‘Toca
Raul!’
Misturemos as estações.
C&N
Defendo
uma dieta radical para os livreiros. Uma
dieta
cultural diversificada composta por filmes, música e livros. Como o texto
escrito é a base de toda criação, a gente exercita até - se formos radicais,
assim como eu - os caminhos para se chegar ao resultado da adaptação, no
caso do
filme, peça ou encenação terem nascido da costela de uma obra
literária.
Pois nesta
semana
escapei do meu balcão e corri até um cinema próximo - aliás o bairro onde
fica a
livraria deve ter umas vinte salas de cinema num raio de dois mil metros.
Ponto
é tudo, não? Isso sem falar dos botequins, que recebem muito bem os críticos
de
ocasião.
Voltando ao
relato:
lá
fui eu assistir ao documentário “Raul Seixas - o início o fim e
o
meio”, dirigido por Evaldo Mocarzel e Walter Carvalho,
o
Pelé da direção de fotografia e, neste caso, direção geral da
película.
O filme de um pouco mais de duas
horas
traz um Raul íntimo, humano e por isso passível de enganos e
excessos.
Tocante as várias ex-mulheres, que se toleram e se comportam como um harém
flower power. Bacana a ligação com
o
Paulo Coelho e a maneira como o diretor expõe a relação intensa e junkie dos dois. Foi na parceria com
Raul Seixas que o mago deu os seus primeiros passos rumo ao sucesso,
em
canções como ‘Gita’, ‘Eu nasci, há dez mil anos
atrás!’. Só mais tarde ele nasceria como escritor de mais de cem
milhões
de leitores pelo mundo.
Enquanto matava a
saudade e
cantava no escuro baixinho as canções, recordei de um livro que li há muito
tempo, mas que volta sempre à lembrança.
Uma das mulheres do
Raul,
acho
que a Kika, disse que quando ele não estava embriagado exalava aroma
de
flores. Outra ex desmoronou o clima de realismo mágico dizendo que sim, ele
tinha um hálito doce, mas proveniente da diabetes. Quando li “O
Perfume”, de Patrick Suskind, fiquei muito impressionado com
a
narrativa e com o fato do personagem não emanar cheiros: ele era bizarro.
Foi
parido num mercado de peixe na França do séc. XVIII como
Macunaíma e ficou por tempos inerte, berrando em meio às
carcaças
de peixes mortos. Grenouille virou um perfumista, em busca da
humanidade
que viria do mais irresistível aroma exalado por um humano, que ele ansiava
ser.
Ele buscou, mas pagou um preço, Raul era irresistível e também pagou caro -
seu
perfume o matou. O livro do Suskind foi adaptado para o cinema, deu
vontade ver, vou atrás.
Mantenham a dieta
radical,
leiam filmes e assistam livros, misturemos as estações. E depois de tudo terminem num
botequim e
façam comparações bem pessoais, com base na experiência que é só sua, vale à
pena.
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