“My Funny Valentine” e Lorenz Hart
‘Larry
Hart pode rimar qualquer
coisa... E o
faz’. - Howard
Dietz.
C&N
A canção mais
conhecida do musical “Babes in Arms” é
‘My
Funny Valentine’,
no
entanto é uma das mais anticonvencionais canções de amor. A música foi
introduzida pela ex-garota prodígio Mitzi Green. Sua personagem, Susie Ward canta para Ray Heatherton, cujo personagem se
chama convenientemente Valentine ‘Val’ White. O show estreou em
1937, e é considerado o primeiro ‘verdadeiro’ musical de Rodgers e Hart. Ou seja, esta é a primeira
vez
que eles escreveram o libreto (diálogos) bem como a música e
as
letras. Seu enredo foi o precursor da fórmula ‘Ei, pessoal, vamos fazer um
show!’, que previa o formato para uma
sequência de canções e números de dança, enquanto permitia a inclusão de uma
trama tênue e um desenvolvimento de personagem bem modesto.
O show também é
muito lembrado pela sequência do sonho, um balé de George Balanchine, uma das
primeiras
deste tipo na Broadway. Outras canções
que
fazem parte originalmente de “Babes in Arms” são
‘I Wish I Were in Love
Again’, ‘Where or
When’, ‘The Lady Is a
Tramp’ e ‘Johnny One
Note’.
Em ‘My
Funny Valentine’, Mitzi admite que seu amor
tem
uma aparência ‘risível e infotografável’, que ele não é muito brilhante,
e
que seu corpo não é nenhuma estátua grega (‘is your figure less than greek’). Ainda assim, ela o acha
fascinante e, de forma zombeteira e arcaica, o celebra: ‘Tu não sabes, meu amigo obtuso, a imagem
que
tens feito’ (‘Thou
knowest not, my dim-witted friend,/ the picture thou hast made’).
Mas hoje em dia
muitos sabem que ‘My Funny Valentine’ é praticamente uma música
autobiográfica de seu compositor Lorenz Hart, ou
‘Larry’ como ele preferia ser chamado.
Ele
era um gênio enigmático, uma alma torturada e um profissional brilhante. Sua
carreira começou aos 25 anos quando foi apresentado a Richard Rodgers, então com 17 anos.
Os
dois, filhos de imigrantes judeus, eram diferentes em quase tudo - Rodgers era pontual com uma forte
ética
de trabalho e Hart não – mas
eles
combinavam perfeitamente quando se tratava de escrever canções. Eles
compartilhavam de uma reverência à excelência que resultou em centenas de
músicas clássicas, todas elas, menos uma (Blue
Moon) escritas ou para o palco ou
para as
telas. Apesar de Hart ter feito
um
trabalho adequado para os Irmãos
Shubert em várias operetas não
produzidas, todo o restante de sua carreira passou escrevendo com, e
frustrando,
Richard Rodgers. Hart era baixinho, cabeçudo,
orelhudo,
ou seja, ‘a figure less than greek’, o que fazia dele infeliz com
sua
aparência, principalmente quando foi morar em Hollywood, ao lado de
tantos astros e estrelas. Também tinha problemas em aceitar a sua
homossexualidade, no que não era ajudado pelo estoicismo de Rodgers. Hart começou a beber mais e mais,
forçando Rodgers,
posteriormente, a
completar parte das letras em vários shows. Quando Hart rejeitou a oportunidade de
musicalizar “Green Grow the Lilacs” com
Rodgers, o compositor voltou-se
para Oscar Hammerstein II. Hart assistiu o resultado deste
trabalho que foi, nada mais nada menos, que o revolucionário musical “Oklahoma!”, e amou o show,
tornando
sua insegurança ainda mais aguda. A tentativa de Rodgers em ajudar seu parceiro
consistiu em envolvê-lo em outra produção, uma remontagem de “A
Connecticut Yankee”. A condição de Hart não melhorou com este
trabalho, e
por dois dias após a estreia do show, ele desapareceu. Quando foi encontrado
estava sofrendo de um caso agudo de pneumonia, do qual nunca se recuperou,
vindo
a falecer em 1949, aos 48 anos.
A estrutura simples
e clássica da música “My Funny Valentine” a
faz
ser facilmente adaptada a outros gêneros e perfeita para improviso de
músicos de
jazz. Ela esteve pela primeira vez nas paradas em 1945, numa gravação de Hal McIntyre com
vocais de Ruth Gaylor. Após ‘My
Funny Valentine’ ser
gravada por Chet Baker, Frank Sinatra e
Miles Davis, se
tornou um standard popular do jazz, aparecendo em mais de 1300 álbuns,
gravada
por mais de 600 artistas que vão de Ella Fitzgerald a
Dolores Duran,
de Linda
Ronstadt a
Anita Baker, por
Matt Damon (em O
Talentoso Ripley) a Michelle Pfeiffer
(em
Susie E os Baker Boys), por Joshua Bell e Kristin
Chenoweth, e por Samuel Larsen no
Projeto Glee, dentre
outros.
Aproveito a data de
hoje, do Dia dos Namorados, para
desejar, ao som de My Funny Valentine, que a mágica
do
amor invada seu coração.
Cláudio Erlichman
é
publicitário
e produtor
cultural.
Nenhum comentário:
Postar um comentário