns trinta
anos que antecedem a filmagem do documentário (assista aqui o
documentário
na íntegra), em uma importante tarde na mansão da família. O número de
abertura,
‘The
Five-Fifteen’, estabelece a ação
brilhantemente,
introduzindo os personagens.
Outro documentário,
Grey Gardens: From East Hampton to
Broadway (Indeppendent Lens, 2007) foi realizado retratando o
making-off
e mais tarde exibido na rede pública de TV PBS (assista aqui o comercial
do
documentário).
Grey
Gardens acabou sendo nomeado o
show nº 1 de 2006 pela revista Times e certamente foi seu
sucesso que originou a adaptação para um filme de TV, desta
vez em
forma de drama, pela HBO. Estrelando Jessica Lange e Drew Barrymore foi o telefilme mais
premiado de 2009, conquistando entre inúmeros prêmios o Emmy e o Globo de Ouro de Melhor Filme para a TV, e
premiando igualmente suas atrizes
(assista aqui o trailer do
filme).
Cláudio Erlichman
é
publicitário
e produtor
cultural.
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