12 de junho de 2012

“My Funny Valentine” e Lorenz Hart


My Funny Valentine e Lorenz Hart
Larry Hart pode rimar qualquer coisa... E o faz’. - Howard Dietz.
C&N
A canção mais conhecida do musical “Babes in Arms é My Funny Valentine’, no entanto é uma das mais anticonvencionais canções de amor. A música foi introduzida pela ex-garota prodígio Mitzi Green. Sua personagem, Susie Ward canta para Ray Heatherton, cujo personagem se chama convenientemente Valentine Val White. O show estreou em 1937, e é considerado o primeiro ‘verdadeiro’ musical de Rodgers e Hart. Ou seja, esta é a primeira vez que eles escreveram o libreto (diálogos) bem como a música e as letras. Seu enredo foi o precursor da fórmula Ei, pessoal, vamos fazer um show!’, que previa o formato para uma sequência de canções e números de dança, enquanto permitia a inclusão de uma trama tênue e um desenvolvimento de personagem bem modesto.
O show também é muito lembrado pela sequência do sonho, um balé de George Balanchine, uma das primeiras deste tipo na Broadway. Outras canções que fazem parte originalmente de “Babes in Arms” são ‘I Wish I Were in Love Again’, Where or When’, ‘The Lady Is a Tramp e Johnny One Note’.
EmMy Funny Valentine’, Mitzi admite que seu amor tem uma aparência ‘risível e infotografável’, que ele não é muito brilhante, e que seu corpo não é nenhuma estátua grega (‘is your figure less than greek’). Ainda assim, ela o acha fascinante e, de forma zombeteira e arcaica, o celebra: ‘Tu não sabes, meu amigo obtuso, a imagem que tens feito’ (‘Thou knowest not, my dim-witted friend,/ the picture thou hast made’).
Mas hoje em dia muitos sabem que ‘My Funny Valentine é praticamente uma música autobiográfica de seu compositor Lorenz Hart, ou ‘Larry’ como ele preferia ser chamado. Ele era um gênio enigmático, uma alma torturada e um profissional brilhante. Sua carreira começou aos 25 anos quando foi apresentado a Richard Rodgers, então com 17 anos. Os dois, filhos de imigrantes judeus, eram diferentes em quase tudo - Rodgers era pontual com uma forte ética de trabalho e Hart não – mas eles combinavam perfeitamente quando se tratava de escrever canções. Eles compartilhavam de uma reverência à excelência que resultou em centenas de músicas clássicas, todas elas, menos uma (Blue Moon) escritas ou para o palco ou para as telas. Apesar de Hart ter feito um trabalho adequado para os Irmãos Shubert em várias operetas não produzidas, todo o restante de sua carreira passou escrevendo com, e frustrando, Richard Rodgers. Hart era baixinho, cabeçudo, orelhudo, ou seja, ‘a figure less than greek’, o que fazia dele infeliz com sua aparência, principalmente quando foi morar em Hollywood, ao lado de tantos astros e estrelas. Também tinha problemas em aceitar a sua homossexualidade, no que não era ajudado pelo estoicismo de Rodgers. Hart começou a beber mais e mais, forçando Rodgers, posteriormente, a completar parte das letras em vários shows. Quando Hart rejeitou a oportunidade de musicalizar “Green Grow the Lilacs” com Rodgers, o compositor voltou-se para Oscar Hammerstein II. Hart assistiu o resultado deste trabalho que foi, nada mais nada menos, que o revolucionário musical “Oklahoma!”, e amou o show, tornando sua insegurança ainda mais aguda. A tentativa de Rodgers em ajudar seu parceiro consistiu em envolvê-lo em outra produção, uma remontagem de “A Connecticut Yankee”. A condição de Hart não melhorou com este trabalho, e por dois dias após a estreia do show, ele desapareceu. Quando foi encontrado estava sofrendo de um caso agudo de pneumonia, do qual nunca se recuperou, vindo a falecer em 1949, aos 48 anos
A estrutura simples e clássica da música “My Funny Valentine” a faz ser facilmente adaptada a outros gêneros e perfeita para improviso de músicos de jazz. Ela esteve pela primeira vez nas paradas em 1945, numa gravação de Hal McIntyre com vocais de Ruth Gaylor. Após ‘My Funny Valentine’ ser gravada por Chet Baker, Frank Sinatra e Miles Davis, se tornou um standard popular do jazz, aparecendo em mais de 1300 álbuns, gravada por mais de 600 artistas que vão de Ella Fitzgerald a Dolores Duran, de Linda Ronstadt a Anita Baker, por Matt Damon (em O Talentoso Ripley) a Michelle Pfeiffer (em Susie E os Baker Boys), por Joshua Bell e Kristin Chenoweth, e por Samuel Larsen no Projeto Glee, dentre outros.
Aproveito a data de hoje, do Dia dos Namorados, para desejar, ao som de My Funny Valentine, que a mágica do amor invada seu coração.
Cláudio Erlichman é publicitário e produtor cultural.

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