7 de maio de 2012

‘Toca Raul!’


Toca Raul!

Misturemos as estações.
C&N
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Defendo uma dieta radical para os livreiros. Uma dieta cultural diversificada composta por filmes, música e livros. Como o texto escrito é a base de toda criação, a gente exercita até - se formos radicais, assim como eu - os caminhos para se chegar ao resultado da adaptação, no caso do filme, peça ou encenação terem nascido da costela de uma obra literária.
Pois nesta semana escapei do meu balcão e corri até um cinema próximo - aliás o bairro onde fica a livraria deve ter umas vinte salas de cinema num raio de dois mil metros. Ponto é tudo, não? Isso sem falar dos botequins, que recebem muito bem os críticos de ocasião.
Voltando ao relato: lá fui eu assistir ao documentário “Raul Seixas - o início o fim e o meio”, dirigido por Evaldo Mocarzel e Walter Carvalho, o Pelé da direção de fotografia e, neste caso, direção geral da película.
O filme de um pouco mais de duas horas traz um Raul íntimo, humano e por isso passível de enganos e excessos. Tocante as várias ex-mulheres, que se toleram e se comportam como um harém flower power. Bacana a ligação com o Paulo Coelho e a maneira como o diretor expõe a relação intensa e junkie dos dois. Foi na parceria com Raul Seixas que o mago deu os seus primeiros passos rumo ao sucesso, em canções como ‘Gita’, ‘Eu nasci, há dez mil anos atrás!’. Só mais tarde ele nasceria como escritor de mais de cem milhões de leitores pelo mundo.
Enquanto matava a saudade e cantava no escuro baixinho as canções, recordei de um livro que li há muito tempo, mas que volta sempre à lembrança.
Uma das mulheres do Raul, acho que a Kika, disse que quando ele não estava embriagado exalava aroma de flores. Outra ex desmoronou o clima de realismo mágico dizendo que sim, ele tinha um hálito doce, mas proveniente da diabetes. Quando li “O Perfume”, de Patrick Suskind, fiquei muito impressionado com a narrativa e com o fato do personagem não emanar cheiros: ele era bizarro. Foi parido num mercado de peixe na França do séc. XVIII como Macunaíma e ficou por tempos inerte, berrando em meio às carcaças de peixes mortos. Grenouille virou um perfumista, em busca da humanidade que viria do mais irresistível aroma exalado por um humano, que ele ansiava ser. Ele buscou, mas pagou um preço, Raul era irresistível e também pagou caro - seu perfume o matou. O livro do Suskind foi adaptado para o cinema, deu vontade ver, vou atrás.
Mantenham a dieta radical, leiam filmes e assistam livros, misturemos as estações.  E depois de tudo terminem num botequim e façam comparações bem pessoais, com base na experiência que é só sua, vale à pena. 

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