“Os
Vingadores”
O longa funciona como um eficiente estudo de personagem.
C&N
“Os
Vingadores” (“The
Avengers”, 2012) é uma balada nerd sem precedentes; colorida, alegre,
empolgante, de pensamento pra frente, positivo. E o mais importante:
funciona
para todos os tipos de adultos, dos oito aos 80 anos. Fãs ou não das HQs da
Marvel. Um contraponto bem dado à tendência de adaptar essas
histórias para o cinema em forma e conteúdo sombrios. Como se isso fosse
requisito obrigatório para que um público mais inteligente pudesse ser capaz
de
levar a temática a sério. Bobagem. Basta o filme ser bem escrito, dirigido e
atuado. Precisa ser bom. Ponto.
Nada contra o
que
Christopher Nolan faz nos filmes do Homem-Morcego. Funcionou. O
problema
em Hollywood é a tendência. O Batman, cavaleiro das
trevas,
deu certo. O casamento do herói com as sombras foi amor à primeira vista. Só
que
para a indústria isso serviu de desculpa para o blockbuster ideal
ganhar
em pessimismo, poucas cores e mais violência.
“Os
Vingadores” é o filme dos sonhos da
Marvel, editora falida que se tornou estúdio de primeira linha
no
cinema. Mais errou que acertou ao conduzir “Homem de Ferro
2” e “Capitão América”, por exemplo,
como
meros trampolins para se chegar até aqui. A estratégia foi discutível. Mas,
ora,
vejam só, não é que deu certo? O resultado é um dos melhores filmes de
super-heróis já feitos. E o melhor da Marvel. Ficou sob os
cuidados de Joss Whedon, um dos maiores nerds que esse mundo
já
criou. Fez séries como “Buffy”, “Angel”,
“Firefly” e se aventurou até pelos quadrinhos.
Não
tinha muito como dar errado.
Ele pode não inovar
como cineasta, mas mantém a direção desse trem no caminho certo. Na atual
conjuntura está bom demais. Até porque temos um Michael Bay mais
prestigiado do que ele na indústria. O Sr. Bay precisa ver e rever o
clímax empolgante de “Os Vingadores”
para
aprender como se filma ação sem ofender a inteligência da plateia,
deixando-a
ver tudo o que está acontecendo e permitindo que cada um dos espectadores
possa
se importar com quem vive ou morre na tela.
E
por que Joss Whedon consegue?
Simples. Ele tem a ousadia de confiar naquele que paga ingresso, exigindo
dele
apenas um pouco de paciência e atenção para acompanhar a construção da trama
e
de seus personagens. “Os Vingadores” reúne o Homem de
Ferro (Robert Downey Jr.), Capitão América (Chris
Evans),
Thor (Chris Hemsworth), Hulk (Mark Ruffalo),
Viúva Negra (Scarlett Johansson) e Gavião
Arqueiro
(Jeremy Renner). Você já conhece esses personagens. Dos quadrinhos ou dos
filmes. Whedon podia muito bem deixar as apresentações pra lá e
partir
para a correria e a porrada. Mas ele sabe que o cinemão americano está
emburrecendo. Whedon é um inteligente contador de histórias, atento
para
os detalhes. Hollywood acha que seu público deixa o senso crítico do
lado
de fora do cinema. Whedon sabe que a plateia precisa ser conquistada a cada
filme.
O
diretor entendeu que não importa se a
gente conhece esses heróis há tempos. Notou que o público precisa se
importar
com eles NESTE filme. Portanto, “Os Vingadores”, para um
blockbuster do século 21, até que começa com pouca ou quase nenhuma
ação.
Whedon constrói lentamente a trama e os elos entre os heróis, que em
primeiro lugar lutarão contra seus próprios egos para depois se unirem em
nome
da salvação do Planeta.
Desculpe-me se
você
não admite que filmes assim possam ter bons roteiros, mas Joss Whedon
(com a ajuda de Zak Penn) além de costurar bem a narrativa sem abrir
mão
de muita ação, entregou ótimos diálogos (a maioria deles para Robert
Downey
Jr.) e não deixou ninguém de lado. Todos os atores têm seus momentos.
Até
Scarlett Johansson e Jeremy Renner - com seus heróis menos famosos -
não
são coadjuvantes e desempenham papéis fundamentais na trama. Quando
Whedon coloca seus protagonistas para brigar entre si não se trata de
delírio nerd gratuito. É uma forma bem sacada de levar a narrativa
adiante sem deixar de desenvolver os laços entre os personagens - e unindo o
útil ao agradável para Hollywood, que é o fato de não abrir mão do
espetáculo. E quando todos eles estão juntos no fim botando pra quebrar nas
ruas
de Nova York (por favor, deixe pra lá qualquer analogia ao 11 de
setembro) é impossível não vibrar, torcer e rir muito. Você já está fisgado.
E
isso é roteiro. É direção. É o trabalho de um cineasta
apaixonado.
Algumas saídas
imaginadas por Whedon chegam a ser imprevisíveis. Muitas delas
protagonizadas pela carta na manga do filme: o Hulk. O
Gigante Esmeralda nunca esteve tão bem retratado nas telas. Tanto na
versão humana quanto na… verde. Parte disso é mérito de Mark Ruffalo,
demonstrando uma serenidade que contrasta perfeitamente com a explosão do
monstro. Outra parte está na genialidade da Industrial Light &
Magic. Mas as duas partes não convenceriam sem (novamente) um
roteiro
bem feito. Acredite: você vai adorar o Hulk.
E
vai gostar muito de Tom
Hiddleston
como o vilão Loki. Irônico, consciente de sua ameaça para a
Terra
ao mesmo tempo em que tenta esconder os medos do personagem,
Loki,
por Hiddleston, é irresistível, extraordinário. Seu vilão quase não
grita. Pelo contrário, está quase sempre sorrindo. É muito bom odiá-lo. No
único
momento em que Loki perde a linha, logo na frente do
Hulk, “Os Vingadores” ganha uma de suas melhores
cenas. Falando nisso, difícil é escolher a melhor cena do filme.
Raridade.
Se
Whedon leva a fantasia a sério, ele sabe também que um filme desses
precisa de humor nas cenas certas. Nunca de forma idiota ou infantil. É
humor
inserido com precisão cirúrgica, nascido da amizade, dos diálogos entre
amigos
de longa data. A cumplicidade que vem das inevitáveis risadas sinceras da
plateia prova que somos todos nerds. E Whedon deita e rola,
tirando proveito disso.
Lamento somente
saber que a trilha sonora que não fede nem cheira é assinada por Alan
Silvestri. Estamos falando simplesmente do responsável por trilhas
eternas
de filmes como “De Volta Para o Futuro”
e
“Forrest Gump”. Só isso. Mas talvez não seja culpa dele. É
sinal
dos tempos. Hoje, muitos acham que a trilha ininterrupta e grandiosa, marca
registrada de gênios como Silvestri, atrapalha o filme. Acredito que
produções
especiais como “Os Vingadores” clamam por uma trilha
diferenciada,
que ainda valha a pena ser escutada longe do cinema. Pena. Ao menos, fico
feliz
por ver o nome de Alan Silvestri ainda na ativa.
“Os Vingadores” (“The Avengers” - EUA - 2012 - 142’) Direção: Joss Whedon Com: Robert Downey
Jr.,
Chris Evans, Mark Ruffalo, Chris
Hemsworth, Scarlett Johansson, Jeremy
Renner,
Tom Hiddleston, Clark Gregg, Cobie
Smulders, Stellan Skarsgård, Samuel L.
Jackson, Gwyneth Paltrow, Paul Bettany,
Alexis
Denisof e Tina Benko, entre outros.
Distribuição: Walt Disney
Pictures
Acesse: www.hollywoodiano.com.
Nenhum comentário:
Postar um comentário