10 de maio de 2012

“Os Vingadores”


Os Vingadores
O longa funciona como um eficiente estudo de personagem.
C&N
Os Vingadores (“The Avengers”, 2012) é uma balada nerd sem precedentes; colorida, alegre, empolgante, de pensamento pra frente, positivo. E o mais importante: funciona para todos os tipos de adultos, dos oito aos 80 anos. Fãs ou não das HQs da Marvel. Um contraponto bem dado à tendência de adaptar essas histórias para o cinema em forma e conteúdo sombrios. Como se isso fosse requisito obrigatório para que um público mais inteligente pudesse ser capaz de levar a temática a sério. Bobagem. Basta o filme ser bem escrito, dirigido e atuado. Precisa ser bom. Ponto.
Nada contra o que Christopher Nolan faz nos filmes do Homem-Morcego. Funcionou. O problema em Hollywood é a tendência. O Batman, cavaleiro das trevas, deu certo. O casamento do herói com as sombras foi amor à primeira vista. Só que para a indústria isso serviu de desculpa para o blockbuster ideal ganhar em pessimismo, poucas cores e mais violência.
Os Vingadores é o filme dos sonhos da Marvel, editora falida que se tornou estúdio de primeira linha no cinema. Mais errou que acertou ao conduzir “Homem de Ferro 2” e “Capitão América”, por exemplo, como meros trampolins para se chegar até aqui. A estratégia foi discutível. Mas, ora, vejam só, não é que deu certo? O resultado é um dos melhores filmes de super-heróis já feitos. E o melhor da Marvel. Ficou sob os cuidados de Joss Whedon, um dos maiores nerds que esse mundo já criou. Fez séries como “Buffy”, “Angel”, “Firefly” e se aventurou até pelos quadrinhos. Não tinha muito como dar errado.
Ele pode não inovar como cineasta, mas mantém a direção desse trem no caminho certo. Na atual conjuntura está bom demais. Até porque temos um Michael Bay mais prestigiado do que ele na indústria. O Sr. Bay precisa ver e rever o clímax empolgante de “Os Vingadores para aprender como se filma ação sem ofender a inteligência da plateia, deixando-a ver tudo o que está acontecendo e permitindo que cada um dos espectadores possa se importar com quem vive ou morre na tela.
E por que Joss Whedon consegue? Simples. Ele tem a ousadia de confiar naquele que paga ingresso, exigindo dele apenas um pouco de paciência e atenção para acompanhar a construção da trama e de seus personagens. “Os Vingadores” reúne o Homem de Ferro (Robert Downey Jr.), Capitão América (Chris Evans), Thor (Chris Hemsworth), Hulk (Mark Ruffalo), Viúva Negra (Scarlett Johansson) e Gavião Arqueiro (Jeremy Renner). Você já conhece esses personagens. Dos quadrinhos ou dos filmes. Whedon podia muito bem deixar as apresentações pra lá e partir para a correria e a porrada. Mas ele sabe que o cinemão americano está emburrecendo. Whedon é um inteligente contador de histórias, atento para os detalhes. Hollywood acha que seu público deixa o senso crítico do lado de fora do cinema. Whedon sabe que a plateia precisa ser conquistada a cada filme.
O diretor entendeu que não importa se a gente conhece esses heróis há tempos. Notou que o público precisa se importar com eles NESTE filme. Portanto, “Os Vingadores”, para um blockbuster do século 21, até que começa com pouca ou quase nenhuma ação. Whedon constrói lentamente a trama e os elos entre os heróis, que em primeiro lugar lutarão contra seus próprios egos para depois se unirem em nome da salvação do Planeta.
Desculpe-me se você não admite que filmes assim possam ter bons roteiros, mas Joss Whedon (com a ajuda de Zak Penn) além de costurar bem a narrativa sem abrir mão de muita ação, entregou ótimos diálogos (a maioria deles para Robert Downey Jr.) e não deixou ninguém de lado. Todos os atores têm seus momentos. Até Scarlett Johansson e Jeremy Renner - com seus heróis menos famosos - não são coadjuvantes e desempenham papéis fundamentais na trama. Quando Whedon coloca seus protagonistas para brigar entre si não se trata de delírio nerd gratuito. É uma forma bem sacada de levar a narrativa adiante sem deixar de desenvolver os laços entre os personagens - e unindo o útil ao agradável para Hollywood, que é o fato de não abrir mão do espetáculo. E quando todos eles estão juntos no fim botando pra quebrar nas ruas de Nova York (por favor, deixe pra lá qualquer analogia ao 11 de setembro) é impossível não vibrar, torcer e rir muito. Você já está fisgado. E isso é roteiro. É direção. É o trabalho de um cineasta apaixonado.
Algumas saídas imaginadas por Whedon chegam a ser imprevisíveis. Muitas delas protagonizadas pela carta na manga do filme: o Hulk. O Gigante Esmeralda nunca esteve tão bem retratado nas telas. Tanto na versão humana quanto na… verde. Parte disso é mérito de Mark Ruffalo, demonstrando uma serenidade que contrasta perfeitamente com a explosão do monstro. Outra parte está na genialidade da Industrial Light & Magic. Mas as duas partes não convenceriam sem (novamente) um roteiro bem feito. Acredite: você vai adorar o Hulk.
E vai gostar muito de Tom Hiddleston como o vilão Loki. Irônico, consciente de sua ameaça para a Terra ao mesmo tempo em que tenta esconder os medos do personagem, Loki, por Hiddleston, é irresistível, extraordinário. Seu vilão quase não grita. Pelo contrário, está quase sempre sorrindo. É muito bom odiá-lo. No único momento em que Loki perde a linha, logo na frente do Hulk, “Os Vingadores” ganha uma de suas melhores cenas. Falando nisso, difícil é escolher a melhor cena do filme. Raridade.
Se Whedon leva a fantasia a sério, ele sabe também que um filme desses precisa de humor nas cenas certas. Nunca de forma idiota ou infantil. É humor inserido com precisão cirúrgica, nascido da amizade, dos diálogos entre amigos de longa data. A cumplicidade que vem das inevitáveis risadas sinceras da plateia prova que somos todos nerds. E Whedon deita e rola, tirando proveito disso.
Lamento somente saber que a trilha sonora que não fede nem cheira é assinada por Alan Silvestri. Estamos falando simplesmente do responsável por trilhas eternas de filmes como “De Volta Para o Futuro e “Forrest Gump”. Só isso. Mas talvez não seja culpa dele. É sinal dos tempos. Hoje, muitos acham que a trilha ininterrupta e grandiosa, marca registrada de gênios como Silvestri, atrapalha o filme. Acredito que produções especiais como “Os Vingadores” clamam por uma trilha diferenciada, que ainda valha a pena ser escutada longe do cinema. Pena. Ao menos, fico feliz por ver o nome de Alan Silvestri ainda na ativa.
Os Vingadores (“The Avengers” - EUA - 2012 - 142’) Direção: Joss Whedon Com: Robert Downey Jr., Chris Evans, Mark Ruffalo, Chris Hemsworth, Scarlett Johansson, Jeremy Renner, Tom Hiddleston, Clark Gregg, Cobie Smulders, Stellan Skarsgård, Samuel L. Jackson, Gwyneth Paltrow, Paul Bettany, Alexis Denisof e Tina Benko, entre outros.
Distribuição: Walt Disney Pictures

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