26 de junho de 2012

“Para Roma Com Amor”


Para Roma Com Amor

Para ser apreciado com espírito italiano.
C&N

É bom ver como Woody Allen, do alto dos seus 76 anos, ainda consegue manter sua leveza, seu bom humor e seu eternamente apurado senso crítico. É bom ver que o envelhecimento não está nas certidões de nascimento. É bom ver “Para Roma Com Amor”, o mais recente trabalho do cineasta, um filme leve, divertido, totalmente livre e descompromissado. Como um passeio pela Cidade Eterna.
EmPara Roma Com AmorAllen presta uma homenagem às antigas comédias italianas dos anos 1960. Daquelas feitas em episódios. Ele não divide seu filme, contudo, em pequenas histórias estanques, como faziam os produtores italianos daquela época, preferindo, sim, contar três historietas que caminham de forma paralela. Ou seja, elas não se encontrarão. Acho engraçado quando algum texto diz que determinado filme conta histórias paralelas que se encontram, pois no meu tempo de colégio as paralelas nunca se encontravam. Mas isso é outra história.
No filme de Allen, há um homem comum, extremamente igual a tantos outros, que repentinamente, sem nenhum motivo aparente, é eleito pela mídia para ser “o famoso do momento”. O cineasta retoma aqui o tema do vazio da fama instantânea, que ele já havia dissecado em “Celebridades”. Falando em cinema italiano, há nesta trama algo de “Belíssima”, de Visconti, mas sem nenhuma pretensão de sequer arranhar o conteúdo do velho mestre. Também é clara a referência aos paparazzi, personagem batizado a partir de um fotógrafo do filme “A Doce Vida”, de Fellini.
Fellini também está presente – e muito – em outra história de “Para Roma Com Amor”: um casal do interior chega à capital para encontrar parentes ilustres. Ele, preocupado em fazer uma boa imagem junto aos tios e primos. Ela, sonhadora, se perde pelas ruas de Roma, e acaba flertando com o mundo das artes e espetáculos. Impossível não lembrar de “O Abismo de um Sonho”, de Fellini, que tem uma trama parecidíssima. Se fosse um filme meu, seria plágio. Como é de Allen, é referência.
E a terceira trama fala de um agente funerário dono de uma voz extraordinária para a ópera, mas que só consegue cantar bem se for debaixo de seu chuveiro. Um produtor aposentado (papel vivido pelo próprio Allen, que não aparecia nas telas desde “Scoop”, de 2006) quer de qualquer forma levá-lo ao show business. Mas e o chuveiro?
Para Roma Com Amor”, é um filme para ser apreciado com espírito italiano: sem grandes exigências, deixando as emoções fluírem, mantendo o riso solto e a paixão à flor da pele. Está longe de ser um dos melhores trabalhos de Woody Allen, mas é refrescante e bem-vindo com um belo espumante no final da tarde.
Para Roma Com Amor (“To Rome with Love - EUA/Itália/Espanha - 2012 - 102’) Direção: Woody Allen Com: Ellen Page, Woody Allen, Jesse Eisenberg, Penélope Cruz, Alec Baldwin, Roberto Benigni, Judy Davis e Ornella Muti, entre outros.
Distribuição: Paris Filmes

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