19 de junho de 2012

“Grey Gardens”


Grey Gardens
Baseado em um documentário cult dos irmãos Maysles, é um excelente exemplo da atual fascinação dos Estados Unidos com o - e até mesmo a glorificação do - fracasso’. - Charles Isherwood, The New York Times.
C&N

Com um dos scores mais excitantes e assombrosos dos últimos tempos, Grey Gardens foi um musical que deu esperanças aos verdadeiros fãs de musicais. Com uma música dolorida, com humor inteligente e ricamente repleta de texturas, composta por Scott Frankel, e letras tocantes e também inteligentes de Michael Korie, o show poderia parecer um dos assuntos menos prováveis para um musical sério – assim como foram Sweeney Todd e Pacific Overtures.
Na verdade, o show tem muito mais em comum com outro musical de Stephen Sondheim, Sunday in the Park With George. Ambos foram criados e desenvolvidos Off-Broadway pela Playwrights Horizons, ambos exibiam um primeiro e segundo atos bem distintos, separados pela passagem de muitos anos, no segundo ato de cada peça os atores fazem os descendentes dos personagens do primeiro ato, e finalmente ambos os shows especulam dramaturgicamente sobre pessoas que existiram na vida real e eventos históricos (embora os eventos de Grey Gardens no segundo ato não sejam especulativos – eles se atêm estritamente às particularidades do filme-documentário cult de mesmo nome, no qual o musical se baseou).
Grey Gardens é a história de Edith e Edie Bouvier Beale, tia e prima de Jacqueline Kennedy e proeminentes socialites de East Hampton, nas décadas de 1930 e 40. Mas toda a ambição que elas nutriam falhou. Como sua mansão de 28 quartos, a Grey Gardens do título, as Beales passaram a decair até à ruína na década de 1970, tornando-se reclusas em um habitat sujo e fedorento que dividiam exclusivamente com os vários gatos que adotaram, alguns guaxinins e muitas teias de aranha. Edith, a mãe, tinha aspirações não realizadas a ser cantora de ópera, e Edie, a filha, a mesma coisa em relação ao showbiz. O casamento de Edith fracassou, e o noivado de Edie terminou no dia da festa de noivado.
O show teve uma temporada de sucesso Off-Broadway e, após um hiato de vários meses, foi igualmente bem sucedido na Broadway. Christine Ebersole, retratando Edith no primeiro ato e Edie de meia-idade no segundo ato, merecidamente ganhou quase todos os prêmios possíveis da temporada e elogios unânimes da crítica. Não é exagero falar que foi uma das maiores performances da Broadway desde Angela Lansbury em Sweeney Todd. Ebersole mergulhou tão fundo no personagem que sua atuação transcendeu a interpretação: foi pura ispiração.
Retratando a Edith mais velha no segundo ato, Mary Louise Wilson também foi muito aclamada. As duas venceram o Tony de Melhor Atriz e Atriz-coadjuvante, em 2007, num total de 10 indicações. (assista aqui a performance de Christine Ebersole cantando The Revolutionary Costume for Today’, na entrega do Tony).
Dois CDs do musical foram lançados: o Original Off-Broadway Cast, 2006 e o Original Broadway Cast, 2006 (PS Classics), revisado e muito mais completo, com trechos dos diálogos e todas as músicas na íntegra. No Broadway Cast temos um novo número de abertura The Girl Who Has Everything’, cantado por Edith para Edie como se fosse uma gravação antiga, onde as questões da idade, da decadência presente e a glória perdida são amargamente comentadas. Sua reprise, como o último número, também contribui para um final mais arrepiante. O novo ‘Goin' Places’ define mais adequadamente as visões douradas de Edie e o noivo Joe como os futuros inquilinos da Casa Branca. Da mesma forma ‘Marry Well’, cantada pelo avô rabugento Major Bouvier para, e juntamente com, a neta Edie e seus dois primos jovens (a futura Jackie Kennedy e Lee Radziwill) serve melhor do que o número que substitui na elaboração da filosofia da família. No Broadway Cast nós também temos devidamente ‘The Telegram’, a despedida de Papa Bealecortada do Off-Broadway Cast. O CD do Broadway Cast tem um excelente som e um encarte amplamente ilustrado e é uma aquisição necessária para qualquer amante de musicais.
Ao contar a história destas ‘duas Edies’ altamente disfuncionais, os criadores do show não se contentaram em simplesmente musicar um filme-documentário cult. Fizeram mais. Criaram uma sequela na abertura do musical, examinando a dinâmica extremamente complicada de mãe/filha em um momento decisivo crucial. Após um breve prólogo situado em 1973, o primeiro ato se desenrola uns trinta anos que antecedem a filmagem do documentário (assista aqui o documentário na íntegra), em uma importante tarde na mansão da família. O número de abertura, ‘The Five-Fifteen’, estabelece a ação brilhantemente, introduzindo os personagens.
Outro documentário, Grey Gardens: From East Hampton to Broadway (Indeppendent Lens, 2007) foi realizado retratando o making-off e mais tarde exibido na rede pública de TV PBS (assista aqui o comercial do documentário).
Grey Gardens acabou sendo nomeado o show nº 1 de 2006 pela revista Times e certamente foi seu sucesso que originou a adaptação para um filme de TV, desta vez em forma de drama, pela HBO. Estrelando Jessica Lange e Drew Barrymore foi o telefilme mais premiado de 2009, conquistando entre inúmeros prêmios o Emmy e o Globo de Ouro de Melhor Filme para a TV, e premiando igualmente suas atrizes (assista aqui o trailer do filme).
Cláudio Erlichman é publicitário e produtor cultural.

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